Sucesso de “Ainda Estou Aqui” escancara falta de investimento no cinema nacional

Cartaz do filme “Ainda Estou Aqui”, que pode vencer Oscar. Foto: reprodução

O filme “Ainda Estou Aqui”, lançado há pouco mais de um mês, superou blockbusters como “Wicked” e “Gladiador 2”, atingindo 2,5 milhões de espectadores no Brasil. Apesar do sucesso, ele se destaca como uma exceção em um mercado que ainda luta para recuperar seu espaço após a pandemia e os cortes no setor cultural durante o governo Bolsonaro.

Embora o Brasil tenha produzido, em 2023, 212 filmes até setembro, segundo a Ancine, muitos desses títulos enfrentaram dificuldades para se manter em cartaz, com muitos sequer aparecendo nas telonas. Mesmo com a cota de tela e as leis de incentivo, que garantem verba e espaço para produções nacionais, o público para filmes brasileiros caiu 53% desde 2019.

Na França, para efeito de comparação, o cinema nacional é tratado com um forte senso de orgulho e políticas consistentes. Lá, a taxação de empresas de comunicação e plataformas de streaming há décadas financia o setor audiovisual. O país também limita o número de salas que podem exibir produções estrangeiras. Medidas como essas permitem que sucessos franceses rivalizem com blockbusters estadunidenses nas bilheterias, como aconteceu com “Les Tuche 3” em 2019.

A Coreia do Sul segue o mesmo caminho. Desde sua redemocratização, o país investe na integração do cinema à educação formal, fomentando uma indústria cultural que hoje lidera bilheterias e conquistou reconhecimento internacional, incluindo o Oscar de Melhor Filme para “Parasita”.

Bong Joon Ho, diretor do filme sul-coreano “Parasita”, vencedor do Oscar de melhor filme. Foto: reprodução

Já no Brasil, iniciativas semelhantes enfrentam entraves. A regulamentação do streaming, que propõe tributar plataformas como Netflix e YouTube para investir no setor, está parada desde abril no Congresso. O país também carece de uma política industrial consistente para o audiovisual, defende Walkiria Barbosa, produtora e fundadora do Festival do Rio.

Segundo especialistas, os investimentos no Brasil não contemplam todas as etapas da produção, sendo o marketing uma das áreas mais deficitárias. “Não adianta produzir 200 filmes por ano se não existe uma política de mercado”, afirma Barbosa.

Outro obstáculo é a escassez de salas de cinema. Atualmente, o país conta com 3.481 salas, concentradas principalmente em grandes centros urbanos e pertencente a grupos que priorizam a os filmes de Hollywood, deixando milhares de municípios sem acesso ao cinema.

Exemplos internacionais demonstram que o hábito de ir ao cinema não surge espontaneamente; é necessário um estímulo constante, sustentado por políticas públicas sólidas.

Em entrevista à Folha, Rodrigo Teixeira, produtor de “Ainda Estou Aqui”, afirmou que a produção brasileira tem potencial para ser uma ferramenta de fortalecimento da autoestima nacional, mas isso exige maior vontade política. Sem ela, o Brasil continuará exportando talentos e ficando atrás na corrida pelo protagonismo cultural.

Conheça as redes sociais do DCM:
⚪️Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Adicionar aos favoritos o Link permanente.