Entulho da Lava jato, “Japonês da federal” cria consultoria sem clientes e tenta a política como Dallagnol

“Japonês da Federal” vende palestras para ninguém

Das figuras decadentes da hoje desmoralizada Operação Lava Jato, que sofrem da síndrome de Dorian Gray – obra-prima de Oscar Wilde que retrata quem leva vida dupla, mantendo aparência de virtude, mas vive em função da ganância -, um deles, Newton Ishii, é emblemático.

Famoso pelas aparições ao lado dos presos mais notáveis, o ex-agente da Polícia Federal, conhecido como o “Japonês da Federal”, depois de tentar imitar seus mestres na carreira política, sem sucesso, tombou também como palestrante motivacional em empresas – mais especificamente sobre compliance. O DCM confirmou: depois de quase cinco anos, não consegue clientes.

O DCM, por telefone e mensagens, tentou falar com Newton Ishii, e foi ignorado.

Para tentar “lavar a biografia”, inventou a CAJ Consultoria e Assessoria, sediada em Curitiba – com um perfil quase sem seguidores no LinkedIn e um anúncio patético, em que aparece de terno e óculos escuros, repetindo o apelido insólito, prometendo manter o cliente livre  de problemas com as leis federais e políticas corporativas.

O golpe foi percebido pela potencial clientela. Mesmo que more em Curitiba, capital da Lava Jato, qualquer um sabe que o “Japa” não só é só um palestrante frustrado, como é um mau exemplo: foi condenado e preso por facilitação de contrabando pela fronteira Brasil-Paraguai, em Foz do Iguaçu. E se aposentou na marra em fevereiro de 2018, como  que sobrevive.

Quando o “Japa” ainda era tratado como uma “figura pública respeitável”, o apresentador Pedro Bial o chamou para seu programa na TV Globo. Newton Ishii não escondeu nem os pecados mais pretéritos. Na “Conversa com Bial” revelou detalhes repulsivos de sua carreira na PF, como o trabalho como espião na ditadura militar, inclusive infiltrando-se, como X9 dos milicos, entregando estudantes e professores.

O “Japonês da Federal” se anuncia como “consultor, palestrante e escritor”, embora não tenha escrito um pergaminho. Só existe uma biografia ridícula chamada “Japonês da Federal”, parida a soldo por Luís Humberto Carrijo, “CEO” de uma certa agência Rapport Comunicação, de Natal (RN). Não ajudou muito, mesmo revelando dados ilegais: tornou públicos, sob sua versão, “bastidores do convívio com presos da Lava Jato na carceragem”, como vende o livro nas redes. Viola o sigilo em investigações criminais e o dever da autoridade policial em assegurar o sigilo necessário à elucidação do fato. Ou sejam, o livro é confissão de um crime.

O “Japonês da Federal” em seu apogeu, com os Bolsonaros

Na ponta do lápis, o livreco, que só vendeu uma primeira edição, impulsionado pela curiosidade da mídia lavajajista, está hoje na xepa literária: pode ser adquirido na Amazon por R$ 17,45  – peço de uma broca no Magazine Luiza.

Newton Ishii confidenciou a amigos que só resta tentar, de novo, a carreira política, para ver se fatura algum. Chegou a filiar-se ao finado Partido Ecológico Nacional (PEN), que uniu-se ao Patriota (PATRI), que depois converteu-se em Partido Trabalhista Cristão (PTC), e hoje responde pela alcunha de Agir, do topa-tudo Daniel Tourinho. Todos de direita. Mais preocupado com marca que com programa, o Agir chegou a ter que trocar de logomarca porque plagiava a marca do Movimento Agora.

Com o nome sujo na praça, o “Japa” até adotou um clone nas últimas eleições federais. Inspirado em Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, chegou a lançar-se como deputado federal, desistiu e apoiou o policial civil, colega do Paraná, Fábio Nakashima, que adotou o nome de urna de “Japonês da Federal Japa Civil” – uma carona indecente e sem disfarces. Num post do Instagram, em que vive armado até os dentes, Nakashima aparece ao lado de Jair Bolsonaro, a quem chama de “parceiro casca de bala”.

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