Investidores aceleram rotação de capital e buscam oportunidades fora dos EUA

O Stock Pickers desta semana trouxe um debate aprofundado sobre a atual rotação de investimentos no mercado global. Apresentado por Lucas Collazo e Henrique Esteter, o programa contou com a participação de Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos, e Raphael Figueredo, conhecido como Rafi, estrategista de renda variável da XP.

Os especialistas analisaram a fraca performance dos Estados Unidos no início do ano. O S&P 500 chegou a cair 10% em relação às máximas anteriores, fechando o trimestre com uma desvalorização de 5%. O Nasdaq registrou um recuo ainda mais acentuado, acima de 10% no mesmo período. Enquanto isso, as bolsas globais seguiram um movimento oposto: a Europa subiu mais de 15%, a China avançou mais de 20% e o Brasil, em dólares, acumulou uma alta de quase 17%.

Para fora dos EUA

A principal explicação para essa divergência, segundo Ferreira, é uma rotação acelerada de capital para fora dos Estados Unidos. Esse movimento já havia sido sinalizado no relatório “Onde Investir”, publicado no fim de 2024, que indicava oportunidades além das gigantes da tecnologia americana, as chamadas “Magnificent Seven”. O documento destacava que o prêmio de valuation das ações americanas atingia um patamar histórico, com o S&P 500 negociando quase 10 pontos acima das demais bolsas globais em termos de preço/lucro.

Com o fraco desempenho do mercado americano e a valorização das bolsas internacionais, essa diferença começou a se fechar. Atualmente, o S&P 500 opera próximo de 20 vezes o lucro, enquanto os mercados globais giram em torno de 14 vezes, reduzindo o gap para seis pontos. Apesar da correção, o valuation das ações americanas ainda está acima da média histórica.

Fluxo de investimentos

A rotação também é visível no fluxo de investimentos. Fundos quantitativos e CTAs (trend followers) reduziram a exposição ao mercado americano nos últimos meses. No entanto, Figueredo destacou que, apesar da recente queda, as big techs continuam sendo um grande consenso global, apoiadas pela tese de inteligência artificial.

O investidor de varejo também tem desempenhado um papel crucial na manutenção do mercado americano, continuando a comprar ações mesmo com a saída dos institucionais. A mentalidade de que “a bolsa só sobe”, desenvolvida nos últimos anos, ainda direciona parte do fluxo para o setor de tecnologia.

Big techs mantêm relevância

Ferreira argumentou que a tese de inteligência artificial segue válida. Empresas como a Nvidia viram sua receita crescer exponencialmente com a demanda por chips de IA. Além disso, o valuation das gigantes tecnológicas passou por ajustes, tornando-se mais sustentável. O Google, por exemplo, negocia a 16-17 vezes o lucro, enquanto a Amazon, que já chegou a valer 100 vezes seus ganhos, agora opera na faixa de 30 vezes.

Impacto político

Outro fator que pode influenciar a rotação de investimentos é a incerteza política nos Estados Unidos. A possibilidade de uma nova gestão Trump e mudanças na política econômica podem afetar a confiança do consumidor e das empresas. Segundo Ferreira, muitos empresários anteciparam importações para evitar possíveis tarifas futuras, o que pode distorcer o crescimento do PIB americano nos próximos trimestres.

A desvalorização do dólar no primeiro trimestre também beneficiou mercados emergentes, fortalecendo o fluxo para outras regiões. No entanto, há um risco de que a economia americana enfrente um “sudden stop” caso a incerteza política se agrave e comprometa a confiança empresarial e do consumidor.

Com um cenário global em transição, a tendência de rotação de investimentos deve permanecer no radar dos analistas e investidores, à medida que o mercado se ajusta a novas dinâmicas e oportunidades fora dos Estados Unidos.

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