Por que a taxação ao aço importado não animou Usiminas e outras ações do setor?

As ações da siderúrgica Usiminas (USIM5) seguem em queda na sessão desta quarta-feira (24), contrariando algumas estimativas de que uma recuperação depois da queda na sessão pós-balanço. A recuperação esperada se daria muito por conta da decisão do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior do Brasil (Gecex) de elevar imposto de importação de 11 produtos de aço e estabelecer cotas de volume de importação para esses produtos.

O anúncio do Gecex, contudo, foi feito no meio da tarde da última terça, enquanto o mercado estava aberto, e mesmo assim a ação não esboçou reação, fechando em queda de 13,91%.

Alguns analistas atribuíram a queda ao maior foco do mercado nas sinalizações da siderúrgica pós 1T24 e na falta de detalhes sobre a taxação do aço externo. Assim, projetaram recuperação, mas que não se efetivou. Às 15h10 (horário de Brasília) desta quarta, os papéis USIM5 caíam 4,07%, a R$ 8,74. Por outro lado, outros destacaram o anúncio como importante, mas insuficiente em meio à invasão do “aço chinês”. Isso, somado ao cenário visto como menos positivo para USIM5, faz com que as ações sigam em queda. CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4), mesmo em menor intensidade, também não mostraram tanto ânimo após o anúncio.

Cabe destacar que houve aumento da tarifa de importação de aço de 14% para 25%, mas essa elevação passa a ser válida para um grupo seleto de 11 tipos de produtos de aço (NCMs), e figurarão como alíquota complementar incidida apenas sobre a diferença entre o volume total de importação e à cota média registrada entre 2020 e 2022, aponta a Genial. Quando não houver volume excedente, a alíquota permanecerá os 14%.

“Nossa visão é de que a medida não representa uma solução que dê respaldo as necessidades integrais da indústria de aço brasileira e o número de NCMs contemplados está abaixo dos 30 produtos que o IABr havia solicitado em seu pleito”, avalia a casa de research.

A medida é tomada em um contexto em que a indústria siderúrgica brasileira tem enfrentado dificuldades com o aumento das importações chinesas, pressões de preços e demanda fraca, ressalta o BTG Pactual. “Esses desafios reduziram a lucratividade a níveis semelhantes as mínimas de vários anos, lembrando a recessão de commodities de 2014-15. O setor tem sido vocal sobre suas dificuldades e as autoridades têm tomado conhecimento”, avalia o banco.

Para os analistas, a medida pode ajudar a restaurar a lucratividade do setor, embora o momento e a extensão sejam altamente questionáveis. “É importante notar que o Brasil não está sozinho nessa luta, já que muitos países estão adotando medidas semelhantes em resposta ao aumento das importações baratas (chinesas). A indústria já experimentou reduções significativas de capacidade e demissões, motivando essa resposta. Em termos práticos, isso apresenta uma oportunidade para os produtores locais de aço recuperarem alguma participação de mercado das importações e ajustarem os preços gradualmente”, avalia o BTG.

Assim, para o banco, embora essa medida possa não ser tão ampla e agressiva quanto deveria, deve trazer um alívio para as empresas da indústria.

A notícia, por sinal, é relativamente mais importante para aços planos (mais suscetíveis à pressão de importação). Ou seja, analistas ressaltam que o impacto é maior justamente para a Usiminas, líder no mercado de aços planos no Brasil.

“Acreditamos que o novo sistema de cotas tarifárias é positivo para as siderúrgicas nacionais sob nossa cobertura. As 11 NCMs selecionadas para serem abrangidas pela política representaram 43% do total das importações de aço do país em 2023. Dada a sua maior exposição ao mercado nacional de aços planos, em relação ao negócio geral da empresa, a Usiminas deverá se beneficiar ao máximo do atual escopo do sistema proposto”, ressaltou o Morgan Stanley, que esperava antes da abertura do mercado uma reação positiva das ações na sessão, o que não ocorreu.

Por outro lado, os analistas ponderaram que quantificar o impacto é um desafio, pois depende do mix de produtos de cada empresa, que não é divulgado e pode variar ao longo do tempo, bem como do impacto da política nos preços internos dos produtos selecionados, que é difícil de prever.

Com a visão de uma notícia positiva, mas ainda insuficiente para impulsionar os papéis, somando-se ainda à decepção com Usiminas no curto prazo, o mercado segue reticente com a siderúrgica. Os resultados do 1T24 em si não fugiram muito às projeções, mas a estimativa para o 2T24 foi vista como bastante desanimadora e suscitou revisões para baixo no mercado. A Usiminas sugeriu um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) relativamente estável em sua divisão siderúrgica, com volumes e preços estáveis, e custos ligeiramente superiores (valorização do real e mixde vendas compensando ganhos de eficiência). Quanto à sua divisão de mineração, a empresa está orientando vendas estáveis de minério de ferro no próximo trimestre.

“A reação negativa do mercado a esses resultados foi em função da orientação fornecida pela Usiminas de que os resultados ficarão relativamente estáveis em sua divisão siderúrgica no 2T24, não especificamente em relação aos números apresentados no 1T24 – observamos que os investidores esperavam melhorias contínuas nos resultados, seguindo os ganhos de eficiência do alto-forno 3”, destacou o Bradesco BBI.

A XP ressaltou que, embora veja com satisfação os esforços da empresa para aumentar a eficiência após a reforma do alto forno 3, também tem uma perspectiva cautelosa para o 2T24 após as indicações da empresa de volumes e preços de aço estáveis no próximo trimestre, com o custo de produtos vendidos (CPV) por tonelada (t) como principal surpresa negativa, que deverá ser afetado negativamente pelo mix de produtos e pela recente desvalorização do real. Além disso, com o capital de giro agora mais próximo dos níveis normalizados e sem visibilidade de aumentos nos preços do aço no futuro próximo, vê espaço limitado para melhorias significativas no FCL (fluxo de caixa livre) ao longo de 2024. Os analistas da casa reiteram recomendação neutra para a Usiminas, mesma recomendação do BTG, sendo que BTG e Morgan Stanley apontam Gerdau como principal escolha no setor.

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