
A Polícia Federal apura se integrantes do PCC e de máfias europeias usaram obras de arte para lavar dinheiro obtido com o tráfico internacional de drogas. A investigação ocorre no âmbito da operação Mafiusi, que levou à nova prisão do doleiro Tharek Mourad, apontado como elo entre a facção e a máfia italiana. A reportagem é da Folha de S. Paulo.
Durante as diligências, a PF localizou certificados de autenticidade de obras atribuídas a artistas conhecidos, embora as peças não tenham sido apreendidas no momento dos mandados. Entre as obras estão três atribuídas a Romero Britto, conhecido por suas cores vibrantes e traços marcantes.
Uma das peças é uma escultura em madeira acrílica e laca em formato de bola de futebol. Segundo a investigação, há um certificado de autenticidade datado de 9 de dezembro de 2020 com uma assinatura atribuída ao artista. Outra obra, também com certificado da mesma data, traz o desenho de um urso. A terceira peça, um quadro com imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, foi achada na casa de William Barile Agati.

Foto: Reprodução
Parte das obras foi encontrada na Sulvene Factoring, empresa com sede em São Paulo e ligada a Mourad e Agati. A PF aponta que a empresa era usada para movimentações ilícitas. Agati é considerado uma espécie de “faz-tudo” do PCC e foi preso em janeiro.
Também foi localizada uma escultura de parede, formada por fios de cobre, alumínio e couro, em cinco módulos. A obra seria da artista Cilene Derdyk e pertence à série “Tramas Circulares”, de 2022. O certificado de autenticidade é de 23 de janeiro de 2023, emitido por uma galeria de arte.
A PF vê indícios de que parte dos lucros do tráfico internacional de drogas foi aplicada na compra dessas obras. Os investigadores apontam que esse é um método recorrente de lavagem de dinheiro, explorando a dificuldade de se estabelecer valores objetivos no mercado de arte.
“A organização criminosa também vem investindo os lucros provenientes do narcotráfico em obras de arte”, afirmam os investigadores. “Trata-se de uma metodologia conhecida de lavagem de dinheiro bastante explorada por criminosos, tendo em vista a subjetividade dos valores.”
Eduardo Maurício, advogado de William Barile Agati, declarou que seu cliente “é inocente, primário, de bons antecedentes, pai de família, de conduta ilibada e empresário em diversos segmentos de negócios nacionais e internacionais lícitos”. Segundo ele, Agati “não praticou nenhum dos crimes que lhe são imputados na operação Mafiusi, nem de lavagem de dinheiro”, e estaria sendo alvo de “perseguição de forma ilegal e abusiva”.
A defesa de Tharek Mourad não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem até a publicação.
A operação Mafiusi, deflagrada em dezembro de 2024, atua contra uma rede criminosa com base no Brasil e na Europa, responsável por exportar grandes quantidades de cocaína. O porto de Paranaguá, no Paraná, era o principal ponto de saída, e o de Valência, na Espanha, o destino da droga, geralmente transportada em contêineres com cargas de fachada.