Bolsa argentina sobe 40 vezes mais do que Ibovespa em 2024; o que explica

O presidente da Argentina, Javier Milei, fala após receber o prêmio do Instituto Juan de Mariana por “uma defesa exemplar das ideias de liberdade” da presidente da Comunidade de Madri, Isabel Diaz Ayuso, em Madri, Espanha, 21 de junho de 2024. REUTERS/Violeta Santos Moura

O Merval, índice que mede o desempenho das ações de maior tamanho e liquidez da bolsa argentina, saltou 96% entre janeiro e meados de setembro deste ano, desempenho 40 vezes superior ao registrado pelo Ibovespa, que caiu 2,33% no mesmo período.

A alta do indicador, segundo especialistas, pode ser creditada ao polêmico plano de austeridade do presidente Javier Milei, que, apesar de ter sido criticado por alguns setores, ajudou os hermanos a reduzir inflação, manter o equilíbrio fiscal e registrar superávit fiscal primário em todos os meses deste ano.

“O governo tem cortado custos, reduzido subsídios e implementado leis, além de revitalizar antigas, com o objetivo de diminuir a burocracia e melhorar o ambiente de negócios. Embora a economia tenha desacelerado devido à redução dos gastos públicos, espera-se que, no médio e longo prazo, o país volte a crescer com o aumento do consumo e do investimento privado”, disse João Crapina, analista CNPI da Suno Research.

O Merval é composto por 21 empresas de oito segmentos diferentes. O grupo com maior peso é o de companhias do setor financeiro (37,3%), seguido por energia (24,2%), serviços essenciais (19%), matéria-prima (13,6%), mercado imobiliário (1,8%), produtos básicos de consumo (1,7%), comunicação (1,5%) e consumo discricionário (0,8%).

Dentro do segmento financeiro, um dos destaques é a ação da holding de serviços financeiros Grupo Financiero Galicia, baseado em Buenos Aires, que avançou 237% só neste ano. Entre as empresas de energia, uma das melhores perfomances é da estatal argentina de petróleo YPF, que entregou valorização de 72% nos primeiros nove meses de 2024.

Alta deve continuar?

Rafael Haubrich, head de offshore da Manchester Investimentos, disse que muitos fatores externos, macro e microeconômicos podem influenciar o preço dos ativos nos próximos meses, o que torna a projeção de preço no longo prazo imprevisível. No entanto, falou, o orçamento argentino para 2025, apresentado para ao Congresso na semana, chamou atenção dos investidores.

“Olhando para o maior foco de problemas do país, a recente apresentação do orçamento argentino para 2025 foi bem recebida pelo mercado, trazendo boas perspectivas para a economia Argentina, e pode favorecer os ativos caso seja executado conforme anunciado. Porém, há muitas dúvidas sobre a capacidade do país de cumprir todas as projeções, bem como a necessidade aprovação da “lei ônibus” pelo Senado argentino”, falou.

Quais os riscos?

Apesar de as medidas de austeridade terem repercutido positivamente no mercado de ações da Argentina neste ano, o cenário por lá ainda é incerto. Em uma escala de risco de 1 a 4 feita pelo grupo finaneiro Allianz, em que 1 é menos arriscado e 4 é o mais arriscado, a Argentina ainda está na posição 4. O Brasil, para efeito de comparação, tem risco médio, na posição 2. Os dados são de maio deste ano.

Alguns dos pontos levantados pelo Allianz são inflação estruturalmente alta; desequilíbrios macroeconômicos; quadro institucional enfraquecido; nove defaults soberanos (quando o país deixar de cumprir o pagamento de dívidas), sendo dois nos últimos 20 anos; escassez de reserva câmbio; e moeda fraca.

“O país ainda passa por um cenário desafiador, com inflação alta e depreciação cambial, o que pode gerar novas pressões políticas sobre o governo atual”, falou Haubrich.

Crapina, da Suno, disse que, embora Milei seja liberal, o histórico da Argentina mostra alta intervenção estatal no ambiente de negócios, o que prejudicou empresas, e as restrições cambiais impostas às companhias “pode afetar a capacidade de quitarem suas dívidas em moeda estrangeira, forçando-as a buscar refinanciamentos, que nem sempre são obtidos em condições favoráveis”.

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Veja desempenho das bolsas da Argentina e do Brasil, além dos principais índices do mundo:

Índice País Desempenho
Merval Argentina 96%
S&P 500 EUA 20,70%
Nasdaq 100 EUA 18,70%
Nikkei 225 Japão 13,65%
DAX 30 Alemanha 11,85%
FTSE MIB Itália 10,50%
Stoxx 600 Europa 7,45%
Hang Seng Hong Kong 6,49%
FTSE 100 Reino Unido 6,23%
CAC 40 França 1,21%
Ibovespa Brasil -2,33%
Fonte: Investing e TradingView
Data de corte: 23/09/2024

Como investir na Argentina?

Há algumas formas de investir em ações na Argentina. Uma delas é comprar papéis diretamente na bolsa. Para isso, é preciso abrir conta em uma corretora que dê acesso ao ambiente de negociação do país. Outra maneira é via ETFs (fundos de índice) com exposição a companhias listadas na bolsa. Um dos principais é o Global X MSCI Argentina (ARGT), que teve o melhor desempenho do mundo neste ano. No Brasil, investimentos internacionais são tributados a uma alíquota única de 15%.

Por que o Ibovespa cai?

A situação fiscal no Brasil é mais preocupante, o que afeta o desempenho do Ibovespa. A renomada gestora Verde Asset Management citou recentemente que os gastos do governo estão “descontrolados nestes primeiros 18 meses de mandato”, respigando nos juros e no mercado acionário local. Com receio, tanto a Verde como a Kapitalo Investimentos zeraram exposição à bolsa brasileira.

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