O mistério da música de Erasmo Carlos que virou tema de “Ainda Estou Aqui”. Por Roger Worms

Erasmo Carlos: sua música “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo” é tema do longa “Ainda Estou Aqui” – Foto: Reprodução

A canção “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” foi lançada em 1971 no clássico álbum Carlos, Erasmo, fruto da colaboração entre Erasmo e Roberto. Aborda a necessidade de ação diante das adversidades e injustiças observadas na sociedade.

Embora não seja explicitamente política, muitos interpretam a letra como uma resposta ao clima opressivo da ditadura militar brasileira vigente na época. Talvez seja a única “canção de protesto” assinada por Roberto, que diz não se lembrar dela.

A produção do álbum contou com a colaboração de músicos notáveis, incluindo a participação especial de Lanny Gordin nas guitarras de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”.

Outros nomes importantes, como Sérgio Dias Baptista, Liminha e Dinho, também participaram, representando uma contribuição fundamental de parte dos Mutantes, exceto Arnaldo e Rita Lee.

No filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, a canção é utilizada de forma marcante para sublinhar a narrativa. O longa, que retrata a luta de Eunice Paiva para descobrir o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar, utiliza a música para enfatizar a resistência diante da opressão.

A inclusão da canção de Erasmo Carlos reforça a ambientação histórica e emocional da trama, conectando o público à atmosfera da época e ressaltando a urgência de “dar um jeito” diante das injustiças.

“Ainda Estou Aqui” recebeu três indicações ao Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres.

Essas nomeações são históricas para o cinema brasileiro, especialmente pela indicação na categoria principal de Melhor Filme.

A canção “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” desempenha um papel fundamental no filme, servindo como uma ponte entre a narrativa pessoal de Eunice Paiva e o cenário político mais amplo do Brasil durante a ditadura. Sua mensagem de ação e mudança ressoa profundamente com os temas centrais do longa, amplificando o impacto emocional e histórico da obra.

Cartaz de “Ainda Estou Aqui” – Foto: Reprodução

Erasmo comentou, em 2021, sobre o culto tardio ao LP de 1971, mesmo ano dos trágicos eventos contra a família Paiva. “As pessoas consideram esse disco como meu melhor trabalho, mas eu gosto mesmo é do anterior: Erasmo Carlos e os Tremendões. O Carlos, Erasmo é o que eu chamo de meu primeiro disco adulto. Mas foi no Tremendões que eu comecei a liberar minha mente, com gravações como Coqueiro Verde, Saudosismo e Teletema. Foi ali que eu comecei a botar as asinhas de fora. Ele foi meu vestibular para a fase adulta.”

Erasmo também enfrentou problemas com a ditadura militar naquele mesmo ano. Sua música “Maria Joana”, com uma referência evidente à maconha, enfrentou dificuldades para ser liberada pela censura militar. Ele acrescenta sua reflexão nostálgica: “O mundo todo involuiu. Não era esse o mundo que eu imaginava nos anos 1970. Eu achava que as coisas seriam mais esclarecidas, mais modernas, mais fáceis. Eu imaginava a ciência do bem prevalecendo sobre a ciência do mal. Estou decepcionado com o mundo, inclusive com as pessoas.”

As mesmas pessoas que levaram crianças pelas mãos enquanto prendiam seus pais, torturavam e assassinavam aqueles contrários ao regime militar, continuam a existir em uma sociedade que permaneceu amortecida e ignorante. A presença de milhões de espectadores em salas lotadas para assistir ao filme é simbólica: um recado poderoso de uma sociedade que busca compreender um momento histórico e enfrentar as chagas daqueles que tombaram pela liberdade democrática.

A trajetória de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” e seu lugar na cultura brasileira permanecem relevantes, ecoando o desejo de mudança e respeito que ressoa até hoje, em um mundo onde é essencial valorizar as diferenças e as transformações para evitar as garras da ignorância e do totalitarismo.

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