
A demolição do antigo prédio da Cultura Inglesa em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, gerou forte reação de moradores, urbanistas e entidades de preservação. O imóvel, construído em 1980 pelo renomado arquiteto modernista Rino Levi, foi derrubado no sábado (19) pela construtora SKR, que planeja erguer no local um condomínio residencial. O prédio, que também sediou espetáculos de teatro e atividades culturais, fazia parte do acervo de estudos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Movimentos locais como o Pró-Pinheiros acusam a prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), de negligência e falta de diálogo. Segundo os moradores, a demolição ocorreu de forma apressada e silenciosa, mesmo após tentativas de contato com a Subprefeitura e a construtora. “A memória não é entulho”, afirmou a fundadora do movimento, Rosanne Brancatelli, que defende uma urbanização que respeite o valor histórico da cidade.
A polêmica também acendeu críticas ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (Conpresp), acusado de estar “aparelhado” com indicações políticas da prefeitura e de não cumprir sua função de proteger o patrimônio paulistano. O vereador e urbanista Nabil Bonduki (PT) destacou que o conselho deveria ter aberto um processo de tombamento do prédio antes da obra e afirmou que atualmente o órgão atua de forma conivente com os interesses do mercado imobiliário.

Além disso, Bonduki denunciou irregularidades na composição do Conpresp, apontando que ao menos três membros indicados não representam legalmente as instituições que deveriam ocupar as vagas. Um deles é o vereador licenciado Rodrigo Goulart (PSD), atual secretário municipal, que segue como representante da Câmara no conselho mesmo afastado da função legislativa — a única vaga considerada de representação popular no colegiado.
A disputa pelo cargo no Conpresp virou alvo de embates políticos. Enquanto movimentos populares apoiam a indicação de Bonduki, outros quatro vereadores da base aliada do prefeito também demonstram interesse na vaga. Segundo o g1, a permanência de Goulart no conselho seria uma estratégia da presidência da Câmara para evitar conflitos internos entre aliados de Nunes.
Para representantes da sociedade civil, a demolição da Cultura Inglesa em Pinheiros é mais um capítulo de um processo de apagamento da memória urbana em favor da especulação imobiliária. “A cidade está sendo entregue às construtoras, enquanto o patrimônio cultural é ignorado”, afirmou Brancatelli. Bonduki reforça que o crescimento da cidade é importante, mas deve ocorrer com equilíbrio: “Adensar sim, mas não às custas do que tem valor simbólico e arquitetônico para São Paulo”.
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