Museu Inimá de Paula recebe coleção de obras produzidas durante o Regime Militar 

A mostra “Política e Vanguarda (1964/85) na coleção Lili e João Avelar” fica em cartaz até 18 de agosto de 2024, no Inimá de Paula

A partir desta quarta-feira, dia 17 de abril, o Museu Inimá de Paula abre as portas para que o público possa conhecer um acervo de aproximadamente 300 obras produzidas durante o regime militar. A mostra “Política e Vanguarda (1964/85) na Coleção Lili e João Avelar” reúne trabalhos que revelam motivações políticas e sociais dos artistas. Assim, evidenciam profundas transformações de linguagens que deram origem a práticas experimentais e conceituais no Brasil.

Apresentando um conjunto diversificado de obras e meios, o curador da exposição e colecionador, João Avelar, reuniu trabalhos que convergem na tomada de posição frente aos dilemas éticos e sociais contemporâneos. Desse modo, quem visitar o Museu Inimá de Paula poderá compreender as nuances e desdobramentos de questões estéticas centrais que marcaram as artes visuais de 1964 a 1985. São desenhos, fotografias, pinturas e esculturas, que poderão ser vistos pelo público até o dia 18 de agosto.

Caráter contestatório

O curador da nova mostra do Museu Inimá de Paula lembra que foi sobretudo nos anos 1960 e 1970 que uma recusa aos meios tradicionais da arte se fez mais notada. Tal qual, uma busca por referências ao mundo contemporâneo, com obras marcadas por um caráter transgressivo e contestatório. Desse modo, a seleção lança luz sobre a arte como ferramenta de transformação e reflexo do mundo. “Ao reunir este conjunto de experiências de vanguarda e apresentá-las de forma sistematizada, a exposição sublinha a originalidade da arte brasileira produzida naquele período”. Tal qual, a coexistência de “múltiplas tendências”.

Décio Noviello

O mineiro Décio Noviello terá um destaque especial na mostra do Inimá de Paula. Assim, serão apresentadas pinturas, desenhos, gravuras, fotografias e vídeo. O conjunto inclui o registro da ação realizada na exposição “Do Corpo à Terra”, de 1970. Na ocasião, o artista, então capitão do exército, utilizou granadas de uso exclusivo pelas forças armadas, para “pintar” o Parque Municipal e o Palácio das Artes.

Artistas que foram presos

Do mesmo modo, a experiência de artistas que foram presos políticos durante o regime é contemplada no Inimá de Paula. Caso do conjunto de 30 desenhos feitos por Carlos Zílio em 1970/71, quando esteve preso no Rio de Janeiro. Tal qual, dois desenhos de Sérgio Sister, também de 71, feitos no Presídio Tiradentes, em São Paulo. A atmosfera de violência e sufocamento nesse período aparece em obras de Artur Barrio, Anna Bella Geiger, Antonio Manuel, Antônio Henrique Amaral, Cildo Meireles e Gabriel Borba Filho, entre outros.

Contra o imperialismo

Do mesmo modo, as disputas simbólicas que confrontavam o projeto nacionalista do regime militar e o posicionamento dos artistas revela-se no conjunto de obras que tem como tema a bandeira nacional, bem como as ideias de nação. Neste recorte, destacam-se trabalhos de Carlos Vergara, Glauco Rodrigues, Luiz Alphonsus e Samuel Szpigel. São obras que dialogam com a reação dos artistas contra o imperialismo estadunidense, também expresso em obras de Antônio Henrique Amaral, Cláudio Tozzi e Mario Ishikawa.

Nova Figuração

Também estão na mostra do Museu Inimá de Paula trabalhos de artistas como Antônio Dias, Rubens Gerchman, Carlos Vergara, Roberto Magalhães e Pedro Escosteguy, entre outros. São expoentes que, no Rio de Janeiro, ocuparam posição de destaque no grupo conhecido como Nova Figuração. Em São Paulo, na mesma época, alguns artistas que até então se destacavam no movimento concreto, tais como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Maurício Nogueira Lima e Judith Lauand, migraram para experiências figurativas.

Obra de Rubens Gerchman (1942-2008), artista que foi fundador da EAV Parque Lage (Luz Comunicação/Divulgação)
Obra de Rubens Gerchman (1942-2008), artista que foi fundador da EAV Parque Lage (Luz Comunicação/Divulgação)

De São Paulo merecem destaque, ainda, os trabalhos de Cláudio Tozzi, Nelson Leirner, Marcelo Nitsche e Samuel Szpigel, com críticas de cunho social, através de obras irreverentes. Esses artistas trouxeram para o campo das artes visuais as referências de imagens banais do dia a dia e do kitsch. Desse modo, pareciam imbuídos do que o artista Hélio Oiticica chamaria de uma “linguagem pop híbrida”. Merece registro a presença de “O Presente”, de Cybele Varela. A obra foi submetida à censura e retirada da Bienal de 1967, antes mesmo de sua abertura, por determinação da Polícia Federal.

Mineiros

A exposição ““Política e Vanguarda (1964/85)” ainda apresenta, no Inimá de Paula, uma ampla gama de artistas que não se limitavam ao eixo Rio-São Paulo. Caso, por exemplo, dos mineiros Manfredo Souza Neto, Carlos Alberto Nemer e Lótus Lobo.

Do mesmo modo, os gaúchos Avatar Moraes, Glauco Rodrigues e Pedro Escosteguy; bem como o pernambucano Paulo Bruscky. E, ainda, o sul-mato- grossense Humberto Espíndola, entre outros.

Obra de Paulo Bruscky, expoente da arte conceitual brasileira (Luz Comunicação/Divulgação)
Obra de Paulo Bruscky, expoente da arte conceitual brasileira (Luz Comunicação/Divulgação)

Feminino

É notável, na coleção cujo recorte o Inimá de Paula apresenta, a presença de um conjunto representativo da produção feita por artistas mulheres. Na verdade, a aquisição, em 2003, de uma obra de Wanda Pimentel, da série “Envolvimentos”, foi disparadora de um olhar dos colecionadores sobre a produção das artistas do período. Assim, hoje, a coleção conta com obras de grande relevância.

Trabalho da artista plástica ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino (Museu Inimá de Paula/Luz Comunicação/Divulgação)
Trabalho da artista plástica ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino (Museu Inimá de Paula/Luz Comunicação/Divulgação)

São trabalhos de artistas como Letícia Parente, Anna Bella Geiger, Amélia Toledo, Claudia Andujar, Cybele Varela, Judith Lauand, Regina Vater, Regina Silveira, Ana Vitória Mussi, Lenora de Barros, Lygia Pape, Mira Schendel, entre muitas outras. Desse modo, para além das questões relacionadas aos papéis sociais da mulher e da representação do corpo feminino, as obras iluminam as estratégias experimentais e conceituais adotada pelas artistas brasileiras nesse período.

Coleção

O acervo de Lili e João Avelar é tido como uma das coleções de arte brasileira mais importantes do país, com foco na segunda metade do século passado. Assim, conta com obras que estiveram presentes em exposições de relevância para a historiografia da arte brasileira. E continuam em circulação em mostras institucionais de peso, dentro e fora do Brasil. Caso da coletiva International Pop, organizada pelo Walker Art Center (Minneapolis) e apresentada também no Dallas Museum of Art e no Philadelphia Museum of Art.

A Coleção Lili e João Avelar esteve presente também em coletivas recentes realizadas no Brasil, como “AI 5 50 anos – Ainda não Terminou de Acabar”, apresentada no Instituto Tomie Ohtake.

Serviço

Política e Vanguarda (1964/85) na coleção Lili e João Avelar”

Quando. De 17 de abril a 18 de agosto de 2024

Onde. Museu Inimá de Paula (Rua da Bahia, 1.201, Centro)

Horário de visitação. Terça, quarta, sexta e sábado das 10h às 18h30 | quinta das 12h às 20h30 | domingos e feriados das 10h às 16h30

Quanto. Entrada Gratuita

Visitas Guiadas

Agendamento através de email

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