Censo: Brasil tem 93% da população alfabetizada, mas 11,4 milhões não sabem ler e escrever

Idosos em escola de Cordeirópolis (SP). Foto: reprodução

Em 2022, a taxa de alfabetização no Brasil alcançou 93% entre pessoas de 15 anos ou mais segundo o Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (17). Este é o maior índice desde 1940, quando o órgão realizou o primeiro recenseamento. Apesar do avanço, o Brasil ainda enfrenta desafios na erradicação do analfabetismo, especialmente entre os idosos e grupos marginalizados.

Em 1940, apenas 44% da população de 15 anos ou mais era alfabetizada. Décadas de investimentos em educação elevaram esse número para 90,4% em 2010 e 93% em 2022. Em termos absolutos, isso significa que 151,5 milhões de brasileiros sabiam ler e escrever em 2022.

Por outro lado, a taxa de analfabetismo, que era de 56% em 1940, caiu para 7% em 2022, a menor proporção já registrada pelo IBGE. Porém, isso ainda representa 11,4 milhões de pessoas analfabetas, um número comparável à população total da cidade de São Paulo.

Durante a apresentação dos dados, Marcio Pochmann, presidente do IBGE, destacou que as taxas de analfabetismo refletem a profunda desigualdade no Brasil e exigem ações urgentes do poder público. “O Brasil está entre os dez principais países do mundo em tamanho territorial, populacional e econômico. Ainda assim, estamos olhando para um contingente enorme de pessoas que não sabem ler e escrever, enquanto a sociedade avança para a era digital”, afirmou.

A taxa de analfabetismo diminuiu em todas as faixas etárias, mas os idosos ainda são os mais afetados. Entre brasileiros de 65 anos ou mais, a taxa caiu de 29,4% em 2010 para 20,3% em 2022, indicando que, em média, um em cada cinco idosos é analfabeto. Esse grupo representa 39,4% do total de analfabetos do país. Segundo o IBGE, essa situação é um reflexo da “dívida educacional brasileira”, que resultou de décadas de atraso nos investimentos em educação.

Pochmann ressaltou a necessidade de políticas específicas para aumentar o percentual de idosos que saibam ler e escrever. “A população analfabeta é envelhecida, e é possível implementar um projeto que enfrente esse problema. O país pode aniquilar o analfabetismo ainda nesta década, focando nos grupos mais afetados”, disse.

Os dados do IBGE também mostram que as mulheres têm uma taxa de letramento ligeiramente superior à dos homens (93,5% contra 92,5%). No entanto, entre os idosos de 65 anos ou mais, a taxa de alfabetização das mulheres é um pouco menor (79,6% contra 79,9% para os homens), sugerindo que as mulheres mais velhas tiveram mais dificuldades no acesso à educação.

As disparidades raciais também são evidentes. A taxa de analfabetismo entre a população preta caiu de 14,4% em 2010 para 10,1% em 2022, enquanto entre os brancos o índice recuou de 5,9% para 4,3%. Entre os pardos, a taxa caiu de 13% para 8,8% no mesmo período. Os indígenas registraram uma redução de 23,3% para 16,1%, e os amarelos têm a menor taxa de analfabetismo entre todos os grupos (2,5%)

Alunos participam de aula de alfabetização para adultos em São Paulo. Foto: Keiny Andrade/Folhapress

O Nordeste continua sendo a região com a menor taxa de letramento (85,8%) e a maior de analfabetismo (14,2%). Em contraste, o Sul (96,6%) e o Sudeste (96,1%) apresentam as maiores taxas de alfabetização. No Centro-Oeste, a taxa é de 94,9%, e no Norte, 91,8%.

No ranking estadual, Santa Catarina lidera com 97,3% de alfabetizados, seguido por Distrito Federal (97,2%), São Paulo (96,9%) e Rio Grande do Sul (96,9%). Alagoas (82,3%), Piauí (82,8%) e Paraíba (84%) têm as menores taxas de alfabetização. De 2010 a 2022, Alagoas foi o estado que mais aumentou sua taxa, com um crescimento de 6,7 pontos percentuais, embora ainda ocupe a última posição no ranking.

Entre os municípios, São João do Oeste, em Santa Catarina, tem a menor taxa de analfabetismo do Brasil, com apenas 0,9%. No extremo oposto, Alto Alegre, em Roraima, registra a maior taxa de analfabetismo, com 36,8%.

A analista do IBGE Betina Fresneda, que apresentou os dados, observou que as disparidades regionais são reflexo da distribuição desigual de recursos e investimentos em educação. “A tentativa de minimizar essas disparidades regionais é muito recente”, afirmou. O IBGE planeja divulgar novas estatísticas de educação referentes a faixas etárias mais jovens (5 a 14 anos) em futuras publicações do Censo 2022.

Os números revelam que, apesar dos avanços na alfabetização, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos na erradicação do analfabetismo e na redução das desigualdades educacionais.

“Ainda temos muito a avançar na redução das desigualdades para o acesso ao que seria o primeiro passo da educação, a alfabetização, o pressuposto básico de todos os outros direitos. O indicador ainda mostra um alerta”, concluiu Fresneda.

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