Demolição de prédio da Cultura Inglesa revolta Pinheiros e escancara crise em SP

Antigo prédio da Cultura Inglesa na rua Deputado Lacerda Franco, em Pinheiros, Zona Oeste de SP, começou a ser demolido neste sábado (19). Foto: Reprodução/Instagram

A demolição do antigo prédio da Cultura Inglesa em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, gerou forte reação de moradores, urbanistas e entidades de preservação. O imóvel, construído em 1980 pelo renomado arquiteto modernista Rino Levi, foi derrubado no sábado (19) pela construtora SKR, que planeja erguer no local um condomínio residencial. O prédio, que também sediou espetáculos de teatro e atividades culturais, fazia parte do acervo de estudos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Movimentos locais como o Pró-Pinheiros acusam a prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), de negligência e falta de diálogo. Segundo os moradores, a demolição ocorreu de forma apressada e silenciosa, mesmo após tentativas de contato com a Subprefeitura e a construtora. “A memória não é entulho”, afirmou a fundadora do movimento, Rosanne Brancatelli, que defende uma urbanização que respeite o valor histórico da cidade.

A polêmica também acendeu críticas ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (Conpresp), acusado de estar “aparelhado” com indicações políticas da prefeitura e de não cumprir sua função de proteger o patrimônio paulistano. O vereador e urbanista Nabil Bonduki (PT) destacou que o conselho deveria ter aberto um processo de tombamento do prédio antes da obra e afirmou que atualmente o órgão atua de forma conivente com os interesses do mercado imobiliário.

O edifício da Fiesp e o Teatro Cultura Artística projetados pelo arquiteto modernista Rino Levi em São Paulo. Foto: Reprodução/TV Globo

Além disso, Bonduki denunciou irregularidades na composição do Conpresp, apontando que ao menos três membros indicados não representam legalmente as instituições que deveriam ocupar as vagas. Um deles é o vereador licenciado Rodrigo Goulart (PSD), atual secretário municipal, que segue como representante da Câmara no conselho mesmo afastado da função legislativa — a única vaga considerada de representação popular no colegiado.

A disputa pelo cargo no Conpresp virou alvo de embates políticos. Enquanto movimentos populares apoiam a indicação de Bonduki, outros quatro vereadores da base aliada do prefeito também demonstram interesse na vaga. Segundo o g1, a permanência de Goulart no conselho seria uma estratégia da presidência da Câmara para evitar conflitos internos entre aliados de Nunes.

Para representantes da sociedade civil, a demolição da Cultura Inglesa em Pinheiros é mais um capítulo de um processo de apagamento da memória urbana em favor da especulação imobiliária. “A cidade está sendo entregue às construtoras, enquanto o patrimônio cultural é ignorado”, afirmou Brancatelli. Bonduki reforça que o crescimento da cidade é importante, mas deve ocorrer com equilíbrio: “Adensar sim, mas não às custas do que tem valor simbólico e arquitetônico para São Paulo”.

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