Fórmula tarifária de Trump tem erro matemático? É o que diz entidade conservadora

A conta da fórmula tarifária anunciada pelo presidente Donald Trump, sobre praticamente todos os países com os quais os Estados Unidos mantêm relações comerciais, tem sido contestada. Inclusive, pelos próprios conservadores, como é o caso dos economistas do American Enterprise Institute (AEI).

Na visão dos pesquisadores Kevin Corinth e Stan Veuger, autores de um artigo publicado no blog AEIdeas, a fórmula usada para calcular as tarifas “não faz sentido econômico”. Junto a isso, ela ainda conteria uma “falha” que eleva artificialmente os percentuais aplicados. 

Segundo eles, embora o governo americano afirme que a taxação é recíproca, isso não se sustenta na prática. Isso porque a atual medida estaria impondo o equivalente ao déficit comercial dos EUA dividido pelas importações americanas de determinado país, dividido por dois ou então aplicando 10%, o que for maior. 

“As tarifas descritas como recíprocas pelo presidente Trump, igualando-se à metade das barreiras aplicadas por outros países, na verdade não refletem essas condições”, afirmam os autores.

Segundo o modelo apresentado pela Casa Branca, a tarifa aplicada a cada país corresponderia ao déficit comercial dos EUA com aquele país dividido pelas importações americanas, dividido novamente por dois, com um piso de 10%, independentemente de haver superávit ou equilíbrio na balança comercial bilateral. Assim, mesmo países com saldo positivo com os EUA são penalizados.

Como exemplo, os economistas ilustram o seguinte caso: se os EUA importam US$ 100 milhões de um país, e exportam US$ 50 milhões, a diferença de US$ 50 milhões seria usada para calcular uma “tarifa equivalente de 50%”. A administração, então, aplicaria metade disso (25%) como medida “recíproca”. E é aqui que está um dos problemas apontados pela AEI.

“O déficit comercial com um país não é determinado apenas por tarifas e barreiras não tarifárias, mas também por fluxos de capital, cadeias de suprimento globais, vantagens comparativas, geografia, entre outros fatores”, dizem Corinth e Veuger.

Erro matemático nas tarifas de Trump

Ainda que se aceitasse a lógica da fórmula, os pesquisadores identificam o que chamam de um “erro matemático” que leva à superestimação dos valores. Segundo eles, o equívoco está no uso incorreto de elasticidades — indicadores que medem como a demanda e os preços reagem a alterações nas tarifas. 

O governo usou a elasticidade da demanda por importações em relação ao preço das importações (ε = 4), e multiplicou-a pela elasticidade do preço no varejo em relação à tarifa (φ = 0,25). Esse produto (4 × 0,25 = 1) faz os dois termos se anularem na equação, o que justificaria o uso direto da razão entre déficit e importações.

Confira a fórmula divulgada:

Mas, como explicam os economistas, essa abordagem estaria incorreta. A elasticidade considerada deveria ser a dos preços de importação, e não a dos preços no varejo. A fonte citada pelo governo, um estudo de Alberto Cavallo, professor da Harvard Business School, deixa essa diferença evidente.

“O estudo afirma que as tarifas são quase totalmente repassadas aos preços de importação dos EUA, mas mostra evidências mais misturadas sobre aumentos de preços de varejo”, escrevem Corinth e Veuger. “É inconsistente multiplicar a elasticidade da demanda por preços de importação pela elasticidade dos preços de varejo com relação às tarifas.”

Correção do tarifaço

Ainda no artigo, para corrigir tal erro matemático — substituindo a elasticidade dos preços em relação às tarifas de 0,25 para o valor mais próximo de 1 (na verdade, 0,945) —, os autores ressaltam que as tarifas aplicadas por outros países aos EUA caem para cerca de um quarto do valor originalmente estimado.

“Como mostra nossa tabela, a tarifa corrigida não ultrapassaria 14% para nenhum país. Para a grande maioria, o valor seria exatamente 10%, o mínimo estabelecido pela administração”, dizem.

Veja abaixo a correção feita pelos pesquisadores do AEI sobre as tarifas anunciadas por Trump em 2 de abril de 2025:

País Tarifa (anunciada) Tarifa (corrigida)
Lesoto 50% 13,2%
Camboja 49% 13%
Laos 48% 12,7%
Madagascar 47% 12,4%
Vietnã 46% 12,2%
Mianmar (Birmânia) 44% 11,6%
Sri Lanka 44% 11,6%
Ilhas Malvinas 41% 10,8%
Síria 41% 10,8%
Maurício 40% 10,6%
Iraque 39% 10,3%
Guiana 38% 10,1%
Bangladesh 37% 10%
Botsuana 37% 10%
Liechtenstein 37% 10%
Sérvia 37% 10%
Tailândia 36% 10%
Bósnia e Herzegovina 35% 10%
China 34% 10%
Macedônia do Norte 33% 10%
Angola 32% 10%
Fiji 32% 10%
Indonésia 32% 10%
Taiwan 32% 10%
Líbia 31% 10%
Moldávia 31% 10%
Suíça 31% 10%
Argélia 30% 10%
Nauru 30% 10%
África do Sul 30% 10%
Paquistão 29% 10%
Tunísia 28% 10%
Cazaquistão 27% 10%
Índia 26% 10%
Coreia do Sul 25% 10%
Brunei 24% 10%
Japão 24% 10%
Malásia 24% 10%
Vanuatu 22% 10%
Costa do Marfim 21% 10%
Namíbia 21% 10%
União Europeia 20% 10%
Jordânia 20% 10%
Nicarágua 18% 10%
Zimbábue 18% 10%
Israel 17% 10%
Malaui 17% 10%
Filipinas 17% 10%
Zâmbia 17% 10%
Moçambique 16% 10%
Noruega 15% 10%
Venezuela 15% 10%
Nigéria 14% 10%
Chade 13% 10%
Guiné Equatorial 13% 10%
Camarões 11% 10%
República Democrática do Congo 11% 10%
Fonte: American Enterprise Institute (AEI)

Corinth e Veuger ainda são categóricos ao afirmar que, mesmo corrigida, a fórmula adotada pelo governo não se sustenta sob o ponto de vista teórico ou jurídico. Ainda assim, consideram importante que erros técnicos tão evidentes sejam evitados em decisões de política comercial.

“Nossa opinião é que a fórmula não tem base na teoria econômica nem na legislação de comércio internacional. Mas, se vamos fingir que ela é uma base legítima para a política comercial dos EUA, é razoável esperar que os cálculos sejam feitos com cuidado”, dizem os pesquisadores da AEI.

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