Conheça Isabel Noly: terapeuta que defende autodescoberta por meio da arte

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Isabel Noly trabalha com terapias individuais e em grupo (Foto: Alessandra Rezende/ Divulgação)

Quando Isabel Noly se formou na Faculdade de Psicologia, foi trabalhar como recursos humanos de uma empresa, ofício comum para profissionais recentes como ela. Sua formação na Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) já tinha sido bem “dentro da caixinha”, como define. Começou a estudar para concurso e logo foi trabalhar com psicologia do trabalho. Mas algo também não parecia funcionar. “Comecei a ter problemas psicológicos. Foi um processo de desmotivação e uma frustração enorme. E então, por conta própria, comecei a fazer macramê.” Foi esse pontapé de contato com a arte, por meio da técnica manual em criar nós, que fez com que ela recuperasse algo muito importante para si mesma e que começasse também a pensar outras trajetórias que poderia seguir. A ideia de tentar entender o que acontecia com a própria cabeça quando se sentava para fazer os trabalhos artesanais fez com que quisesse se aprofundar no potencial terapêutico da arte. Hoje, é esse potencial que busca explorar com a arteterapia, em trabalhos de grupo e individuais.

Ela explica que o fazer manual a resgatou, em um momento importante, de uma dor profunda. Foi a partir disso que decidiu procurar saber mais sobre como alinhar essa veia artística, que já tinha, com a sua formação acadêmica. Na sua família, composta por muitas mulheres, o fazer da costura e do tricô já eram bastante presentes, mas tinham ficado de lado durante a sua adolescência e vida adulta.

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Veia artística já era forte em sua vida, mas tomou forma durante período de ‘crise’ (Foto: Alessandra Rezende/ Divulgação)

Ela então começou uma pós-graduação em Arteterapia pela Clínica Pomar, no Rio de Janeiro, e iniciou um processo de mudanças em sua vida: pediu exoneração do trabalho, voltou a morar com a mãe e voltou para sua cidade natal, Juiz de Fora. Foi um processo longo, até pelo medo das incertezas que sentiu, mas que também fez com que ela tivesse bastante certeza sobre o que queria fazer. “Eu me encontrei. Não tinha como eu não trabalhar com arteterapia depois de tudo que eu vivi.” 

O objetivo da arteterapia, como ela explica, é desenvolver um processo terapêutico com objetivo de fortalecer o autoconhecimento, promover saúde mental, a elaboração de questões da experiência humana e incentivar uma descoberta maior de cada pessoa sobre si mesma. “Em outras terapias, a principal ferramenta de trabalho é a fala. Na arteterapia, o recurso principal é a relação espontânea com a arte (…) Cada material usado tem uma potencialidade terapêutica” , explica. Ela exemplifica que a tinta funciona, nesses momentos, como uma forma de trabalhar a fluidez e a liberdade; assim como a argila trabalha com a sustentação, a concretização de algo. “Sabe quando as pessoas falam ‘Ah, o meu crochê é a minha terapia, porque esqueço dos meus problemas quando faço’? Isso traz uma confusão. Porque o método da arteterapia é outra coisa. Não é para esquecer dos nossos problemas, mas para pensar sobre ele sob perspectivas diferentes. A arte ajuda a ampliar nosso olhar”, explica.

Com esse trabalho, muitas pessoas chegam até ela também já tendo esse interesse pela arte, que no entanto ficou esquecido em outras etapas da vida. E também tem quem chegue pensando que é preciso um conhecimento prévio ou a aprendizagem de determinadas técnicas. Mas esse não é o objetivo: “A arteterapia é diferente de um curso de artesanato. Nós não temos preocupações com produções técnicas ou estéticas. Se focarmos nisso, desperdiçamos o potencial de auto revelação que a arte espontânea tem. Buscar a perfeição pode silenciar essa revelação.” Todas as práticas, portanto, são feitas pensando nessa facilidade e na possibilidade de explorar materiais como barro, bordado, colagem, mosaico, fios, aquarela, argila, carvão etc. Para ela, é notável como, enquanto a fala é capaz de esconder muita coisa, a arte acaba revelando de outra forma, que muitas vezes foge do controle mais consciente de quem está em processo terapêutico.

Perspectiva de gênero

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Em grupos, mulheres se reconhecem no coletivo e partilham vivências (Foto: Alessandra Rezende/ Divulgação)

Atualmente, ela atende em seu ateliê, no Bairro Cascatinha, onde funciona a casa “Mulher tá on“. Trata-se de uma comunidade com vários serviços voltados para a perspectiva feminina de cuidados, empreendimentos e inovação. Esse olhar de gênero está presente também em seu trabalho, que atualmente acontece com atendimentos individuais ou em grupo, sendo os grupos apenas de mulheres. Nesses atendimentos, ela faz a proposta de um fio guia que leve à reflexão, e que atravesse todas as mulheres. Os materiais também são usados de forma expressiva, com cada objetivo; depois que a mulher produz, há o momento de partilha, que pode se organizar verbalmente para cada uma falar sobre a prática e chegar às próprias conclusões. “Trabalho com história de vida, o presente e, em seguida, um olhar para o futuro e como se abrir para o mundo. A partilha ajuda a nomear coisas em você mesma das quais a própria pessoa não tinha se dado conta ainda. É uma forma de se perceber no coletivo, e ver que não está sozinha.”

Em seguida, ela traz contribuições sobre os trabalhos e estimula as reflexões. Não é uma interpretação, como explica, mas uma forma de trazer percepções sobre os trabalhos apresentados. E, também para ela, a arteterapia tem essa força de estimular com que as mulheres se sintam livres e autorizadas para criar. “Costumo dizer que as mulheres que vêm aqui fazer arteterapia são mulheres que querem olhar para dentro com honestidade e com coragem.” Por isso, o processo total dura cinco meses, com o mesmo grupo, e ao final também os laços entre essas mulheres tomam força.

Reencontro com as possibilidades

Isabel, hoje com 31 anos, já trabalhou com mais de dez grupos de arteterapia além de seus pacientes individuais, mas mantém o macramê, que a ajudou financeiramente no momento de transição de carreira, como um hobby. “Fui entendendo que busquei o macramê, naquele momento, por ser uma tecelagem que sai de um novelo e pode produzir coisas novas e diferentes. Representa novos caminhos, não precisa nem de agulha, tem que ser feito conduzindo os fios por conta própria, a partir do que a vida entregou. É uma transformação”, diz. 

Foi a partir dessa transformação que teve um reencontro com as possibilidades para si mesma, que resultou também na geração de oportunidades para outras pessoas, muitas inclusive que procuram a arte como vocação após a terapia, porque também tomam coragem para encarar esse fazer artístico. “Essa ampliação do olhar foi essencial pra mim. E entendi que meu lugar era unindo a arte e a terapia, e assim tem sido.”

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