Por que diagnosticar cedo o câncer é essencial? Veja 17 ações preventivas da OMS

Uma em cada cinco pessoas no mundo desenvolve câncer durante a vida, estima a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Com base em evidências científicas atuais, pelo menos 40% de todos os casos de câncer poderiam ser prevenidos com medidas eficazes de prevenção primária, e a mortalidade adicional pode ser reduzida por meio da detecção precoce de tumores, informa ainda a IARC.

No Brasil, o câncer ocupa o segundo lugar entre as causas mais frequentes de morte no país, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), ligado ao Ministério da Saúde. São esperados 704 mil novos casos da doença no País para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência.

Diante desse cenário, especialistas reforçam que o diagnóstico precoce pode ser decisivo para aumentar as chances de cura e reduzir a mortalidade.

Por que o diagnóstico precoce é importante?

De acordo com Thiago Celestino Chulam, líder do Departamento de Prevenção e Diagnóstico Precoce do A.C. Camargo Cancer Center, o diagnóstico precoce permite intervenções menos agressivas e complexas e mais rápidas, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e reduzindo a taxa de mortalidade.

Ele esclarece que, em muitos casos, a detecção tardia reduz significativamente as opções terapêuticas e impacta os resultados do tratamento.

Segundo o especialista, em relação aos tipos mais frequentes de câncer que ocorrem no país (mama, colo uterino, próstata, pulmão e tumores colorretais) existem protocolos de rastreamento “muito bem estruturados” para diagnosticar a doença o quanto antes. Esses protocolos podem ser recomendados pelo Ministério da Saúde, por exemplo, ou de acordo com as boas práticas médicas aplicadas globalmente.

Quando e como iniciar o rastreio?

Chulam explica ainda que o protocolo de rastreamento e os exames recomendados para detectar a doença variam conforme o tipo de câncer.

Para o câncer de mama, por exemplo, existe a recomendação da mamografia anual a partir de determinada faixa etária (40 anos, segundo o Ministério da Saúde), enquanto a realização do Papanicolau (que detecta câncer de colo de útero) é recomendada a partir dos 21 anos e a colonoscopia (que identifica o câncer colorretal), a partir dos 45 anos.

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Por outro lado, há alguns tipos de câncer para os quais não há consenso, aponta o médico do A.C.Camargo, como os tumores de próstata.

“São uma controvérsia porque, do ponto de vista do Ministério da Saúde, temos pouco respaldo técnico para implementação desse tipo de rastreamento, mas a maior parte das sociedades médicas, inclusive a Sociedade Brasileira de Urologia, recomenda o toque retal e a realização da testagem de PSA para homens a partir dos 50 anos ou antes se houver histórico familiar ou ele for de algum subgrupo específico”, exemplifica o especialista.

“Em alguns cânceres, quando está no início, não é comum a ocorrência de sintomas, por isso é importante a realização de exames preventivos para a detecção precoce”, alerta Lucas Nacif, cirurgião gastrointestinal e membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD).

Atenção ao histórico familiar

O especialista ainda explica que a recomendação para pessoas que possuem histórico familiar se baseia em evidências científicas que indicam que a predisposição genética pode antecipar o desenvolvimento do câncer.

“Se um parente de primeiro grau foi diagnosticado aos 50 anos, o rastreamento deve começar aos 40. Essa antecipação pode salvar vidas, pois aumenta as chances de identificar pólipos [lesões que se formam em estruturas do corpo revestidas de mucosas, como o intestino ou o estômago] antes que se tornem malignos”, complementa o cirurgião.

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O processo de desenvolvimento do câncer (chamado de carcinogênese) é complexo e influenciado por diversas variáveis, como envelhecimento, hereditariedade, hábitos ruins (como tabagismo e dieta rica em ultraprocessados), sedentarismo e poluição do ar, entre outros.

Nem tudo dessa lista pode ser modificado, mas os especialistas destacam que com os exames adequados para cada tipo de câncer, é possível:

• Detectar o tumor ainda em um estágio inicial e restrito a um único órgão;
• Prevenir o avanço da doença, evitando que as células cancerígenas se espalhem para outras áreas do corpo;
• Optar por tratamentos menos invasivos e agressivos;
• Ampliar as possibilidades de sucesso no tratamento;
• Atingir a remissão, ou seja, a ausência parcial ou total dos sintomas da doença.

Neste sentido, especialistas na área e representantes da sociedade civil da América Latina e do Caribe, convocados pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), revisaram as evidências científicas e recomendaram 17 ações que as pessoas podem fazer para ajudar a prevenir o câncer.

Veja a lista completa:

1. Não fume ou use qualquer tipo de tabaco. Se você usa, é possível parar. Se necessário, conte com ajuda profissional. Também não use cigarros eletrônicos, pois levam ao uso de produtos de tabaco;

2. Faça de sua casa um lugar livre da fumaça do tabaco. Respeite e promova as leis que garantem espaços livres de fumaça do tabaco para cuidar da nossa saúde;

3. Mantenha ou atinja seu peso saudável, ao longo da vida, para ajudar a prevenir vários tipos de câncer.

4. Faça atividade física diariamente, ao longo da vida, e limite o tempo que passa sentado. Ser uma pessoa fisicamente ativa ajuda a prevenir vários tipos de câncer.

5. Faça uma alimentação saudável, que considera verduras e frutas em cada refeição, leguminosas como feijão e lentilha e grãos integrais em vez de grãos refinados. Evite o consumo de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados e limite o consumo de carne vermelha e de bebidas em temperaturas muito quentes.

6. Evite o consumo de bebidas alcoólicas para ajudar a prevenir vários tipos de câncer.

7. Amamente, quanto mais meses, melhor, para ajudar a prevenir o câncer de mama e o excesso de peso na criança.

8. Proteja-se da exposição direta ao sol nos horários de maior intensidade para ajudar a prevenir o câncer de pele.

9. Se você cozinha ou aquece sua casa com carvão mineral ou lenha, evite o acúmulo de fumaça dentro de casa.

10. Se houver alta poluição do ar em seu ambiente (externo), limite o tempo em que você passa ao ar livre.

11. Informe-se se o seu trabalho o(a) expõe a substâncias que podem produzir câncer e exija e adote as medidas de proteção recomendadas.

12. A infecção pela bactéria Helicobacter pylori pode causar câncer de estômago. Converse com os profissionais de saúde para ver se você poderia se beneficiar da detecção da bactéria e do tratamento da infecção.

13. Infecções por vírus como os das hepatites B e C, o vírus do papiloma humano (HPV) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) também podem causar câncer. Portanto, a vacinação é essencial, especialmente nas crianças, para prevenir esses casos. Para os adultos, vale conversar com profissionais de saúde para avaliar a detecção e tratamento dos vírus das hepatites B e C para ajudar a prevenir o câncer de fígado e fazer o teste para o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Certifique-se ainda de usar preservativo ou camisinha de forma correta e sistemática.

14. Não faça reposição hormonal na menopausa, a menos que seja indicada pelo seu médico. A reposição hormonal pode causar câncer de mama. O câncer pode ser controlado e curado se for detectado precocemente e tratado no momento certo.

15. Se você tem entre 50 e 74 anos, procure o serviço de saúde e solicite o exame de detecção precoce do câncer de cólon e reto (sangue oculto nas fezes ou colonoscopia).

16. Se você tem 40 anos ou mais, vá ao serviço de saúde a cada dois anos para fazer um exame clínico das mamas. A partir dos 50 até os 74 anos, faça uma mamografia a cada dois anos.

17. Se você tem entre 30 e 64 anos, procure o serviço de saúde e solicite o teste molecular do vírus do papiloma humano (HPV), pelo menos a cada 5 a 10 anos, para detecção precoce do câncer do colo do útero. Pergunte se você mesma pode coletar a amostra. Caso não tenha acesso ao teste de HPV, solicite o teste disponível em seu país.

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