
O advogado e ex-desembargador Sebastião Coelho anunciou, nesta quinta-feira (24), que não representa mais Filipe Martins, ex-assessor internacional do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada dois dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), tornando Martins réu por suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado.
Coelho alegou razões de saúde para sua saída, embora tenha reafirmado a inocência do ex-assessor. “Minha expectativa era de que a denúncia contra Filipe Martins fosse rejeitada, que um processo não fosse sequer iniciado. É um absurdo completo”, afirmou. “Esse moço é completamente inocente”.
O ex-desembargador declarou ainda que já havia comunicado à equipe a possibilidade de abandonar o caso, caso a denúncia fosse aceita: “Tenho a necessidade de cuidar de dois assuntos pessoais, sendo um deles relacionado à saúde”.
Fora da defesa formal, Sebastião Coelho passou a adotar um tom ainda mais crítico ao STF e afirmou que continuará a opinar publicamente sobre o processo. “Filipe é como se fosse da minha família. Continuarei a ajudá-lo, se for consultado. A partir de agora, sou ex-advogado dele, mas sigo na trincheira contra o arbítrio do ministro Alexandre de Moraes”, declarou.
Na sustentação oral feita por Coelho no STF, no início desta semana, ele comparou Martins a Jesus Cristo. “Neste fim de semana celebramos a Páscoa. Filipe Martins espera que este tribunal ouça sua defesa. O processo de crucificação que Cristo sofreu, Filipe vem sofrendo desde 8 de fevereiro de 2024. Mas isso precisa acabar hoje”.

Ações polêmicas no STF
A atuação do advogado já vinha chamando atenção antes mesmo da denúncia ser aceita. Em março, durante o julgamento do chamado “núcleo principal” da trama golpista, Coelho foi detido por desacato após tentar entrar no plenário sem credenciamento e gritar “arbitrários” contra ministros do STF, inclusive durante a fala de Moraes.
Além de Filipe Martins, diversos nomes ligados ao governo Bolsonaro também viraram réus, incluindo o próprio ex-presidente. No mesmo julgamento em que Coelho foi barrado, deputados aliados de Bolsonaro também foram impedidos de entrar no plenário, entre eles Carlos Jordy (PL-RJ) e Ubiratan Sanderson (PL-RS).
“É uma pouca vergonha. Não deixaram a gente entrar. Não permitiram que deputados acessassem a sala de julgamento”, protestou Sanderson. Já Coelho, ao ser contido pela segurança, repetia: “arbitrários”.
O histórico de Sebastião Coelho inclui episódios polêmicos. Em janeiro, ele elogiou um vídeo mentiroso divulgado por Nikolas Ferreira sobre o Pix, no qual o deputado criava uma narrativa falsa sobre as novas regras de monitoramento de transações acima de R$ 5.000, que foram canceladas após a repercussão.
“Quero agradecer ao deputado Nikolas Ferreira pelo grande serviço que prestou à nação brasileira nessa questão do Pix”, disse. “Esse recuo do governo mostra que, se colocarmos nossa revolta para fora, podemos fazer grandes transformações”.
Ele ainda completou: “Da mesma forma que o povo brasileiro derrubou essa regulamentação do Pix, nós também podemos retirar o Lula do comando desse regime. Podemos tirar o senhor Alexandre de Moraes e quem mais for necessário”.
Defesa de golpistas
Desde sua saída do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), em setembro de 2022, Coelho tem mantido forte atuação política. Participou de manifestações em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e na Avenida Paulista, em São Paulo, em apoio a Bolsonaro. O ex-magistrado é investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por supostamente ter incentivado atos golpistas ainda durante o exercício da magistratura.
Natural de Santana do Ipanema (AL), Sebastião Coelho tem 69 anos e construiu carreira no Judiciário do Distrito Federal. Em 2013, foi promovido a desembargador, cargo que ocupou até o início do período eleitoral de 2022, quando se afastou com duras críticas ao STF. “Alexandre de Moraes fez uma declaração de guerra ao País”, disse à época, em sessão oficial.
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