Como Celso Amorim projeta relação entre Brasil e EUA após vitória de Trump

Donald Trump, presidente reeleito nos EUA, com camisa do Brasil dada por Bolsonaro. Foto: reprodução

Após a vitória expressiva de Donald Trump nas eleições estadunidenses, o assessor especial da presidência do Brasil, Celso Amorim, disse que acredita em um diálogo positivo entre Brasília e Washington. Em entrevista à rádio RFI, publicada neste domingo (10), Amorim ressaltou que a incontestabilidade do triunfo do republicano, aliada a seu pragmatismo, pode abrir espaço para negociações mais equilibradas com o Brasil e o mundo.

Participando do Fórum da Paz, em Paris, Amorim antecipou que a nova gestão Trump, embora tenha a ser marcada por uma postura conservadora, também pode se mostrar mais flexível. “A vitória indiscutível de Trump vai deixá-lo mais tranquilo em muitos pontos, e acho que ele pode chegar à conclusão de que, para que os EUA prosperem, o mundo também deve crescer”, disse.

Citando experiências passadas, como a relação positiva entre o governo Lula e o republicano George W. Bush, ele projetou um alinhamento pragmático. “Os republicanos, e especialmente Trump, demonstram um pragmatismo que, embora possa parecer egoísmo, acaba contribuindo para um certo equilíbrio mundial”, explicou.

Uma das principais preocupações globais com a nova presidência de Trump é a ameaça de uma nova saída dos EUA do Acordo de Paris, compromisso crucial para combater as mudanças climáticas. Amorim admite que a posição do presidente reeleito no tema é desafiadora, mas confia na possibilidade de negociação.

Segundo ele, o político de extrema-direita poderá rever algumas decisões se o diálogo for bem conduzido, especialmente considerando que as próprias populações norte-americanas enfrentam problemas relacionados à poluição.

“Eu acredito que a preservação do planeta é um interesse que Trump vai entender, até porque os EUA também sofrem com a poluição. Podemos dialogar e tentar mostrar que há vantagens econômicas em um modelo ambientalmente responsável”, afirmou Amorim. A retirada anterior dos EUA do Acordo de Paris foi um ponto de tensão entre governos, mas a expectativa do governo Lula é de que a diplomacia possa criar um entendimento mutuamente benéfico.

Assessor especial da Presidência, Celso Amorim. Foto: Agência Brasil

Amorim também abordou o complexo relacionamento do Brasil com a Venezuela, destacando que, embora haja divergências, o Brasil manterá um vínculo estratégico com o país vizinho. A recente eleição venezuelana, não reconhecida formalmente pelo Brasil devido à falta de transparência na divulgação das atas eleitorais, é um ponto de discordância.

Amorim ainda enfatiza que o governo brasileiro continuará suas relações diplomáticas com a Venezuela de maneira pragmática, buscando o interesse comum e a estabilidade regional.

“Nós esperávamos uma eleição justa e transparente, o que infelizmente não aconteceu. Mas, apesar das discordâncias, teremos uma relação de Estado a Estado. Não será um relacionamento afetuoso, mas de interesse mútuo, pois a integração sul-americana é uma prioridade, e a Venezuela tem papel central nesse processo”, afirmou.

Em resposta a declarações do presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, que o acusou de ser um “mensageiro dos EUA” e ameaçou declará-lo persona non grata, Amorim minimizou a situação. Para ele, esses comentários são reações emocionais e não alteram a visão de longo prazo sobre a importância da relação com a Venezuela.

“Eu não tomo isso pessoalmente. Se não for eu, será outra pessoa a manter essa relação. Temos uma embaixadora extremamente competente lá, a Glivânia Maria de Oliveira, que representa bem o Brasil em uma situação complexa”, completou.

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