Projeto Stargate: o papel da IA na hegemonia dos EUA e na guerra informacional

Imagem da projeção do futuro da IA. Foto: Divulgação

Por Reynaldo Aragon

Por trás da fachada de progresso tecnológico, o Projeto Stargate emerge como um pilar estratégico do governo Trump. Com o apoio das big techs e uma visão ideológica que conecta o Vale do Silício ao trumpismo, a iniciativa revela como a IA é instrumentalizada para ampliar o domínio dos EUA na disputa global por poder, atacando a soberania informacional e cognitiva de nações periféricas.

Por trás da fachada de progresso tecnológico, o Projeto Stargate emerge como um pilar estratégico dos Estados Unidos para consolidar sua hegemonia global. Com apoio de gigantes tecnológicas como OpenAI, Oracle e SoftBank, a iniciativa revela a instrumentalização da inteligência artificial (IA) como ferramenta de dominação informacional e cognitiva, principalmente sobre nações do Sul Global.

Anunciado em 2025 com investimentos iniciais de US$ 100 bilhões, o Projeto Stargate integra-se à estratégia geopolítica dos EUA em um cenário de crescente rivalidade com China e Rússia. A colaboração entre o governo e big techs demonstra uma relação simbiótica onde o trumpismo fornece base ideológica, e o Vale do Silício, as ferramentas tecnológicas.

Sob promessas de avanços como cura de doenças e geração de empregos, o Stargate atua como arma de guerra híbrida, utilizando tecnologia de ponta para vigilância, manipulação de narrativas e desestabilização política.

O complexo civil-militar dos EUA historicamente une tecnologia, economia e poder militar. No Stargate, a IA se torna o epicentro dessa aliança, potencializando vigilância e guerra psicológica. Exemplos como o programa Prism e o software israelense Pegasus ilustram como tecnologias de espionagem já são usadas para monitorar, manipular e desestabilizar alvos estratégicos.

A construção de data centers avançados amplia a capacidade de controle global, operando em redes sociais para moldar narrativas e amplificar desinformação. Além disso, a integração de algoritmos avançados permite que os EUA não apenas monitorem informações em tempo real, mas também antecipem tendências sociais e políticas, utilizando essas previsões para moldar ações de guerra híbrida. Essa capacidade coloca o Stargate na vanguarda de operações psicológicas globais, consolidando a supremacia informacional estadunidense.

Nações periféricas enfrentam desafios críticos diante do avanço do Stargate. A dependência tecnológica e informacional mina iniciativas de soberania, enquanto a manipulação de dados e narrativas reforça a submissão a interesses externos.

No Brasil, campanhas de desinformação já influenciaram eleições e desestabilizaram instituições democráticas. O uso de fake news durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro exemplifica como estratégias de manipulação informacional remodelaram o cenário político brasileiro.

Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

Com o Stargate, essas dinâmicas podem se tornar ainda mais sofisticadas, utilizando IA para criar divisões sociais de forma cirúrgica. Além disso, a concentração de poder informacional nas mãos de big techs norte-americanas representa uma barreira significativa para esforços locais em desenvolver autonomia tecnológica e resistir à influência externa.

A competição entre Estados Unidos, China e Rússia é intensificada pelo Stargate. Enquanto a China investe em projetos como a Nova Rota da Seda Digital e a Rússia foca em cibersegurança, os EUA utilizam o Stargate para reforçar sua supremacia, atacando blocos como os BRICS. No Brasil, a dependência de infraestruturas norte-americanas limita avanços em soberania informacional e tecnológica, fragilizando a posição do país no cenário global.

Além disso, a exclusão da Huawei de redes 5G e o bloqueio de tecnologias chinesas são estratégias utilizadas pelos EUA para conter avanços de competidores. No entanto, esses movimentos aprofundam divisões globais e aumentam a vulnerabilidade de nações periféricas, que se tornam palco de disputas entre potências. Resistir ao imperialismo digital exige iniciativas locais e cooperação internacional.

Os BRICS e outras alianças buscam alternativas, mas enfrentam barreiras estruturais. Movimentos sociais e iniciativas de letramento digital no Sul Global desempenham papel crucial para empoderar populações contra manipulações informacionais. Além disso, o fortalecimento de infraestruturas soberanas, como redes nacionais de dados, é fundamental para reduzir a dependência tecnológica.

Iniciativas como o desenvolvimento de uma nuvem soberana no Brasil e o fortalecimento da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) são exemplos positivos, mas ainda insuficientes. Além disso, é essencial fomentar parcerias regionais para criar plataformas digitais independentes e fortalecer políticas coordenadas de cibersegurança.

O Projeto Stargate representa uma etapa avançada do imperialismo tecnológico, onde a IA é instrumentalizada para perpetuar desigualdades e consolidar o poder dos EUA. Contudo, ele também evidencia a necessidade de resistência organizada, com foco na construção de soberania informacional e no uso emancipatório da tecnologia. Sob a ótica do materialismo histórico-dialético, o desafio é transformar a inovação tecnológica em ferramenta de liberdade e justiça social, em vez de dominação.

Para enfrentar os desafios impostos pelo Stargate, é fundamental combinar iniciativas locais de resistência com alianças globais que promovam a autonomia tecnológica e informacional. Somente por meio de esforços coordenados será possível reverter as dinâmicas de exploração e controle, construindo um futuro onde a tecnologia sirva ao progresso humano, e não à perpetuação do poder imperialista.

Reynaldo Aragon Gonçalves é jornalista, Coordenador Executivo da Rede Conecta de inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática, é membro pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC – INCT DSI) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberania Informacional (INCT DSI).

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