Filme com depoimentos de Eunice Paiva, Clarice Herzog e Thereza Fiel é restaurado e disponibilizado on-line

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‘Eunice, Clarice, Thereza’ reuniu viúvas da ditadura ainda em 1979 (Foto: Reprodução)

Um documentário que reuniu mulheres que se tornaram viúvas devido à ditadura militar no Brasil foi restaurado e está sendo exibido on-line. Em “Eunice, Clarice, Thereza”, o diretor Joatan Berbel reuniu Eunice Paiva, Clarice Herzog e Thereza Fiel, esposas do deputado Rubens Paiva, do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgico Manoel Fiel Filho. Filmado ainda em 1979, o curta foi produzido com ameaça constante de censura e sobreviveu às margens, a partir de exibições em sindicatos, cineclubes e espaços de ativismo. Tantos anos depois, o Cinelimite trabalhou na restauração em 2k e digitalização da obra, realizada a partir de uma cópia combinada preservada no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro. Os interessados podem assistir ao filme gratuitamente no site da organização até o dia 7 de abril, e a obra também será exibida em diversas sessões em cinemas pelo Brasil.

A Tribuna conversou com William Plotnick, co-fundador do Cinelimite, uma organização sem fins lucrativos dedicada à exibição, distribuição e digitalização do cinema brasileiro de repertório, que trabalhou diretamente no projeto. Em entrevista, ele conta como espera que seja a repercussão do filme, considerando o sucesso de “Ainda estou aqui”, e explica como foi feita a nova versão digital, que contou com a supervisão do diretor da obra.

Confira a entrevista completa sobre ‘Eunice, Clarice, Thereza’:

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Documentário foi filmado em 1979 (Foto: Reprodução Cinelimite)

Tribuna: Qual a importância da digitalização de “Eunice, Clarice, Thereza”? Quais foram os desafios para a restauração?

William Plotnick: Antes de tudo, restaurar e preservar qualquer filme brasileiro é fundamental, pois permite que pessoas ao redor do mundo lembrem e compreendam a história do Brasil. A preservação da memória é uma parte essencial da sociedade, garantindo que continuemos avançando no caminho certo.

A restauração deste filme, em particular, é significativa por várias razões. Trata-se de uma obra importante do cinema feminista brasileiro—algo especialmente relevante em nossos tempos. O filme é um registro essencial de três mulheres extraordinariamente corajosas, que carregaram o peso da ditadura em seus ombros ao longo de suas vidas—até hoje, no caso de Clarice Herzog. Além disso, a restauração ganha ainda mais relevância no contexto de “Ainda estou aqui”, que trouxe merecida atenção à história de Eunice Paiva. Agora, o público pode assistir a esse filme e, em seguida, a este curta-metragem, para ver a verdadeira Eunice Paiva e ouvir sua história em primeira mão.

O processo de restauração foi desafiador devido ao estado do filme. Ele acumulou uma quantidade significativa de sujeira e arranhões, exigindo uma limpeza digital minuciosa, quadro a quadro—um processo lento e meticuloso. O filme também apresentava um desbotamento de cores, que precisou ser corrigido para recuperar sua aparência original.

O que a história dessas mulheres diz de atual, e que não deve ser esquecido?

Mulheres ao redor do mundo continuam lutando por justiça em diferentes contextos. Eunice, Clarice e Thereza são heroínas e servem como figuras emblemáticas para qualquer pessoa que se opõe à injustiça social e política. A mensagem central do filme não está necessariamente no que torna única a trajetória de cada uma, mas sim em como suas histórias estão entrelaçadas, apesar de suas origens diferentes. Na verdade, segundo Joatan Berbel, esse filme teve um papel importante em aproximar as três viúvas e fortalecer seus laços.

O momento em que a digitalização está saindo é bastante oportuno, já que a história de Eunice Paiva, graças ao “Ainda estou aqui”, ficou mais conhecida pelo país e atraiu novos olhares. Qual a relação disso e quais aspectos da Eunice podemos conhecer mais com o filme?

Sabíamos que este documentário alcançaria um público mais amplo graças ao impacto de “Ainda estou aqui”. Este curta funcionaria especialmente bem como uma peça complementar antes das exibições de “Ainda estou aqui”, permitindo que o público veja a verdadeira Eunice Paiva e testemunhe o profundo trauma que ela sofreu—não apenas no caso de Rubens, mas também com sua própria prisão, que ela discute no filme. É uma experiência poderosa assistir “Ainda estou aqui”, com a incrível interpretação de Fernanda Torres, e depois ver a verdadeira Eunice, tornando a história ainda mais impactante.

O cineasta Joatan Berbel acompanhou a restauração. Qual a importância da parceria com o diretor neste momento?

A participação de Joatan Berbel foi fundamental. Ele teve um papel essencial na localização de uma cópia preservada do filme no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Durante todo o processo de restauração, seus insights e comentários foram inestimáveis, garantindo que tomássemos as decisões corretas para restaurar o filme da melhor forma possível.

Este ano, o Governo Federal anunciou que terá um streaming público para filmes brasileiros. Vocês consideram que essa iniciativa vai ajudar que filmes como esse não fiquem “esquecidos” pelo público?

Sem dúvida. A exibição e a difusão do cinema nacional são essenciais para manter a cultura e a memória vivas na consciência do público. Tenho certeza de que essa plataforma de streaming terá um impacto significativo.

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