Como Lula vai usar os EUA para neutralizar o bolsonarismo em 2026

Jair Bolsonaro e Donald Trump: governo Lula vê o tarifaço como uma ameaça política que pode interferir nas eleições brasileiras de 2026. Foto: Reprodução

O governo do presidente Lula (PT) enxerga o tarifaço imposto pelos Estados Unidos como mais do que uma disputa comercial: é também uma ameaça política que pode interferir diretamente nas eleições brasileiras de 2026. Com informações do colunista Jamil Chade, do UOL.

Diante das tarifas aplicadas por Donald Trump, interlocutores do Planalto avaliam que o retorno do republicano à Casa Branca pode ser um fator de instabilidade e servir de combustível para o bolsonarismo.

A resposta do governo brasileiro tem se dado em três frentes. A primeira foi buscar apoio no Congresso para aprovar uma lei que permita retaliar comercialmente os Estados Unidos. Com apoio até de parlamentares do PL, a medida avançou, e Lula deve sancionar a lei nos próximos dias.

A avaliação é de que, mesmo apostando na negociação, o país precisa estar preparado para eventuais novas investidas protecionistas. “Trump trabalha com a imprevisibilidade como estratégia”, dizem fontes do governo.

A segunda frente foi demonstrar os impactos generalizados das tarifas, afetando setores em diferentes regiões do país — aço no Sudeste, madeira no Sul, etanol no Nordeste e, possivelmente, o agronegócio no Centro-Oeste, reduto bolsonarista. A ideia é forçar a direita a escolher: de que lado está?

“Vacina”

O terceiro movimento do Planalto foi buscar uma negociação direta com os EUA, mas sem confronto aberto. A ordem no governo é isolar o tema comercial de outras áreas e “vacinar” o Brasil desde já contra futuras tentativas de desestabilização interna por parte do bolsonarismo em aliança com Trump.

O termo “vacina” tem sido usado por auxiliares de Lula para descrever ações que visam conter antecipadamente os efeitos de uma possível ofensiva eleitoral da extrema-direita.

Bonecos de Jair Bolsonaro e Donald Trump em ato esvaziado organizado por bolsonaristas na Avenida Paulista, no domingo (14)
Bonecos de Jair Bolsonaro e Donald Trump em ato esvaziado organizado por bolsonaristas na Avenida Paulista no ano passado. Foto: Reprodução

A disputa na Organização dos Estados Americanos (OEA) foi considerada o primeiro grande embate nesse processo. Os EUA apoiaram um candidato paraguaio, mas Brasil, Chile, Uruguai e outros países conseguiram eleger um nome alternativo. A leitura é que havia uma tentativa de transformar a entidade em uma plataforma da extrema-direita na região.

O segundo confronto está previsto para os próximos meses, com a eleição para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Os EUA já apresentaram uma candidata, e o Brasil decidiu entrar na disputa.

A preocupação do governo é que a extrema-direita aparelhe o sistema internacional com vozes dispostas a denunciar uma suposta “censura” no Brasil. “Uma coisa é Eduardo Bolsonaro fazer essa acusação. Outra, bem diferente, é uma organização internacional publicar um relatório com esse tipo de alegação”, aponta uma fonte do Itamaraty.

A estratégia do governo Lula é agir preventivamente. Reconhecendo que forças políticas internas pretendem usar a imagem de Trump para impulsionar suas campanhas em 2026, o Planalto passou a ajustar sua política externa para não subestimar esse risco.

A meta é clara: proteger a economia brasileira, blindar a estabilidade institucional e enfraquecer qualquer tentativa de exportar a radicalização política dos Estados Unidos para o Brasil.

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