Abaixo-assinado recolhe assinaturas em defesa da Orquestra Filarmônica de MG

Filarmônica de Minas foi surpreendida por manobra que tira do Instituto Cultural Filarmônica a gestão da Sala Minas Gerais. Mudança pode representar o desmonte do projeto.

Por Carol Braga

Cultura e Arte estão na solução, jamais no problema“, afirma Nair Ribas d’Ávila. “A cultura não pode ser desmanchada por políticos irresponsáveis“, acrescenta Orlando Pinto Rodrigues Júnior. “Isso é um retrocesso, é de uma ignorância sem limite!”, completa Maria Luiza da Silveira Bicalho. “A música clássica no Brasil já é desvalorizada. Não podemos deixar acabar o que já temos!’, defende Renata Maria Lobo Leite. 

Estes são apenas alguns dos comentários registrados no abaixo-assinado em favor da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais que está no ar desde o dia 07 de abril no site Change.org. Criado por Pietro Barbosa, em menos de 48 horas, mais de 30 mil pessoas apoiaram a causa. O número não para de crescer. “Para reforçar a importância da cultura no processo civilizatório e em contraposição a esse governo inepto, reacionário e obscurantista”, registra Dirceu Greco, um dos assinantes.

Entenda o caso

Na sexta-feira, dia 05 de abril, o Instituto Cultural Filarmônica, responsável pela gestão da Sala Minas Gerais e da Orquestra foi surpreendido por uma decisão do Governo de Minas. Em resumo: a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemge), proprietária do espaço, passou a administração do local para a Federação das Indústrias de Minas Gerais. Deste modo, o Serviço Social da Indústria (Sesi, o braço social da Fiemg) passaria a gerir o espaço. Assim, o acordo de cooperação técnica prevê que até o dia 31 de julho de 2024 a Orquestra desocupe a Sala Minas Gerais. 

Apoio popular

“Quando eu vi a notícia, não pensei duas vezes”, conta Pietro Barbosa. O criador do abaixo-assinado tem 27 anos e mora em Socorro, cidade do interior de São Paulo próximo a Águas de Lindóia e Serra Negra. Desde 2019, trabalha como regente e tem a Filarmônica de Minas no radar da inspiração. 

Embora não seja de Minas, em 2022, Pietro foi um dos ouvintes do Laboratório de Regência, promovido anualmente em Belo Horizonte. “Nos três dias de laboratório foi possível ver porque a Filarmônica é uma das melhores e principais orquestras do país. A qualidade é de outro mundo”. 

O maestro Pietro Barbosa. Foto: Heloísa Bortz.
O maestro Pietro Barbosa. Foto: Heloísa Bortz.

Inspiração

Pietro diz que “até passou mal” com a informação de que o projeto da Filarmônica estaria ameaçado. Afinal, na contramão, ele está criando uma orquestra cujo lançamento está previsto para maio. A Filarmônica Archi começou a se apresentar em 2023 como Camerata e agora vai estrear como Filarmônica. “Um dos principais objetivos é levar a música de concerto para os diversos públicos, incluir as pessoas que não tem acesso a uma sala de concertos”. 

A estreia da Filarmônica Archi será no dia 31 de maio, no Teatro J. Safra, em São Paulo. “Viagens sonoras” batiza o nome da primeira temporada e o concerto de estreia terá, por exemplo, a 4ª Sinfonia de Brahms e a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorak.

Para o jovem regente, ter uma casa fixa, um local para ensaio interfere na qualidade artística do projeto. “No caso da Sala Minas Gerais e também da Sala São Paulo, temos a tecnologia dos assentos pensados para proporcionar a mesma acústica, seja com a sala cheia ou vazia. Em questões de preparo isso é ótimo, pois já ensaiamos sabendo como a orquestra ou o coro vai soar, independente do espaço estar cheio ou não”, explica. 

Posicionamento do governo

O Governo de Minas, por intermédio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, esclareceu por nota que a responsabilidade pela administração do espaço cabe à Codemge. Segundo a nota enviada por e-mail, o contrato entre o Governo de Minas e o Instituto Filarmônica, em vigor desde julho de 2020, está fixado em R$ 19,5 milhões anuais, representando 60,72% dos recursos estaduais disponíveis para a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo, conforme o Decreto nº 48.777, de 9 de fevereiro de 2024. 

Ainda segundo o posicionamento do governo, “este contrato, válido até dezembro de 2024, é objeto de negociação anual para aditivos, e o Governo de Minas assegura o compromisso de cumprir suas obrigações conforme acordado. As tratativas para a renovação do contrato já estão em andamento, como é prática habitual”. 

História da Sala Minas Gerais

A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais existe desde 2008. Em 2015, mudou-se para a sede própria. Ou seja, a Sala Minas Gerais. O prédio é uma referência pelo projeto arquitetônico e acústico. Considerada uma das principais salas de concertos da América Latina, recebe anualmente um público médio de 100 mil pessoas. Conduzida pelo Diretor Artístico e Regente Titular, Fabio Mechetti, a Orquestra é composta por 90 músicos de todas as partes do Brasil, Europa, Ásia e das Américas.

“O descaso com a educação e a cultura nesse país é absurdo. Ser artista nesse país é lutar todos os dias pelo mínimo, pois não há valorização nem mesmo muitas vezes no próprio meio! Estamos todos cansados de ver o desmonte e as ameaças aos equipamentos culturais Brasil afora!”, protesta Pietro Barbosa.

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