Oito perguntas sobre o banquete que intoxicou o Judiciário de Santa Catarina. Por Moisés Mendes

Luciano Hang de roupa verde e amarela, sério, em fundo de foto azul com bolinhas brancas
O empresário Luciano Hang – Divulgação

Vamos elencar perguntas que promotores, procuradores, juízes de primeira instância, desembargadores de tribunais estaduais e ministros das altas Cortes podem estar formulando sobre o jantar tóxico de 16 de dezembro, oferecido por Luciano Hang a desembargadores de Santa Catarina. O resultado foi terrível para pelo menos dois deles, que tiveram que se afastar de processos envolvendo o sujeito, e para a imagem do Judiciário. Eis as perguntas:

1. Qual é o objetivo de um grande empresário, talvez o mais poderoso de Santa Catarina, com vários processos em julgamento na Justiça do Estado e fora dele, ao convidar um grupo de desembargadores para um jantar em Brusque? Para que conhecessem uma casa restaurada, diz dele. Por que só desembargadores e juízes faziam parte do grupo que estava na mesa? O que Hang quis demonstrar com esse banquete, mesmo sabendo os riscos que corria e que poderia expor os magistrados?

2. Por que desembargadores da mais alta Corte de Santa Catarina aceitaram o convite para um jantar com o empresário, se eles mesmos formulam, em audiências, às partes de um processo, a pergunta clássica sobre se essas partes têm relação de amizade? E ainda perguntam se as partes frequentam as casas umas das outras. Como um juiz frequenta a casa de um empresário, numa mesa festiva, se julga ou vai julgar casos desse empresário? Com que objetivo?

3. Por que só dois desembargadores se declararam suspeitos para continuar julgando processos em que o anfitrião é parte? Os demais não têm nada a declarar ou a explicitar? Não precisam dizer nada? Só dirão ao Conselho Nacional de Justiça, que abriu investigação sobre o jantar? A sociedade catarinense não merece explicações?

4. As notícias são de que oito ou 10 desembargadores e dois juízes participaram do jantar. Só o Estadão conseguiu identificar todos (segundo o jornal) os desembargadores e juízes que estavam no jantar. Informa o Estadão que estiveram em Brusque os desembargadores André Carvalho, Ernani Guetten de Almeida, Gilberto Gomes de Oliveira, Haidée Denise Grin, Jairo Fernandes Gonçalves, José Everaldo Silva, Saul Steil e Stephan Klaus Radloff, além dos juízes Sérgio Agenor de Aragão e Leandro Passig Mendes. Nenhum deles tem relação de proximidade ou amizade anterior com o véio da Havan? Por que eles foram escolhidos?

5. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina tem 96 juízes desembargadores. O número de juízes de um tribunal estadual varia em cada Estado. Desses 96 juízes do TJSC, certamente a grande maioria não participaria desse tipo de evento. Mas quantos mais poderiam ter participado e recusaram o convite? E quantos desses 96 juízes estão constrangidos com a participação de colegas no banquete de um sujeito que tem inquéritos em andamento também fora de Santa Catarina, alguns sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes?

6. Por que a maior parte da grande imprensa abandonou as pautas sobre investigações envolvendo o véio da Havan? Por que não falam mais nada, há muito tempo, sobre o inquérito das fake news? E sobre o relatório da CPI da Pandemia, que o relaciona, entre outros 78 nomes, como suspeito de incitação ao crime? Por que nenhum jornal relembra que dois celulares do empresário, apreendidos em agosto de 2022 (em inquérito sobre ataques às instituições), nunca foram abertos pela Polícia Federal? Por que os jornalões são tão covardes?

7. Por que, apesar de investigado em várias frentes, há mais de quatro anos, o empresário continue impune?

8. Quem tem medo do véio da Havan, na imprensa e no sistema de Justiça?

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

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