Governo Milei ataca salário mínimo: “Se há pessoas dispostas a trabalhar por menos, não se pode contratá-las”

O presidente de extrema-direita da Argentina, Javier Milei. Foto: Juan Mabromatta/AFP

O salário mínimo na Argentina é de 279 mil pesos, o que equivale a 230 dólares, por volta de 1420 reais. Esse valor é insuficiente para cobrir a cesta básica, e, segundo estatísticas oficiais, quem recebe esse montante por um mês de trabalho é classificado como pobre. Apesar disso, o governo de Javier Milei considera que estabelecer um salário mínimo por lei é prejudicial ao funcionamento do mercado de trabalho e acredita que essa política será extinta no futuro.

“Conceitualmente, ter um salário mínimo é um erro. Se houver pessoas dispostas a trabalhar por menos do que esse salário, o esquema não permite contratá-las”, afirmou o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, durante uma conferência de imprensa nesta quinta-feira. A remuneração mínima é válida para trabalhadores formais, mas também serve como base para definir aposentadorias e é usada como referência para cerca de 40% dos trabalhadores do mercado informal. “Esperamos que, quando a Argentina estiver completamente normal, o salário mínimo deixe de existir”, completou Adorni.

Desde que Milei assumiu a Presidência há um ano, o salário mínimo aumentou 80%. No entanto, a inflação anual, que atingiu quase 120%, fez com que os trabalhadores de renda mais baixa continuassem sendo os mais prejudicados. Uma família típica de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças) precisa de um milhão de pesos por mês para cobrir as necessidades básicas, valor que não seria alcançado mesmo se ambos os pais ganhassem o salário mínimo estabelecido por lei.

Nesta quinta-feira, os sindicatos criticaram o governo por aumentar o salário mínimo em apenas 3% por decreto, justificando a medida com a falta de consenso entre os partidos, enquanto os sindicatos pediam um reajuste de aproximadamente 70%. A Confederação Geral do Trabalho, o maior sindicato do país, acusou o governo de atuar “a favor dos interesses empresariais e contra os trabalhadores”.

Defendendo a decisão, Manuel Adorni argumentou que a remuneração mínima, medida em dólares, está no maior patamar dos últimos cinco anos. “Em 2019, ela era de 210 dólares, caiu abaixo de 200 nos anos seguintes e subiu para 231 dólares no final de 2024”, declarou. Os dados apresentados na conferência de imprensa, porém, baseiam-se no câmbio de mercado, não na taxa oficial.

De acordo com o Centro de Pesquisa e Treinamento da República Argentina, o salário mínimo no país atingiu um declínio histórico. Seu valor real é “inferior ao que vigorou durante a maior parte da década de 1990 e na crise do corralito de 2001-2002”.

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