“PCC já usou policiais para executar desafetos”, diz promotor sobre morte de delator

Lincoln Gakiya, promotor do Ministério Público de São Paulo. Foto: reprodução

O assassinato de Vinícius Gritzbach, executado no Aeroporto Internacional de Guarulhos na tarde da última sexta-feira (8), revelou a face mais sombria do crime organizado no Brasil. Para o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, o local e a forma como o a execução foi realizada foram escolhidos para enviar uma mensagem clara: na lei do crime, quem quebra o silêncio paga com a vida.

“Esse tipo de execução foi um recado. Ele poderia ter sido morto em outro lugar, mas escolheram o maior aeroporto do Brasil, lotado de gente, para reforçar a mensagem”, explicou Gakiya, que há mais de 20 anos combate o PCC.

Vinícius, que colaborava com investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC), era considerado um “arquivo vivo” da facção criminosa, com informações relevantes sobre lavagem de dinheiro, tráfico internacional e esquemas que envolviam agentes públicos e empresas.

O promotor, em entrevista ao jornal O Globo, afirmou que a principal hipótese sobre o assassinato é de que a autoria seja mesmo do PCC, mas não descarta que policiais possam ter participado do ato. Segundo Gakiya, “o PCC já usou, no passado, policiais corruptos ou ex-policiais para execução de seus desafetos”.

O representante do Ministério Público também explicou que “o PCC paga uma rede de agentes públicos”, embora não possa generalizar os agentes públicos. “A polícia, na verdade, é mais citada porque é a instituição que está na linha de frente, que recebe primeiro a proposta de corrupção”, emendou.

Embora a principal hipótese seja a de que o assassinato foi ordenado pela facção, o promotor não descarta outras possibilidades, como a participação de ex-policiais corruptos ou a disputa de interesses financeiros. Ele também destacou que o PCC depende da corrupção de agentes públicos em várias esferas, incluindo o sistema judiciário.

O empresário Vinicius Gritzbach, assassinado em Guarulhos. Foto: reprodução

O histórico de Vinícius com o PCC remonta a quase uma década, quando ele se tornou peça-chave na lavagem de dinheiro de líderes da organização. Em delações ao Ministério Público, ele revelou mecanismos usados para movimentar recursos ilícitos, tanto no Brasil quanto no exterior.

Um dos focos era a empresa UPBus, cujos dirigentes teriam sido cooptados pela facção para lavar dinheiro do tráfico e de outras atividades criminosas. “Ele nos trouxe provas, gravações e documentos. Mas era manipulador e omitia informações para proteger aliados”, relatou Gakiya.

Entre os temas mais sensíveis, estavam os esquemas de corrupção policial e o uso de empresas, como fintechs e clubes de futebol, para ocultar dinheiro do crime. Apesar de ter fornecido materiais relevantes, Vinícius foi advertido várias vezes por esconder provas e editar áudios entregues aos investigadores. Parte dessas gravações acabou sendo divulgada pela imprensa, revelando ameaças que ele enfrentava.

Mesmo sob proteção do sistema prisional, Vinícius estava jurado de morte pelo PCC, que o responsabilizava por homicídios de membros da facção. “Para o PCC, não importa o resultado da Justiça. Ele seria morto de qualquer forma”, disse Gakiya.

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