Comunicação transparente

editorial

  O presidente Lula, de acordo com os últimos boletins médicos e pelo relato dos próprios médicos, passa bem, mas a comunicação do Planalto, nem tanto. Desde a primeira operação, ocorreram problemas de comunicação, o que é inadmissível, sobretudo quando se trata do chefe do Governo. A comunicação transparente também deve sr ágil. O boletim da primeira cirurgia só foi divulgado quando a operação já havia sido realizada, e em nenhum momento se falou da operação de guerra para transferi-lo para o Hospital de São Paulo durante a madrugada.

  A cirurgia da manhã desta quinta-feira também mostrou-se problemática, pois só foi divulgada na véspera, em um boletim que dizia que ela estava programada. Ora, se estava prevista, por que não se falou dessa segunda etapa quando foram apresentados os informes da cirurgia que removeu a hemorragia, ainda fruto da queda do presidente no banheiro?

  Essas falhas produzem desinformação e inundam as redes sociais de fake news e memes. Ainda com ecos das eleições, a cirurgia aflorou sentimentos mórbidos nas redes sociais, enfatizadas por notícias sem o menor sentido. Até mesmo bem-intencionados entraram no discurso da dúvida em torno da saúde do presidente, questionando, além disso, as razões de o vice-presidente Geraldo Alckmin não ter sido convocado para dirigir o país provisoriamente.

  Como o presidente não está fora de suas faculdades mentais, não havia sentido chamar o vice, o que só aumentaria as especulações. Em 1985, quando o presidente eleito Tancredo Neves foi internado no Hospital de Base, em Brasília, as notícias também foram desencontradas, neste caso, pela falta de informações sobre seu real estado de saúde. Mesmo em crise, Tancredo escondeu a doença para garantir a sua posse e, por extensão, a governabilidade. Ainda havia sérias dúvidas sob a disposição de o regime militar passar o poder para as mãos de um civil.

  A madrugada que antecedeu a posse foi marcada por tensão e duras conversas, uma vez que uma expressiva parcela militar não aceitava a posse de José Sarney. O vice-presidente despertava desconfiança por ser visto como um traidor. Afinal, de presidente da Arena ele migrou para o MDB e virou parceiro de chapa do ex-governador de Minas. Ao fim e ao cabo, tomou posse sob a guarda do presidente da Câmara Federal, Ulysses Guimarães, e cumpriu integralmente o mandato de cinco anos reservado para Tancredo.

  Como Tancredo ainda estava internado, a mudança de poder ocorreu, mas o brasileiro passou pelo menos três meses entre a preocupação e a incerteza. A cada relatório da equipe liderada pelo professor doutor Henrique Walter Pinotti era apresentado um cenário. Até uma foto do presidente com a equipe médica foi publicada para destacar que ele estava em plena recuperação. Até que, na noite de domingo, 21 de abril de 1985, o porta-voz Antônio Brito interrompeu o Fantástico para dizer que “o excelentíssimo senhor presidente da República, Tancredo Neves, morreu agora à noite!”.

Lula está bem, mas as imagens de 30 anos atrás e a falta de um porta-voz oficial para apresentar os fatos causam preocupação. É fundamental dar total transparência ao tratamento, a fim de se criarem antídotos para as fake news. 

  O presidente sabe da importância da comunicação, e, não por acaso, já manifestou interesse em mexer em sua equipe. Sabe, pois, o quanto ela é importante.

 

 

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