S&P 500 em queda: estratégia de comprar na baixa pode ser aplicada agora?

Uma das máximas mais usadas no mercado financeiro orienta o investidor a comprar na baixa e vender na alta. Com isto em mente, alguns podem argumentar que o recente derretimento das ações globais cria um cenário ideal para comprar ações americanas. Afinal, o S&P 500 acumula queda superior a 12% em um mês. Porém, a conclusão não pode ser tão simplista, dizem especialistas. Eles recomendam cautela e admitem a possibilidade de correções ainda mais severas adiante.

“Qualquer projeção sobre o comportamento dos mercados nos próximos dias é mera especulação”, garante Rodrigo Aloi, chefe de pesquisa e estratégia da HMC Capital.

Busca pelo novo normal

Massivamente usada durante a pandemia de Covid-19, a expressão “novo normal” pode voltar com força ao noticiário econômico. Isto porque as tarifas impostas pelos Estados Unidos a vários países podem mudar a história do mundo, segundo escreve Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do research da XP, em relatório. 

Ele argumenta que a globalização pós-Segunda Guerra Mundial possibilitou forte crescimento econômico no mundo todo, com inflação controlada e incremento da produtividade do trabalho, e “voltar atrás nessa dinâmica agora, com uma Guerra Comercial de grandes proporções que se inicia, pode mudar completamente essa ordem mundial”. 

É justamente esse novo momento que os mercados vêm tentando precificar. Apenas nos últimos três pregões, mais de US$ 10 trilhões evaporaram das Bolsas globais. Nasdaq e S&P 500 já entraram em “bear market”, período marcado por quedas acima de 20% do pico anterior (neste caso, em fevereiro) e pessimismo do mercado com o futuro das ações. 

Instituições respeitadas pelo mercado financeiro global apontam para a continuação das correções. O Morgan Stanley alertou para queda adicional de 7% a 8% do S&P 500 caso Donald Trump permaneça com a postura firma sobre as tarifas. Analistas do Evercore ISI, Goldman Sachs e Société Générale também reduziram suas projeções nos últimos dias.

Os relatórios, porém, são apenas uma tentativa de estabelecer a magnitude das quedas, segundo Aloi: “são projeções de alguns dos cenários possíveis entre vários outros que podem acontecer, é um momento de muita imprevisibilidade”. Para ele, os agentes ainda precisam mensurar o impacto das tarifas na inflação e atividade econômica dos EUA, “o que vai ditar se a correção é de três semanas ou 12 meses”. 

É hora de comprar? 

Aloi diz que é preciso cuidado ao falar sobre comprar na baixa neste momento: “para fazer isto, é preciso estar confortável com o nível de conhecimento dos fundamentos macroeconômicos e das ações que quer comprar”, o que ainda não é possível, segundo o especialista. Ele completa afirmando não ter certeza se esta é a melhor estratégia para os investimentos agora: “há um fator muito grande de especulação”. 

Já Ferreira alerta para uma volatilidade “elevada” daqui para frente e destaca tanto a possibilidade de mais 10% a 20% em um cenário de recessão profunda como a chance de uma recuperação das Bolsas se as tarifas forem revistas. Diante das incertezas, o estrategista-chefe da XP diz que “é importante manter a cautela e a diversificação da carteira com ativos de qualidade, e realizar aportes ao longo do tempo, para caso os preços e o cenário sigam se deteriorando”. 

Tentar acertar o ponto mais baixo do mercado é uma ilusão e “o mais sensato é fazer compras graduais, aproveitando as oportunidades à medida que surgem”, diz Daniel Heizer, analista da Suno Research. O valuation das ações americanas já era questionado por especialistas, especialmente no setor de tecnologia, e o movimento atual pode ser apenas uma correção nessas distorções, mas “nunca sabemos se o mercado está antecipando novas previsões ou apenas corrigindo erros de avaliação anteriores”, diz Heizer. 

Para ele, as quedas recentes representam oportunidades de longo prazo: “ao investir em boas empresas, confiamos que elas farão o dever de casa e atravessaram as tempestades por oferecerem produtos essenciais e terem capacidade de repasse de preços”. 

O analista diz que os Estados Unidos já atravessaram recessões e quedas significativas no mercado acionário e “nenhum desses eventos, considerados catastróficos na época, foi capaz de impedir o crescimento das boas empresas”. 

Quem já tem exposição ao mercado norte-americano e precisou fazer ajustes na carteira errou no planejamento desses aportes, segundo Rodrigo Aloi. Para o especialista da HMC Capital, “o investidor precisa saber desse risco ao desenhar a alocação e precisar de liquidez ou ter uso definido para aquele dinheiro em 12 meses é um erro”.

Ele diz que o momento é excelente para comprar ações americanas desde que a entrada “esteja baseada em projeções que indiquem bom desempenho dos papéis em dez anos e respeite a tolerância a risco do investidor”. 

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