O prêmio de Fernanda Torres é uma vitória contra o fascismo. Por Thiago Suman

Fernanda Torres venceu o prêmio de Melhor Atriz em Filme de Drama por sua atuação em “Ainda Estou Aqui” – Foto: Reprodução

Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro. Trará para casa o troféu de Melhor Atriz, 25 anos depois de sua mãe, Fernanda Montenegro, ter concorrido na mesma categoria. É emocionante, um enredo e tanto.

Mas o prêmio, o primeiro que vem para o Brasil, faz a mala de Fernanda voltar com mais bagagem do que a linda estatueta, além, é claro, de uma importante credencial para também disputar o Oscar na mesma categoria.

O que pesa muito, e deve ser amplamente reforçado pelo campo progressista, é que este momento é, sim, um marco civilizatório diante da fenda aberta pelo fascismo.

Primeiro, não se deve jamais esquecer que Jair Bolsonaro cuspiu na estátua de Rubens Paiva em 2014, durante a cerimônia de inauguração do busto do deputado na Câmara Federal.

Estátua em homenagem ao deputado Rubens Paiva, assassinado no período do regime militar – Foto: Reprodução

Além disso, essa conquista representa uma janela de oportunidade para a arte brasileira ser novamente impulsionada no mundo todo e deixar como legado esse verdadeiro arrastão que tem levado multidões aos cinemas de todo o país — algo que já não acontecia há tempos.

Sim, a arte, inimiga mortal dos funestos ignorantes, aquela que resiste quando nossa voz nos falta, que nos representa e é, acima de tudo, uma trincheira de luta, retomou vitalidade com a queda do inelegível cuspidor.

Essa mesma arte, desidratada, negligenciada e vilipendiada por Bolsonaro, voltou a ocupar a prateleira alta da sociedade no governo Lula. O cinema, em especial, terá em 2025 cota obrigatória de exibição para filmes nacionais nas salas do país, conforme decreto assinado pelo presidente no final do ano passado.

Bolsonaro posando ao lado de cartaz que ironizava as buscas por desaparecidos políticos da ditadura, quando era deputado – Reprodução/Facebook

A história do filme em que Fernanda brilha é também um bálsamo para o momento que vivemos: Ainda Estou Aqui é o filme de Walter Salles que adapta o livro de Marcelo Rubens Paiva e narra a saga da ativista Eunice Paiva em busca do reconhecimento, por parte do Estado brasileiro, da morte de seu marido, o deputado Rubens Paiva, assassinado nos porões da ditadura militar.

Justamente no início do ano em que os golpistas militares e Bolsonaro, que atentaram contra a democracia em 2022, enfrentarão o banco dos réus e certamente serão sentenciados pelos barbarismos que planejaram, o filme de uma aguerrida mulher que enfrentou o sistema por justiça contra os abusos da ditadura nos coloca na vitrine mundial.

A consciência coletiva brasileira pode finalmente fazer as pazes com o passado ao suturar a ferida ainda aberta pela ditadura, caso puna os golpistas contemporâneos. Como simbologia, teremos a representação artística e o orgulho verdadeiramente patriótico de vermos uma das mais brilhantes atrizes do nosso país trazer um prêmio tão almejado, dando vida a um capítulo necessário de ser relembrado, e afirmando ao mundo que o Brasil está em processo de reconstrução.

Selton Mello e Fernanda Torres choram após vitória da atriz no Globo de Ouro – Foto: Reprodução

Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres, o cinema nacional e a valorização da arte retomada pelo governo federal criam o ambiente necessário para começar a fechar o portal da ignorância orgulhosa do fascismo e retirar a extrema-direita da ágora pública. Que comece a faxina, pois não só “ainda estamos aqui”, como seguiremos sempre aqui.

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