
Durante o ato bolsonarista na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (6), os parlamentares de extrema-direita alternaram entre a defesa de anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023 e ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e pressão sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar o projeto de lei sobre o tema.
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos mais contundentes em seu discurso, dirigindo críticas diretas a Moraes: “Gente como o Alexandre de Moraes, ditadores de toga, principalmente, se utilizou do dia 8 para nos amedrontar, se lascou. Olha a gente aqui. Essa é a resposta para você, seu covarde”.
“Se botar a proposta hoje na Câmara, passa com toda certeza. Temos tido um trabalho de bastidores, um trabalho de sensibilizar os deputados e eu não tenho dúvidas que já temos votos suficientes”, declarou o bolsonarista a fim de convencer Motta a seguir com o projeto na casa legislativa.
As declarações do parlamentar, no entanto, trazem informações falsas sobre processos judiciais em andamento. Ao falar sobre o caso de Débora Rodrigues, flagrada pichando a estátua “A Justiça” em frente ao Supremo, Nikolas e os demais bolsonaristas argumentam que ela foi “condenada pela pichação”.
No entanto, o veredito de 14 anos de prisão determinado pelo STF se deu aos cinco crimes de multidão cometidos por ela: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado com violência, associação criminosa armada e deterioração de patrimônio tombado.
Em outro momento, durante seu discurso, Nikolas convocou seus seguidores a pedirem a saída de Moraes do STF: “Quem deseja o Xandão fora dê um grito”, iniciou em sua provocação. “Alexandre de Moraes, o Brasil não tem medo de você”, concluiu.
@STF_oficial @MPF_PGR @policiafederal @FlavioDino declaradamente como parlamentar ou não crime contra o ministro Alexandre de Moraes… O Deputado Nikolas ataca o ministro e comete o crime de desacato a autoridade e falta de decoro pic.twitter.com/3DziNJWRfl
— Cláudio José Batista (@CludioJosBatis2) November 26, 2023
O ministro Luis Roberto Barroso, presidente da Corte, também foi alvo de Nikolas. “Para o debochado do ministro Barroso, que falou ‘perdeu, mané’: Primeiro, isso é uma frase de bandido quando vai roubar alguém. O que você está querendo dizer com isso, Barroso? Que nas eleições de 2022 nós fomos assaltados? Se for isso, fica em paz, daqui um ano e meio tem eleições de novo”, disse em tom de ameaça.
A frase “perdeu, mané”, dita por Barroso e reproduzida por Débora durante os atos golpistas do 8 de janeiro, foi uma resposta aos bolsonaristas que protestavam contra ele em Nova York, em 2022, logo após as eleições. Na ocasião, os seguidores do ex-presidente argumentavam que o pleito foi fraudado e o ministro, então, disse a expressão para que eles aceitassem a derrota de Bolsonaro.
Após coçar o saco, o Nikolas Ferreira XINGOU MINISTROS DO STF e voltou a atacar o processo eleitoral em seu discurso na Avenida Paulista. Atacar o judiciário pra intimidar os juízes é motivo pra PRISÃO PREVENTIVA dos réus que estão envolvidos na manifestação. Alexandre de Moraes,… pic.twitter.com/KyYVZ7DGM7
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) April 6, 2025
A manifestação contou com a presença de outros nomes de destaque da extrema-direita, incluindo os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR), Wilson Lima (AM), Ronaldo Caiado (GO) e Mauro Mendes (MT), além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Durante o evento, o vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), buscou demonstrar apoio partidário à causa, obtendo declarações de apoio dos governadores presentes.
O símbolo do batom, destacado em campanha de mobilização pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, dominou a paisagem da manifestação. “Essa é a arma pela qual Débora pode pegar 14 anos de prisão”, repetiam os manifestantes, embora o caso ainda esteja em julgamento no STF.
Fracasso de público?
Apesar do esforço de mobilização, as imagens aéreas mostraram uma participação abaixo das expectativas dos organizadores. Por volta das 13h30, os manifestantes ocupavam apenas um quarteirão da avenida, expandindo-se para cerca de dois quarteirões após o início dos discursos, números bem aquém da meta de 1 milhão de participantes ou da comparação com os atos pelo impeachment de Dilma Rousseff.
O evento ocorre em um momento delicado para a base bolsonarista, com pesquisa Quaest divulgada neste domingo mostrando que 56% dos brasileiros são contra a anistia, enquanto apenas 34% apoiam a medida. O levantamento também revela que 49% acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro participou do planejamento dos ataques.
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