Dia Mundial da Saúde: vacina é aliada para a longevidade, dizem especialistas

Mulher toma vacina no Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O Dia Mundial da Saúde é celebrado nesta segunda-feira (7), e, coincidentemente, o Brasil também dá início à campanha nacional de vacinação contra a gripe. A meta do Ministério da Saúde é imunizar 90% dos grupos prioritários, como crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos. Essa meta é essencial, uma vez que, no ano passado, apenas 50,1% dos idosos foram vacinados contra a influenza, segundo dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe).

A baixa cobertura vacinal de 2024 trouxe consequências graves: as hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada pela gripe aumentaram 189% entre idosos, com um salto de 157% nas mortes. A taxa de letalidade alcançou 21,7%, ou seja, uma em cada cinco pessoas acima dos 60 anos internadas com complicações da doença não resistiu.

“É a primeira vez na história que a porcentagem de idosos vacinados contra a gripe no nosso país foi menor do que a de gestantes e crianças. Isso nunca tinha acontecido. Esse sempre foi o grupo mais fácil de adesão à vacinação, mas, em 2024, isso se inverteu”, disse Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, durante um evento realizado pela Sanofi no final de março, em São Paulo. Segundo ela, o vírus da gripe pode comprometer diversos órgãos, provocar inflamações sistêmicas e facilitar infecções bacterianas, aumentando o risco de complicações fatais.

Vale destacar que as campanhas de vacinação estão diretamente ligadas à longevidade da população.

Um salto quântico para a saúde pública

Ao longo do século XX, as vacinas foram responsáveis por um avanço expressivo na expectativa de vida da população mundial. Além de erradicar doenças como a varíola, também reduziram drasticamente a incidência de outras infecções graves, como poliomielite, sarampo e meningites. Para a médica cirurgiã e pesquisadora em medicina regenerativa Andréia Antoniolli, esse impacto pode ser considerado um divisor de águas na história da medicina. Ela lembra que muitas dessas doenças têm alto potencial de contágio e outras, ainda que menos transmissíveis, deixam sequelas devastadoras.

De acordo com Andréia, frear ou eliminar essas enfermidades foi “um salto quântico na medicina do século passado”, uma vez que “o desenvolvimento das vacinas contribuiu, sobremaneira, para o aumento da expectativa de vida”. Contudo, a médica também reforça que o sistema imunológico, apesar de altamente sofisticado e capaz de nos defender em diversos níveis, está hoje sob pressão. Hábitos de vida modernos contribuem para o seu enfraquecimento.

“Na atualidade, há hábitos de vida que levam ao envelhecimento biológico acelerado, inflamação crônica subclínica e disbiose intestinal, o que enfraquece nossos soldados e confunde nosso exército”, compara, referindo-se ao funcionamento das defesas do corpo humano.

Quando sistema imunológico envelhece

Esse processo de declínio da função imunológica com o tempo, chamado de imunossenescência, compromete a eficácia vacinal justamente em quem mais precisa de proteção. É aí que entra o potencial da medicina regenerativa: ao atuar diretamente no rejuvenescimento celular e na restauração funcional do sistema imune, ela pode transformar a forma como prevenimos doenças em idosos.

Andréia explica que terapias baseadas em células-tronco e o uso de compostos geroprotetores (substâncias com capacidade de evitar ou reverter o envelhecimento celular) têm se mostrado promissoras.

“A medicina regenerativa pode potencializar os efeitos das vacinas ao restaurar ou melhorar as funções do sistema imunológico, especialmente em idosos”, afirma. Ao rejuvenescer o sistema imune, o organismo se torna mais eficiente na resposta vacinal e na defesa contra infecções, até mesmo contra o câncer.

Andréia reforça que já há estudos que mostram uma resposta imune menos eficaz em pessoas mais velhas, ligada a alterações nos chamados centros germinativos, estruturas especializadas dentro dos órgãos linfóides onde são produzidos os anticorpos de alta qualidade.

“Os efeitos dependentes da idade na resposta do centro germinativo são reversíveis, desde que sejam feitos os reparos celulares necessários nesse componente celular que está comprometido nos indivíduos mais velhos biologicamente”, explicou.

Vacinas mais potentes com ajuda da biotecnologia

A medicina regenerativa também traz mais recursos para potencializar a ação das vacinas por meio da biotecnologia. Um dos avanços está no uso de biomateriais para melhorar a entrega de antígenos, por exemplo, assim como outros elementos necessários para uma boa resposta imune.

“A medicina regenerativa ajuda a ‘consertar’ nossas próprias células do sistema imunológico, mas também pode usar a biotecnologia, como vetores virais, para aumentar a eficiência das vacinas”, explica Andréia. Os vetores utilizados na engenharia imunológica, assim como nas imunoterapias, podem modificar geneticamente células T. Dessa forma, é possível reconhecer e combater células tumorais ou agentes infecciosos com mais precisão.

Ela ressalta que a evolução dessa tecnologia tem tornado essas terapias mais seguras, específicas e eficazes. Com os avanços da medicina regenerativa, a especialista tem a perspectiva de que a resposta às vacinas seja ampliada e, quem sabe, em alguns casos, até reduzir a necessidade de imunização frequente.

O ponto principal de Andréia é o fortalecimento do sistema imunológico, pois ele deve ser visto como uma estratégia de saúde e longevidade.

“Quando mantemos o sistema imunológico jovem e competente, ele consegue nos defender de doenças infecciosas, inflamatórias e câncer. O foco, então, é manter a idade biológica inferior à idade cronológica, preservar nossas próprias células-tronco com capacidade de reparo e regeneração e, consequentemente, um sistema imunológico forte”, concluiu.

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