Meio milhão de brasileiros ‘vendeu a íris’ para ‘prima’ do ChatGPT antes de proibição do governo

Dispositivo usado para escancear a íris. Foto: Divulgação

Um projeto que registrava a íris dos cidadãos brasileiros como forma de criar uma “impressão digital” avançada, a fim de diferenciar humanos de robôs, sofreu alterações importantes após a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) intervir na sexta-feira (24).

O programa, chamado World, oferecia uma recompensa em criptomoedas para os participantes, mas, a partir de sábado (25), não poderá mais remunerar os envolvidos, de acordo com a determinação da ANPD. A iniciativa começou a atrair atenção principalmente em São Paulo, onde o número de participantes disparou nos últimos meses.

No entanto, com o aumento das adesões, surgiram preocupações sobre a privacidade e os riscos associados ao compartilhamento de dados sensíveis. A ANPD argumentou que o pagamento oferecido poderia comprometer a “livre manifestação de vontade dos indivíduos”, especialmente em áreas de vulnerabilidade social.

O projeto, fundado pela Tools for Humanity, com o apoio de grandes nomes como Sam Altman (CEO da OpenAI), vinha sendo amplamente promovido através de redes sociais e boca a boca. Moradores de várias regiões da cidade, especialmente da periferia, foram incentivados a escanear sua íris em troca de criptomoedas, sem muitas informações claras sobre os riscos ou o uso futuro desses dados.

Alex Blania e Sam Altman, fundadores da Tools for Humanity, empresa que opera projeto da Worldcoin. Foto: Divulgação

Para participar, o processo era simples: baixar o aplicativo World App, registrar-se, fazer o escaneamento da íris em pontos de verificação e aceitar os termos e condições. Até a última sexta-feira, os participantes podiam ganhar até R$ 600 em criptomoedas, mas a regulamentação da ANPD proibiu que a empresa continuasse a oferecer essa remuneração.

Especialistas em direito digital, como Patrícia Peck e Rafael Zanatta, apontam preocupações com a clareza das informações fornecidas aos participantes e destacam que o projeto pode estar violando a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A advogada Peck apontou que os termos de uso do aplicativo contêm cláusulas abusivas, enquanto Zanatta destacou a falta de clareza e liberdade dos participantes ao fornecerem seus dados sem entender completamente como e para quais fins seriam utilizados.

Além disso, questões relacionadas ao armazenamento e fragmentação dos dados de íris também geram questionamentos. Embora a World afirme que os dados são descentralizados e fragmentados em servidores de “terceiros confiáveis”, especialistas em privacidade têm dúvidas sobre a segurança e o destino desses dados a longo prazo.

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