Brasil tem pena de morte para furto de sabão enquanto festeja quem sonega. Por Leonardo Sakamoto

Prédio sede do Supremo Tribunal Federal (STF) e a estátua da Justiça com as marcas da destruição causada pelo protesto golpista feito por bolsonaristas no 8 de janeiro – Foto: Pedro Lacerda

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

O nosso país é um paraíso para quem é muito rico e dribla o Imposto de Renda, pagando proporcionalmente menos que a classe média. O governo Lula nem encaminhou ainda a sua proposta de taxar quem ganha mais de R$ 600 mil por ano e não paga, pelo menos, 10% de imposto, e já ouviu muito ranger de dentes.

Bilhões em dividendos foram enviados ao exterior nas últimas semanas. Credita-se, em parte, a gente rica que queria se proteger da hipótese futura de taxação.

Mas nem precisavam se preocupar porque, neste momento, a chance de aprovação pelo Congresso Nacional desse mecanismo é baixa. Com isso, o ajuste fiscal não socializou a chicotada, que foi dada apenas no lombo de quem depende de salário mínimo, BPC e abono salarial.

No mesmo país em que sonegador de milhões é tido como herói e exemplo a ser seguido pois venceu o “Estado gastador”, Gabriel da Silva Soares, que roubou pacotes de Omo líquido em uma unidade do Oxxo, em São Paulo, foi alvejado com 11 tiros nas costas pelo policial militar Vinicius de Lima Britto à paisana.

E Bruno Barros e Yan Barros, tio e sobrinho, que furtaram quatro pacotes de carne de uma unidade do Atakarejo, em Salvador, foram encontrados mortos com sinais de tortura e marcas de tiro. Seguranças do mercado os entregaram a traficantes para que fossem punidos.

Bruno Barros e Yan Barros, tio e sobrinho, que furtaram quatro pacotes de carne de uma unidade do Atakarejo, em Salvador, e foram encontrados mortos com sinais de tortura e marcas de tiro – Foto: Reprodução

Em ambos os casos, comentários nas redes sociais justificavam as mortes com “bandido bom é bandido morto” — típico de uma sociedade doente que, cansada de impunidade, resolveu trocar o senso de Justiça pelo apoio ao justiçamento.

Não se tem notícia de que sonegadores, que evitam que bilhões sejam investidos em educação, saúde, transporte e segurança, precisem se preocupar com esse comportamento miliciano. Pelo contrário, o que se vê são eles sendo invejados.

Como falta amor no mundo, mas também falta interpretação de texto, está coluna não defende que ricos sejam executados com tiros nas costas nas calçadas ou espancados até a morte em quartinhos escuros. Mas deseja que a justiça, seja ela social ou tributária, alcance a todos. Desejo cuja hipótese de se concretizar é semelhante ao tal camelo passar pelo buraco da tal agulha.

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