“A construção”, de Andressa Marques, retrata início das cotas raciais em universidade pública brasileira

Logo no início de “A construção”, Jordana, a protagonista, narra uma experiência que “tinha um gosto bom de primeira conquista”. Ela é caloura de uma universidade pública em seu primeiro dia de aula. Jordana faz parte da primeira geração de alunos cotistas da Universidade de Brasília. “Queria estudar e seguir”, diz a personagem, antevendo uma série de desafios que seriam enfrentados a partir dali – desafios estes que não se resumem às aulas, aos trabalhos e às filas do restaurante universitário. “A construção” é o romance de estreia de Andressa Marques, publicado pela Editora Nós.

Se olha para o presente – e a possibilidade de futuro –, o texto de Andressa também mergulha nas águas do passado. “Depois de tudo o que aconteceu, sei que a memória é água com sedimentos. A gente deixa a parte mais limpa em cima para o pesado descer, mas isso leva tempo”. O texto intercala duas temporalidades. Pouco a pouco estes dois tempos vão ao encontro um do outro. Da paisagem ampla, vazia e plana que outrora foi a capital federal ao campus da UNB de hoje. Andressa Marques retrata a construção de Brasília não por suas glórias e proezas arquitetônicas, mas pelas mãos daqueles que a colocaram de pé – e daqueles que sucumbiram perante sua suntuosidade. 

Multiplicidades

Apesar do título no singular, as construções aqui são múltiplas. O romance investiga tanto a construção de Brasília quanto a construção de uma família trabalhadora, tanto a construção da autonomia e da identidade de uma jovem estudante negra, quanto a (re)construção de uma universidade pública mais ampla e plural, cumprindo o seu dever político e social.

Num texto que descobre o poético no cotidiano, Andressa Marques constrói cenas marcadas pela força e pela beleza da poesia, enquanto mergulhamos em diferentes primeiras vezes de Jordana, uma protagonista que transborda vida, com suas delícias e dissabores. Enquanto constrói a si mesma, a jovem investiga as fundações de sua própria história, na memória sedimentada pelo peso dos alicerces que sustentam Brasília e nas ruínas de um passado adormecido, mas não esquecido.

Encontre “A construção” aqui:

Gabriel Pinheiro é jornalista e crítico de literatura. Escreve aqui no Culturadoria e também em seu Instagram: @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel)

Capa do Livro A construção. Foto: Editora Nos
Capa do Livro A construção. Foto: Editora Nos

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