Artista morto em alagamento de SP pintava enxurradas e instalou portão-dique em casa

Rodolpho Tamanini começou a pintar com 17 anos e gostava de pintar endereços tradicionais e cotidiano da vida paulistana.
Foto: Divulgação Galeria Jacques Ardies / Estadão

Reconhecido por retratar a dinâmica urbana de São Paulo em suas telas, inclusive a realidade das enchentes, o artista plástico Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, morreu após sua casa em Pinheiros, na zona oeste da capital, ser invadida pela enxurrada gerada pelos fortes temporais da última sexta-feira, 25. Ele residia próximo ao Beco do Batman, ponto turístico que também foi bastante afetado pelas chuvas – as terceiras mais intensas em 64 anos na cidade, segundo reportagem do Estado de S. Paulo.

Apesar de o problema ter se agravado nesse episódio, Tamanini Netto já convivia com inundações há bastante tempo. Conforme relata Jacques Ardies, dono da galeria que representou o artista, “a gente sempre ligava para ele para saber se estava tudo bem, se tinha perdido ou danificado alguma coisa”. O pintor havia instalado recentemente um portão de aço antienchente para tentar conter a água que costumava entrar no imóvel.

“Ele morava em um sobrado, na parte de cima. Então, não costumava ser afetado”, conta Ardies. Porém, vizinhos relataram que Tamanini desceu para verificar o portão durante o temporal: “Foi quando bateu o carro e a água entrou na casa dele. Se ele tivesse ficado na parte de dentro, isso não teria acontecido”, lamentou o amigo.

Obra Anhangabaú, de Rodolpho Tamanini Netto, pintada no ano de 1992. Foto: Divulgação/Rodolpho Tamanini Netto via enciclopedia.itaucultural.org.br / Estadão

O compromisso do artista com a cidade de São Paulo refletia-se em seu trabalho. “O Rodolpho tinha uma conexão muito forte com a cidade, era uma pessoa bastante engajada e informada sobre os problemas de São Paulo. E pintava muito a realidade que vivia também”, destaca Ardies, que sublinha ainda a habilidade de Tamanini em conferir às telas uma estética poética e alegórica. “Só de bater o olho no quadro, nós já sabíamos que era assinado por ele”, acrescenta o galerista.

Tamanini começou a pintar ainda adolescente, aos 17 anos, e chegou a vender suas obras na Praça da República, onde chamou a atenção de outro galerista. Quando aquele espaço fechou, ele passou a ser representado por Ardies, construindo assim uma carreira exclusivamente dedicada à arte. Suas obras foram exibidas em mais de 30 mostras individuais e diversas coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior, com temas que incluíam mar, natureza, periferias e os pontos icônicos da capital paulista.

Ao longo da trajetória, Tamanini Netto recebeu prêmios em salões de arte de Embu, São Bernardo do Campo e Bauru, evidenciando o prestígio de seu trabalho. Nos últimos cinco anos, problemas de saúde o afastaram dos pincéis. Morava sozinho na residência em que cresceu e foi encontrado sem vida no sábado pela manhã. Ele não tinha filhos nem era casado, mas deixa um legado singular, marcado por uma visão única e lírica das paisagens e desafios urbanos da metrópole paulistana.

Conheça as redes sociais do DCM:

⚪️Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo

🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Adicionar aos favoritos o Link permanente.