Trama golpista: kid preto indiciado pela PF tentou abrir conta no banco e ativar celular em nome de laranjas

O tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo: ele disse que utilizou técnicas de anonimização para não ser identificado em “missões sensíveis”. Foto: reprodução

O tenente-coronel da ativa Rodrigo Azevedo, indiciado na quarta-feira sob suspeita de envolvimento em um plano de golpe de Estado, revelou à Polícia Federal (PF) que empregava técnicas de anonimização em “missões sensíveis” conduzidas pelas Forças Especiais do Exército, os “kids pretos”.

Segundo um relatório da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), Azevedo confessou ter usado dados de terceiros para ativar o chip de um celular e abrir uma conta bancária. Os dados, conforme o militar, eram obtidos em grupos do Telegram, frequentemente utilizados por golpistas, e a pessoa cujas informações foram utilizadas não tinha conhecimento disso, conforme informações do Globo.

De acordo com os investigadores, membros das Forças Especiais foram mobilizados para executar o plano chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que tinha como objetivo capturar e “neutralizar” o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF.

A ação estava prevista para 15 de dezembro de 2022, mas foi abortada por um usuário ainda não identificado. Os militares usavam codinomes de países, como Japão, Alemanha e Brasil, em um grupo secreto no Signal, além de celulares registrados em nome de terceiros.

A PF apurou que Azevedo ativou o celular associado ao codinome “Brasil” em 29 de dezembro. O aparelho, no entanto, estava na região da casa de Moraes, em Brasília, no dia do suposto plano. Azevedo alegou que na data estava em Goiânia celebrando seu aniversário e afirmou desconhecer qualquer articulação antidemocrática.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao lado de Mário Fernandes, um dos membros dos Kids Pretos indiciados pela PF. Foto: reprodução

O militar justificou que o celular rastreado foi retirado dias depois no Comando de Operações Especiais do Exército (Copesp), em Goiânia. Sua defesa apresentou comprovantes de compras realizadas na cidade nesse período como prova de que ele estava na capital goiana.

A PF, entretanto, levantou dúvidas sobre o depoimento, apontando a ausência de registros formais do Exército que confirmem a retirada do aparelho. Azevedo afirmou que o anonimato é uma prática comum em operações das Forças Especiais: “Então, doutor, isso aí é uma prática que acaba sendo feita, a gente que trabalha com missões sensíveis, de anonimizar o celular realmente. Minha intenção era ter esse celular para anonimizá-lo realmente”.

Ele também detalhou como obteve o celular, descrevendo uma sala com uma caixa contendo diversos aparelhos antigos. “Lá existe um cafofo (…) em que existia uma caixa com muitos celulares. Muitos celulares mesmo (…). E eu questionei lá para o pessoal sobre esses celulares. E eram celulares que tinham sido utilizados no período dos grandes eventos. Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas e outras missões que tinham sido utilizadas. No meio desses celulares tinha um aparelho que aparentava ser um pouco mais novo. Eu peguei esse celular e até falei: ‘vou testar esse celular aqui, se ele estiver funcionando eu vou ficar com ele para utilizar em coisas de serviço, viagem a trabalho, etc’”.

Outro ponto destacado pela PF foi o uso de dados de terceiros para abertura de contas bancárias. Azevedo inicialmente negou ter usado informações de uma pessoa identificada como “Gilliard”, do Rio Grande do Sul, mas depois admitiu que “talvez” tenha feito o cadastro.

“Eu não lembro dessa ligação. Mas esse nome aí eu lembro que é um dos nomes que talvez eu tenha cadastrado”, afirmou em seu depoimento. Ele ainda declarou: “Não, o que eu falei aqui, esse nome possivelmente é um dos que eu cadastrei no celular. E essa conta do [banco] era algo que eu estava tentando realmente fazer”.

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