Fernanda Torres faz história e conquista o Globo de Ouro

Fernanda Torres conquistou o Globo de Ouro como melhor atriz de drama pela sua atuação como Eunice Paiva, em ‘Ainda Estou Aqui’. O longa dirigido por Walter Salles narra a história de Eunice Paiva e sua luta após o desaparecimento do marido, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar.

“Foi um ano incrível para os desempenhos de tantas atrizes aqui que eu admiro tanto. Claro, que quero agradecer ao Walter Salles, meu parceiro, meu amigo. Que história, Walter!”, declarou a brasileira durante o seu discurso. “Quero dedicar esse prêmio à minha mãe. Vocês não têm ideia! Ela estava aqui há 25 anos. Isso é uma prova de que a arte dura na vida até durante momentos difíceis pelos quais a Eunice Paiva passou. Com tantos problemas hoje no mundo, tanto medo, esse é um filme que nos ajudou a pensar em como sobreviver em tempos como esse”, disse.

Fernanda Torres disputava com Nicole Kidman por ‘Babygirl’, Angelina Jolie por ‘Maria Callas’, Kate Winslet por ‘Lee’, Tilda Swinton por ‘O Quarto ao Lado’ e Pamela Anderson por ‘The Last Showgirl’.

É a primeira vez que o Brasil vence um prêmio individual no Globo de Ouro. Em 1999, Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, foi indicada por ‘Central do Brasil’ – que venceu como melhor filme de língua estrangeira -, mas perdeu a estatueta para Cate Blanchett por ‘Elizabeth’.

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Além de mãe e filha, o Brasil já foi representado por Sônia Braga –indicada em três oportunidades (‘O Beijo da Mulher Aranha’ e ‘Luar sobre o Parador’, e na série ‘Amazônia em Chamas’); Wagner Moura concorreu em melhor ator em série dramática, por ‘Narcos’, em 2016; e Daniel Benzali, indicado em 1996 na categoria de melhor ator em série de drama por seu papel na série ‘Murder One’.

“No Brasil, as pessoas levam para o lado pessoal, algo patriótico aconteceu com esse filme. Estou muito feliz. Gostaria de dizer que o Globo de Ouro fez o Brasil um país muito feliz hoje. Celebro e estou muito orgulhosa em ser uma das razões dessa alegria”, discursou Fernanda.

Na véspera da premiação, a artista não parecia muito confiante na vitória. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ela classificou como “praticamente impossível” levar a estatueta para casa. “A chance de alguém falando português levar um prêmio desse tamanho é praticamente nula”.

A representatividade da vitória de Fernanda Torres fica ainda maior quando se olha para o histórico da premiação. Ela é apenas a quarta atriz de língua não inglesa a ser premiada. Antes dela, apenas a sueca Liv Ullmann e as francesas Anouk Aimée e Isabelle Huppert ficaram com a estatueta.

Frustração

A vitória de Fernanda Torres apagou um pouco da frustração pela derrota de ‘Ainda Estou Aqui’ na categoria de Melhor Filme de Língua Não Inglesa para o francês ‘Emília Perez’.

O longa protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e conta a história da família Paiva, que foi destruída pelo regime militar durante o período da ditadura.

A personagem principal da história é Eunice Paiva (Fernanda Torres), esposa de Rubens Paiva (Selton Mello), deputado que foi cassado durante o golpe de 1964, chegou a ficar exilado, foi levado pelos militares e nunca voltou para casa.

Eunice dedica a sua vida a conseguir provar que o marido foi morto pelos oficiais logo após ser preso. Ela também chegou a ser levada para “prestar esclarecimentos”, mas acabou liberada após 12 dias em uma cela isolada sem ver a luz do sol. Eliana, uma dos cinco filhos do casal, ficou detida por 24 horas.

Uma das cenas mais marcantes acontece quando Eunice finalmente consegue a certidão de óbito do marido. Rubens Paiva foi morto em janeiro de 1971, mas o documento só saiu em 1996 após lei do governo Fernando Henrique Cardoso que determinou que as pessoas desaparecidas durante a ditadura fossem consideradas mortas. Eunice foi um importante nome na luta para esse reconhecimento.

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