Chavoso da USP critica “perspectiva de classe média branca” de “Ainda Estou Aqui”

Cena de “Ainda Estou Aqui”

O youtuber Thiago Torres, o Chavoso da USP, postou um vídeo com uma crítica ao filme “Ainda Estou Aqui”. Chavoso denuncia o que ele percebe como uma perspectiva elitista e branca, salientando que, para a grande maioria da população negra e de baixa renda no Brasil, as questões de violência policial e repressão ainda são uma realidade persistente, mesmo após o término da ditadura militar.

Ele argumenta que os personagens negros são retratados de forma superficial e critica a falta de profundidade na exploração do ativismo de Eunice Paiva em favor dos direitos indígenas.

“O ponto de vista não é do povo”, declara Chavoso. A produção é outro problema, de acordo com Chavoso: o diretor, o bilionário Walter Salles, é filho do diplomata e ex-ministro Walther Moreira Salles, fundador do Unibanco, posteriormente comprado pelo Itaú, em parceria com a GloboPlay, da Globo, “golpista, antidemocrática e manipuladora”.

“O que eles passam como coisa do passado a gente passa até hoje na favela”, declara Chavoso, que sentiu sono nos primeiros trinta minutos.

Defendendo Chavoso, a professora e pesquisadora J. Tavares, mestranda em História Social na USP, argumenta contra a crítica de que o filme deveria se concentrar apenas na perspectiva de uma família de classe média. Ela enfatiza que uma abordagem crítica não se restringe ao objeto retratado, mas também à perspectiva adotada.

Ela aponta para a ênfase dada à perseguição aos setores médios da sociedade, enquanto se mantém um silêncio sobre a violência sofrida por indígenas, camponeses e moradores das periferias. “Acusam o Chavoso de querer que o filme tenha a perspectiva dele, mas o que ele faz no limite é negar a universalidade da narrativa de classe trazida no filme”, diz.

Além disso, ela discute como a memória do regime militar foi moldada por aqueles que emergiram do período com influência política, criticando o PT por sua tendência à conciliação e falta de confronto direto. “Vou deixar aqui um artigo sobre essa disputa de memória pra ajudar a pensar o tema: Recordar é vencer: as dinâmicas e vicissitudes da construção da memória sobre o regime militar brasileiro (2015) repositorio.usp.br/item/002753158″, afirma.

Já a colunista da Folha Mariliz Pereira Jorge, num texto confuso (mais um), afirma que as pessoas que não gostaram do longa estão com medo de confessar por causa da “censura” que “tem sido exercida por quem diz defender a democracia”.

Segundo Mariliz, que defendia que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) pudesse ser chamada de puta, “não vale como argumento afirmar que as pessoas são livres para opinar e arcar com as consequências quando isso soa como ameaça de retaliação. Quem se identifica com o campo progressista já deve ter se percebido calando ou calibrando opiniões para que estas não destoem do discurso estabelecido pela militância. Ou se valendo disso para agradar convertidos”.

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