Unimed-Rio “dissolve” carteira e analistas monitoram impacto para uma empresa da Bolsa

A Unimed Rio concordou em transferir toda a sua base de beneficiários (453 mil beneficiários, segundo dados da ANS, ou Agência Nacional de Saúde Suplementar, de janeiro de 2024) para a Unimed Ferj (Unimed do Estado do Rio de Janeiro), de acordo com jornal O Globo. A transferência total está agendada para abril e não terá impacto nos beneficiários.

A transferência dos beneficiários inclui a transferência de obrigações e responsabilidades médicas. Em essência, a linha “contas a pagar” no balanço da Unimed-Rio deve ser honrada pelo novo proprietário da carteira, a Unimed Ferj. A decisão foi tomada em conjunto com a ANS, garantindo uma transição sem problemas, sem comprometer a qualidade da rede de prestadores de cuidados. Além disso, no cenário base do Itaú BBA, o contrato que a Oncoclínicas (ONCO3) tinha com a Unimed-Rio também deve ser mantido pela Unimed FERJ.

Na opinião do Itaú BBA, a decisão é consideravelmente melhor do que a empresa passar por uma reorganização financeira (conhecido como “Chapter 11” nos EUA ou Recuperação Judicial) ou liquidação, o que tornaria mais desafiadora a recuperação de contas a receber e a garantia do fluxo de pacientes.

Analistas do BBA também não acreditam que haverão mudanças significativas no fluxo de pacientes para a Oncoclínicas provenientes do acordo de exclusividade com a Unimed-Rio, mas é necessário aguardar mais detalhes sobre a solidez da parceria com o novo proprietário da carteira. No entanto, eles veem a exposição à carteira da Unimed-Rio diminuindo ao longo dos próximos trimestres, indo dos atuais 13-14% das receitas para aproximadamente 10% até o final do ano, à medida que a empresa continua a expandir operações, como a parceria com a Porto (PSSA3).

O JPMorgan, por sua vez, comenta que o movimento reflete a situação financeira precária da Unimed Rio, que está sob intervenção financeira e técnica da ANS desde 2016. Alguns portfólios menores da Unimed Rio já haviam sido transferidos para a Unimed Ferj.

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Embora os impactos financeiros de curto prazo devam ser pequenos, se houver, o JPMorgan tem opiniões mistas sobre suas possíveis implicações de longo prazo. Dessa forma, o banco americano acredita que as ações provavelmente reagirão negativamente aos desdobramentos, sendo que a Unimed Rio é o principal pagador da Oncoclínicas, representando cerca de 13% das receitas – ainda que abaixo dos quase 20% no momento do IPO de ONCO3, em 2021.

O JPMorgan lembra que a Oncoclínicas adquiriu recentemente participações da Unimed Rio em duas joint ventures, estendendo seus direitos de exclusividade e prioridade para o tratamento do câncer em seus planos de saúde por mais 25 anos – transação total avaliada em cerca de R$ 350 milhões.

Além disso, em novembro de 2021, a empresa anunciou uma joint venture com a Unimed Rio para um centro de câncer em seu hospital mais recente – investimentos de cerca de R$ 120 milhões. Nesse contexto, a Unimed Ferj está assumindo todas as responsabilidades de serviços médicos da Unimed Rio, preservando seus acordos de serviço e rede anteriores. Isso, por sua vez, daria à Oncoclínicas uma exposição maior a um pagador com melhor saúde financeira, enquanto a cessão fiduciária de recebíveis dos prêmios da Unimed Rio em favor da Oncoclínicas permanece.

Ainda assim, ao analisar a base de membros da Unimed Rio, ela foi erodida ao longo dos últimos doze meses, diminuindo de 760 mil para cerca de 453 mil vidas. E, como não há mudanças nos preços nesta transferência de portfólio, o JPMorgan tem preocupações de que permaneça uma base de membros não lucrativa, agora apenas nas mãos de uma nova entidade que, pelo menos por enquanto, não tem problemas financeiros.

O banco americano ainda destaca que esses beneficiários são fundamentais para trazer alavancagem operacional às principais operações da Oncoclínicas no Rio, enquanto ela ganha mais tração com outros pagadores na região. Por fim, analistas ressaltam os riscos de ter uma alta exposição ao sistema Unimed, onde muitos participantes operam com finanças precárias.

O JPMorgan mantém classificação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para ONCO3, com preço-alvo de R$ 17 (potencial de alta, ou upside, de 70% frente o fechamento de terça).

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