Escândalo da carne podre: polícia investiga revenda de 800 toneladas para consumo humano

As polícias do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul estão em busca de respostas sobre o destino de 800 toneladas de carne podre, originalmente destinadas à produção de ração animal, mas que acabaram sendo revendidas para consumo humano. O caso começou a ser investigado após uma denúncia que expôs o desvio da carga.

O ponto de partida do esquema foi em Canoas, no Rio Grande do Sul, logo após as enchentes que atingiram a região no ano passado. Com toneladas de carne submersas durante a tragédia, um frigorífico local decidiu vender a carga como “resíduos salvados” para a empresa Tem Di Tudo Salvados, de Três Rios, no Rio de Janeiro. O acordo, no entanto, previa que o material fosse destinado exclusivamente à produção de ração animal, o que não ocorreu.

De acordo com as investigações, a Tem Di Tudo repassou o produto para uma empresa de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que o vendeu a outra companhia em Minas Gerais.

Em uma reviravolta inesperada, a carne voltou ao frigorífico de Canoas, onde foi identificada pelas numerações nos lotes das embalagens. A empresa, ao perceber que se tratava da mesma carne anteriormente vendida para descarte, acionou a polícia.

As imagens obtidas pelas autoridades revelam o estado deplorável da carne, que chegou a ser “maquiada” para parecer própria para consumo. A operação incluiu lavagem para remover vestígios de lama e a troca das embalagens originais por caixas que simulavam produtos nobres importados do Uruguai.

Durante as investigações, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da Tem Di Tudo, onde encontrou evidências contundentes. Entre os itens recolhidos estavam duas toneladas de carne em avançado estado de decomposição, medicamentos vencidos e produtos de beleza fora do prazo de validade. Um dos pacotes de carne podre, etiquetado como picanha, foi comprovado pela perícia como originário do frigorífico do Rio Grande do Sul.

Quatro pessoas foram presas, incluindo dois sócios da Tem Di Tudo, o operador de logística e o gerente da empresa, Sílio José Marino. Em depoimento, Marino admitiu que esteve em Porto Alegre em 2024 para coordenar o transporte da carne contaminada, distribuída em 30 caminhões para diferentes regiões do país. Contudo, ele não revelou os destinos exatos da carga. A polícia agora analisa as notas fiscais para rastrear os locais de entrega.

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A Vigilância Sanitária alertou que carne submetida a enchentes não é segura nem mesmo para ração animal, devido ao alto risco de contaminação que pode causar graves infecções ou até a morte. Helen Keller Barreto, superintendente do órgão no Rio de Janeiro, reforçou que esse tipo de material deve ser descartado integralmente.

Escândalo da carne podre: polícia investiga revenda de 800 toneladas para consumo humano

O delegado Wellington Vieira, responsável pelo caso, expressou indignação com a atitude dos envolvidos. Segundo ele, a tragédia no Rio Grande do Sul deveria ter despertado solidariedade, e não ações criminosas.

Enquanto isso, a Prefeitura de Canoas afirmou ter orientado os comerciantes locais a descartar alimentos expostos à água das enchentes, e a Polícia Civil do Rio Grande do Sul declarou que a venda original da carne para a Tem Di Tudo foi legal, com notas fiscais devidamente emitidas. Contudo, a responsabilidade pelo descarte correto cabia à compradora.

Os presos estão atualmente no presídio de Benfica, no Rio de Janeiro, enquanto as investigações seguem em andamento para identificar possíveis pontos de venda e evitar maiores danos à saúde pública.

 

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