Maurício Pereira: Músico paulista volta a BH com show, oficina e lançamento de livro

Público mineiro teve uma oportunidade única de mergulho na obra de um dos maiores compositores da música independente brasileira, Maurício Pereira

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

Uma casa no bairro Carmo guarda um palco singular para os amantes de uma boa noite de música em Belo Horizonte. É a Casa Outono, espaço comandado pela cantora Celinha Braga. Em um ambiente à meia luz, de clima aconchegante. A Casa Outono é palco para shows intimistas e para públicos que prezam pela boa qualidade técnica do som. Além das apresentações musicais a casa também é café, bar e escola de música, com aulas da própria Celinha e também da amiga Babaya.

Show “Micro”

No final de semana do dia 18 de maio, a Casa Outono recebeu o músico paulista Maurício Pereira. Uma das metades do grupo Os Mulheres Negras – ao lado de André Abujamra – o músico, que é pai do cantor Tim Bernardes – vocalista do grupo O Terno – trouxe para BH seu novo show, baseado no disco “Micro”.

Em formação enxuta, Maurício foi acompanhado do músico Tonho Penhasco – que tocou uma guitarra especialíssima, construída pelo próprio – passeando por um repertório que cobriu boa parte de sua carreira e algumas surpresas bem especiais. De muito carisma e bom humor, Pereira conversou com o público ao longo de toda noite. Mas até essas conversas soavam como música aos ouvidos dos presentes, na medida em que eram acompanhadas por acordes de Tonho Penhasco. Maurício Pereira contou as histórias por trás de algumas de suas composições. Uma delas, “Pan y leche” — aliás, cantada em coro pela plateia da noite — surgiu após a explosão de uma panela de pressão em casa, enquanto cuidava de um ainda bebê Tim Bernardes.

Sofrências

Entre autorais canções de amor e versos com brincadeiras e jogos de palavras de um gesto poético marcante, o repertório contou com, digamos, duas “sofrências” de outros artistas: Marília Mendonça e Roberto Carlos, respectivamente, “Todo mundo vai sofrer” e “Namoradinha de um amigo meu”. De uma maneira mágica, os versos “Ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer” e “Eu sei que vou sofrer, mas tenho que esquecer, o que é dos outros não se deve ter” ganharam novos sentidos e se complementaram no diálogo criado por Pereira na Casa Outono. Para ele, ambas são composições fortemente “nelsonrodrigueanas”.

Trovoa

Um dos grandes sucessos de Pereira, a canção “Trovoa” emocionou os presentes. De letra extensa, que mergulha o ouvinte numa narrativa de amor que passeia por cenários marcadamente urbanos da capital paulista, a canção foi regravada por nomes como Metá Metá, A Banda Mais Bonita da Cidade e Maria Gadú. “Minha cabeça trovoa, sob teu peito eu encontro a calmaria e o silêncio no portão da tua casa no bairro”.

Literatura mineira e a música

Em diálogo com a literatura mineira, Pereira levou ao palco Adélia Prado e Murilo Rubião. Os versos da poeta mineira em “Canto para comover Jonathan” foram musicados pelo paulista: “Os diamantes são indestrutíveis? Mais é meu amor”. Já a literatura de realismo mágico de Murilo Rubião inspirou a letra de “A mais”: “E um vazio no meu bolso. Cadê alho, bugalho, tabaco, macuco, balão, bicicleta, mulher, maravilha? O gato comeu”.

Ao fim do show, numa noite disputada, com um público de aproximadamente 80 pessoas – a capacidade máxima da casa – Maurício Pereira retornou ao palco para “Um dia útil”, numa letra que narra o cotidiano de um artista da música, entre o trabalho e a vida familiar. Em um de seus versos, canta: “Eu, com medo da morte, e tudo mais, sonhando sozinho, eu me pergunto: Se quando a gente canta, alguém presta atenção na letra”. Pela atenção compenetrada, que deixou a conversa de lado para ouvir e cantar junto as composições do cantor paulista, quem esteve na Casa Outono prestou sim muita atenção nas letras de Maurício Pereira.

Oficina de Canções Instantâneas

Na segunda-feira, dia 20, Maurício Pereira voltou à Casa Outono para um novo encontro com o público. Mas, dessa vez, o artista não apresentou suas composições no palco da Casa, mas convidou os presentes para comporem juntos na Oficina de Canções Instantâneas.

Aberta tanto para profissionais quanto por leigos, a oficina contou com a participação de alunos de diferentes áreas e interesses, entre músicos profissionais, jornalistas, produtores e, também, aqueles que simplesmente gostam de ouvir uma boa música. Para muitos, foi uma primeira oportunidade de vivência em um processo de criação, enquanto Maurício Pereira, ao lado do parceiro Tonho Penhasco, comentou sobre técnicas, formatos e a tradição do gênero da canção.

Ao fim da oficina, a turma concluiu uma música inédita, a partir da colaboração de todos os presentes. Uma frase simples, um ritmo, uma imagem ou uma ideia, aos poucos, levaram ao desenho dessa composição. Foi uma oportunidade única de compartilhamento e de mergulho no processo criativo do artista.

Lançamento de livro

Outra parte importante da visita de Maurício Pereira à Belo Horizonte foi o lançamento de seu primeiro livro, “Minha cabeça trovoa – as letras que eu fiz e suas histórias”, publicado pela Editora Mireveja. O volume foi lançado em um bate-papo com o poeta Renato Negrão na Livraria Quixote no último sábado, 18 de maio.

No livro, Maurício apresenta suas letras acompanhadas de comentários acerca dos caminhos poéticos e criativos de seu trabalho. São textos em tom de conversa, bem ao estilo do artista, nos quais descreve cenas, pessoas, parcerias, angústias, dilemas, inspirações e influências.

Encontre “Minha cabeça trovoa – as letras que eu fiz e suas histórias” aqui

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural. Escreve sobre literatura aqui no Culturadoria e também em seu Instagram: @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel)

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