“La Mer”: 5 curiosidades sobre a música gravada por Caetano Veloso

No último dia 23 de fevereiro, Caetano Veloso lançou, nas plataformas musicais, uma versão para o clássico “La Mer”, de Charles Trenet

Patrícia Cassese | Editora Assistente

No último dia 23 de fevereiro, uma sexta-feira, o cantor e compositor Caetano Veloso lançou, nas plataformas de música, a leitura que fez para “La Mer”, ou seja, para um verdadeiro clássico do cancioneiro francês. Composta por Charles Trenet (1913 – 2001), em 1943, a música estourou mundo afora, tendo inclusive ganhado versões em vários países. Assim, a composição ganhou leituras de nomes como Dalida, Mireille Mathieu, Frank Sinatra e George Benson, bem como de Julio Iglesias, entre outros.

De antemão, no caso do mais recente lançamento, o que traz a canção na voz de Caetano, trata-se de um fonograma da trilha sonora do documentário francês “Une Famille”, de Christine Angot. O filme, de viés autobiográfico, vale dizer, está na seleção oficial do Festival de Berlim. Confira, a seguir, curiosidades sobre “La Mer”. Do mesmo modo, sobre a relação de Caetano com esta música e, tal qual, num espectro mais amplo, com a chanson française.

No cinema

Cena final do filme "As Férias de Mr. Bean", no qual o elenco canta "La Mer" (frame) — Cena final do filme “As Férias de Mr. Bean”, no qual o elenco canta “La Mer” (frame)

Trata-se de uma música que integra a trilha sonora de vários filmes. Uma das cenas mais populares é a do final do filme “As Férias de Mr. Bean”, quando o personagem interpretado por Rowan Atkinson já chegou a Cannes, após várias peripécias. A cidade do Sul da França está em plena efervescência de mais uma edição da Festa de Cinema. A cena mostra os personagens do longa na praia, dançando ao som de “La Mer”. Além de Atkinson, a curiosidade é ver Willem Dafoe na cena, que, no filme, interpreta um diretor de cinema. Outro filme no qual a música aparece é na cena inicial de “Doce Veneno”, que traz Vincent Cassel e François Cluzet (abaixo, frame do longa).

A história da gravação

No perfil oficial de Caetano Veloso no Instagram, o artista falou sobre o processo que o levou a gravar “La Mer”: “Guilherme Araújo era meu empresário. Passou anos pedindo pra eu cantar ‘La Mer’. Eu gostava imensamente dele. Prometia aprender direito a canção e cantar numa próxima temporada. Sempre adiando. Quando ele morreu, senti. Numa apresentação em Paris, cantei ‘La Mer’ em homenagem póstuma a ele. A escritora Christine Angot estava na plateia. Acho que ficou tão comovida quanto eu, já que, ao concluir um filme sobre sua própria vida, me pediu que gravasse a música como o fiz há anos em Paris: sozinho ao violão e em andamento ultra lento. Assim gravei”.

Abaixo, Christine Angot em cena de “Une Famille”

“Dans Mon Île”

Desde já, diga-se que esta não é a primeira vez que Caetano Veloso interpreta um clássico da música francesa. Assim, ele já havia colocado a voz a serviço de “Dans Mon Île”, de Arland Maurice/Henri Salvador. A música foi originalmente interpretada por Salvador (1917 – 2008), que nasceu na Guiana Francesa. Ele morou durante um período no Rio de Janeiro, na década de 1940. Nesse sentido, mesmo tendo ido depois morar em Paris, continuou convivendo com artistas brasileiros, como Gilberto Gil e Caetano Veloso. Daí, em 1091, Caetano lançou a leitura de “Dans Mon Île”, no álbum “Outras Palavras” (abaixo, reprodução da capa).

Sucesso mundo afora

Ao longo dos anos, “La Mer” foi gravada por vários artistas. Aliás, o primeiro registro, em 1945, foi feito pelo cantor Roland Gerbeau (1919 – 2012). Só no ano seguinte o próprio Charles Trenet a registrou. Outros nomes icônicos da música francesa também quiseram dar as próprias versões da composição, caso de Mireille Mathieu, hoje com 77 anos, e de Dalida (1933 – 1987), cantora nascida no Egito, mas que desde nova foi morar na França. O pianista Richard Clayderman também lançou uma versão, assim como Ray Conniff e Orquestra e Julio Iglesias. E, ainda, Laura Fygi, Chantal Chamberland e muitos outros. A versão em inglês, “Beyond The Sea”, foi lançada por Bobby Darin, mas também registrada em vozes potentes como as de Django Reinhardt, Françoise Hardy, George Benson e Frank Sinatra.

O compositor de “La Mer”

Louis Charles Augustin-Claude Trenet, ou simplesmente Charles Trenet, nasceu em Narbonne, e teve uma infância e adolescência bem sofridas. Já adulto, conviveu com o preconceito (por ser homossexual) e, ainda, foi perseguido por forças antissemitas, ao ser acusado de trocar o sobrenome (o que não procedia) para esconder a origem judia. A música “La Mer” foi composta por ele durante uma viagem de trem, e descrevia o impacto ao ver o Mar Mediterrâneo. Vale lembrar que a música foi escrita em plena Segunda Guerra Mundial.

Compositor profícuo, Trenet deixou centenas de composições, de muito sucesso, como “Que reste-t-il de nos amours?”, mas, sem dúvida alguma, “La Mer” foi a que mais repercutiu mundo afora. Em 1952, a música ganhou o Grand Prix du Disque da Académie Charles Cros. Já em 2001, foi eleita a “Canção do Século”, em uma votação de franceses. Ele também recebeu a Légion d’Honneur, ordem máxima da França.