Musk não ameaçaria sair do Brasil se X fosse rentável como Google e Meta. Por Leonardo Sakamoto

Elon Musk. Foto: Divulgação

Por Leonardo Sakamoto

A operação do X (antigo Twitter) por aqui nunca foi rentável como a do Google (que tem o maior mecanismo de busca e o YouTube) e a da Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp). E ela tende a ficar ainda mais cara uma vez que o Brasil vem tentando impor às plataformas um padrão de cuidado semelhante ao que ocorre em países na Europa, o que demanda mais departamento jurídico, inteligência artificial e curadoria humana. E Elon Musk se incomoda em investir mais.

Em meio aos ataques a Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, Musk disse que fechará a empresa no Brasil mesmo que isso prejudique o seu lucro. A realidade pode ser o oposto: a manutenção da operação no Brasil tende a ser cada vez menos rentável e, portanto, menos interessante caso ele tenha que seguir as regras. E isso em um contexto em que a empresa despencou em valor de mercado e em receita publicitária nos EUA desde que ele a comprou.

Simplesmente desmontar uma operação no maior país da América Latina e demitir pessoas traria um ônus negativo para ele, que vende a imagem de empresário bem-sucedido. Daí, construir uma narrativa vem bem a calhar. Com todo o quiprocó que armou ao ameaçar com o descumprimento de decisões judiciais e saída do Brasil, agora ele pode fazer a mesma coisa e ainda vender a imagem de “paladino global da liberdade de expressão” e de “protetor mundial da democracia”.

Com a vantagem de também ajudar Donald Trump. Bolsonaro não é ninguém na fila global do pão, mas o Brasil serve como laboratório para as eleições norte-americanas em novembro. E a instrumentalização imediata das postagens do bilionário colocando em dúvida as instituições públicas nacionais mostram que esse tipo de ação funciona com determinados grupos.

Ele está muito menos preocupado com a liberdade latino-americana do que com seus próprios negócios e com a política interna nos Estados Unidos. Mostrou isso ao desistir do edital para internet por satélite no Brasil depois que ele foi revisado para evitar privilégios à sua Starlink. E com a Tesla perdendo força para a BYD chinesa, o liberal (sic) Musk sonha com o intervencionismo do Tio Sam para ajudá-lo.

Elon Musk ao lado de Donald Trump. Foto: Divulgação

Até agora, ele não devolveu à rede nenhuma conta ou postagem que havia sido suspensa por decisão judicial, ao contrário do que prometeu. Mas sugeriu aos usuários que quiserem continuar acessando a sua plataforma, que façam download de um aplicativo VPN – que mascara a origem do acesso e consegue, assim, burlar um eventual bloqueio do X/Twitter pela Justiça.

Isso não significa que Musk não acredite no que fala ou não siga um receituário que estimule a extrema direita global. Sim, ele acredita e sim seu comportamento agride a democracia sob a justificativa de protegê-la. Mas questões ideológicas são apenas parte da história, uma vez que ele mesmo já deixou claro que a sua liberdade para os negócios deve estar acima de tudo.

Em tempo: Imaginem um anunciante do X – sim, eles existem. Comprou um crédito na plataforma e vai promovendo seus anúncios. Em um dia, a plataforma sai do ar, não por um furacão ou por aliens que invadem a Terra provocados inadvertidamente pela SpaceX, ou seja, por motivos de força maior, mas porque seu dono usou a empresa para cometer crimes no Brasil.

O anunciante, além de ter direito à devolução dos valores pendentes, certamente conseguirá uma indenização por ter seu contrato descumprido de forma estúpida. Liberdade para os seus negócios, não para o dos outros, claro.

Originalmente publicado no UOL
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