
CIDADE DO VATICANO (Reuters) – Enquanto o Vaticano se prepara para a reunião secreta dos cardeais que escolherão o sucessor do papa Francisco, esqueça — até certo ponto — o que você pode ter aprendido com “Conclave”, o filme de sucesso do ano passado que retrata jogos de poder de alto nível e traições entre os clérigos de manto vermelho.
O conclave dos chamados “Príncipes da Igreja”, que elegerá um novo papa, deve começar em algum momento entre 6 e 11 de maio. Ele se seguirá ao funeral de Francisco no sábado e a consultas mais amplas entre os cardeais, conhecidas como congregações gerais.

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O filme, que ganhou um Oscar em março de melhor roteiro adaptado, é uma representação fiel em termos de figurino e encenação, mas os esquemas flagrantes e a reviravolta final da trama — que esta reportagem não revelará — são demais, dizem especialistas da Igreja.
“Vamos encarar os fatos: ‘Conclave’, que nos leva ao coração de um dos eventos mais misteriosos e secretos do mundo, é um filme altamente divertido, especialmente para um público norte-americano descontraído”, escreveu o jornal dos bispos italianos, Avvenire, em uma crítica de dezembro.
“Mas é impossível não rir diante de certos personagens ou situações que, especialmente aos olhos dos espectadores italianos, correm o risco de se assemelhar a paródias involuntárias”, acrescentou.
O cardeal norte-americano Sean O’Malley foi mordaz, dizendo em um post de fevereiro em seu blog que a questão da eleição do papa não é “uma espécie de cena de conspiração política de bastidores para eleger seu candidato”.
O’Malley, um frade franciscano que participou do conclave de 2013 que elegeu Francisco, escreveu:
“Durante todo o processo, tivemos uma consciência muito aguda de que milhões de católicos em todo o mundo estavam rezando por nós para que o Espírito Santo nos guiasse em nossas deliberações.”
A palavra “conclave” vem do latim “cum clave” (com uma chave), referindo-se à prática medieval de trancar os cardeais em uma sala até que eles tomassem uma decisão sobre um novo papa. Essencialmente, ainda é assim que funciona hoje.
Os cardeais reunidos dentro da Capela Sistina são proibidos de se comunicar com o mundo exterior — sem telefones, televisão ou Internet — e devem manter silêncio sobre a eleição depois. Mas detalhes, inevitavelmente, acabam passando.
O próprio Francisco, em um livro de entrevistas publicado no ano passado, quebrou a regra de confidencialidade e admitiu que houve algumas maquinações.
“Os cardeais juram não revelar o que acontece no conclave, mas os papas têm licença para contar”, disse ele ao jornalista espanhol Javier Martínez-Brocal.
Ele afirmou que foi “usado” em uma tentativa fracassada de bloquear Bento 16, o favorito de 2005, com 40 dos 115 votos convergindo para ele, com os cardeais por trás da manobra esperando que isso abrisse caminho para o surgimento de outro candidato.
Bento foi devidamente eleito, disse Francisco, depois que ele afirmou a um dos aspirantes a candidato: “Não me engane com essa candidatura, porque agora mesmo vou dizer que não vou aceitar, certo? Me deixem de fora”.
Francisco disse que votou pessoalmente em Bento porque a Igreja precisava de um “papa de transição” após o longo papado de João Paulo 2º. Em 2013, Francisco surgiu como um candidato surpresa, depois de impressionar os pares com um discurso sobre a necessidade de reforma da igreja.
Desta vez, não há um líder claro, embora as casas de apostas britânicas tenham apontado Luis Antonio Tagle, um reformador das Filipinas, e Pietro Parolin, uma escolha de compromisso da Itália, como os primeiros favoritos na corrida.
Robert Harris, autor do livro no qual o filme “Conclave” se baseia, disse ao The Boston Globe esta semana que abordou o conclave “puramente de um ponto de vista secular de alguém que está interessado em instituições, como elas funcionam e os jogos de poder dentro delas”.
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