Fim do “sonho americano”: a humilhação dos brasileiros deportados por Trump é só um aperitivo

Na noite de sexta-feira (24), um grupo de deportados dos Estados Unidos desembarcou em Manaus em condições que chamaram atenção: algemados e com os pés acorrentados, como mostram imagens registradas no momento em que deixavam o avião. A aeronave, que partiu dos EUA com 158 pessoas a bordo, tinha como destino final Belo Horizonte, com uma conexão programada na capital amazonense.

Segundo o Itamaraty, 88 são brasileiros. Oficiais americanos desejavam mantê-los em correntes até a chegada de outra aeronave vinda dos EUA. No entanto, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, vetou a continuidade do uso das algemas, argumentando que, em território brasileiro, esses indivíduos são cidadãos livres, tornando a medida uma questão de soberania nacional.

Diante disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) autorizou o envio de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para assumir o transporte do grupo. A aeronave chegou a Manaus na tarde deste sábado (25) para realizar a operação.

O “sonho americano” virou um pesadela para essas pessoas, muitas delas apoiadoras do racista Donald Trump.

A bispa Mariann Edgar Budde, da Diocese de Washington, emergiu como uma voz de serenidade e apelo à misericórdia. Suas palavras numa missa nesta semana, dirigidas a Trump, ganharam repercussão internacional após ela criticar ações e discursos divisivos que, segundo ela, fomentavam o desprezo e a fragmentação do tecido social.

Em entrevistas concedidas à NPR e ao programa The View, ela explicou que seu objetivo era contrapor uma narrativa divisiva e polarizadora, sem recorrer ao desprezo ou à hostilidade. Embora tenha sido alvo de ataques, Mariann reafirmou sua posição de não enxergar Trump como inimigo, mas como alguém por quem ela continua a orar.

Essa postura reflete um compromisso com o diálogo respeitoso e a compaixão, mesmo diante da discordância profunda. Trump respondeu com sua matéria-prima: ódio. Chamou-a de “esquerdista radical”, entre outras coisas. Pintou um alvo em suas costas.

 

O apelo de Mariann Edgar Budde reflete a prática de “agressividade espiritual” que Martin Luther King Jr. defendia. Assim como King usou discursos, reuniões comunitárias e protestos pacíficos para combater a injustiça, Mariann usou sua posição como líder religiosa para desafiar uma retórica política que, segundo ela, prejudica pessoas reais.

A resposta de Budde às críticas, recusando-se a pedir desculpas por clamar por misericórdia, também ressoa com a coragem moral que King identificava como essencial para a não-violência. Ela não recuou diante das pressões ou dos ataques pessoais, mas manteve sua postura de buscar reconciliação sem comprometer seus princípios.

Essa terá de ser a resposta a Trump e esse ciclo de humilhações e agressões que estão apenas começando. O inimigo é grande demais e está armado. Colocar um espelho diante dele, como fez a bispa Mariann, é a melhor maneira de atingi-lo e mostrar sua natureza. Assim morreu a Medusa, assim morrerá o fascismo.

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