Pai de estudante executado pela PM publica carta aberta a Lula: “Inferno de fatos”

Marco Aurélio Cardenas Acosta e Julio Cesar Acosta Navarro. Foto: Divulgação

O médico Julio Cesar Acosta Navarro, pai do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, que foi morto com um tiro disparado por um policial militar durante uma abordagem na madrugada do dia 20 de novembro, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, publicou uma carta aberta nas redes sociais direcionada ao presidente Lula. O policial responsável pelo disparo foi indiciado por homicídio doloso.

Na carta, divulgada 30 dias após a morte de seu filho, Julio Cesar, que também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), faz um apelo ao presidente Lula para que se tome providências efetivas em relação à violência policial, que tem sido recorrente no estado.

O médico pede mudanças estruturais e políticas para evitar que mais famílias passem pela dor de perder um ente querido em circunstâncias como as que ele e sua família enfrentaram.

Confira a carta:

Carta de um pai que teve o filho assassinado pela política de insegurança pública do governador de São Paulo: Sr. Luiz Inácio Lula da Silva

Excelentíssimo Presidente da República Federativa do Brasil

Com o maior respeito e admiração que sempre tive pela sua trajetória de vida, gostaria que você ouvisse as minhas palavras.

Hoje cumpre-se 30 dias após a pior tragédia que destruiu minha vida e de toda a minha pequena família. O assassinato do meu filho Marco Aurélio, estudante de quinto ano da faculdade de medicina, cheio de saúde e alegria, da maneira mais cruel e covarde, pelo Estado de São Paulo, às mãos de membros da PM e com a cumplicidade de toda a hierarquia superior.

Cada manhã que acordo eu não encontro aquele meu garoto amante do futebol, da música e cheio de carinho. Sinto a  dor dilacerante, angústia e raiva, de lembrar as últimas imagens dele me pedindo para salvá-lo, deitado numa sala de emergência, em choque hemorrágico, sussurrando: “Pai, me ajuda, pai, me ajuda..”. Hoje não tenho vida nem essência, nada.

Os policiais militares Guilherme Augusto Macedo e seu comparsa Bruno Carvalho do Prado, atiraram covardemente à queima-roupa no meu filho que usava um short e um chinelo, por opção de sua personalidade.

Violência contra pessoas pobres e atitudes racistas, como foi o caso do meu filho, foram demonstradas pelos crimes sobre outras pessoas e pelo sofrimento de famílias que se somaram à nossa tragédia, que é amplamente conhecida.
Atitude aprendida muito bem nas academias militares com certeza.

Nesse inferno de fatos, ressalta a figura de Guilherme Derrite, chefe superior da PM que, apesar de ser um oficial com antecedentes e frases incentivando a morte e violência, paradoxal e inexplicavelmente é responsável pela segurança dos cidadãos.

Finalmente o Sr. Governador Tarcísio de Freitas, célebre pela sua crueldade e desprezo pelo sofrimento de famílias, desafiando até a ONU, se burlando do público e afirmando publicamente que não estava “nem aí” incentivando a mais assassinatos pela PM sobre gente humilde.

Tarcísio, após 40 horas de pressão total de toda a mídia, anunciou um lamento público hipócrita e uma promessa de punição severa aos culpados. Somente que, pelo que vi com muita dor nestes trinta longos dias de uma justiça sem tempo, assassinos não sendo presos, os chefes da PM dando declarações à grande mídia com falsidades sobre o meu filho e outros dando risadinhas passeando em jatos particulares, Tarcísio não disse quando faria isso.

Apelo ao Sr. Presidente, minha última esperança para aliviar a dor da minha família, de outras mais e poder amanhã salvar nossos próprios filhos.

Dr. Julio Cesar Acosta Navarro.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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