Mauro Cid não conseguiu se vingar de Michelle. Por Moisés Mendes

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP

O vazamento da primeira delação de Mauro Cid denuncia em quem ele mirava, lá no começo. A delação é de agosto de 2023 e teve depois vários acréscimos, mas vale pelo que foi dito naquele momento.

E naquele agosto, na primeira tentativa de negociar um acordo dedurando os parceiros, Mauro Cid atirou na direção de Michelle e de Eduardo Bolsonaro, citando-os como líderes da ala radical do golpe. Atingi-los era sua prioridade.

Só que não deu certo. Nem Michelle nem Eduardo estão entre os 40 indiciados pelo golpismo, porque a Polícia Federal não encontrou provas contra eles. Foi o que disse o diretor-geral da PF, delegado Andrei Rodrigues, na entrevista ao Roda Viva de segunda-feira.

Nenhum dos citados na primeira delação de Mauro Cid como os que mais defendiam o golpe, atuando entre legalistas e moderados, foi indiciado. Nem Michelle, nem Eduardo, nem os também citados Onyx Lorenzoni, Luis Carlos Heinze e Jorge Seif. Entre outros menos relevantes.

Por que não acharam nada contra eles? Porque já está claro que Bolsonaro e seu entorno familiar não deixam rastros. Esse é o detalhe da argumentação técnica do delegado: sem provas, não há indiciamento.

Mas aí surgem outras questões sempre presentes nessas situações. Será que a Polícia Federal, Paulo Gonet e Alexandre de Moraes conseguiriam lidar com os indiciamentos de Bolsonaro, da mulher e dos filhos dele?

Será que, já com boas provas contra Bolsonaro, em todas as frentes, da muamba das joias ao golpe, passando pela fraude da vacina, já não estariam satisfeitos?

Investigar é também fazer escolhas, examinando cenários que estão mais claros ou mais escuros e investigados mais fortes e mais fracos. Investigar é estabelecer hierarquias, algumas vezes para que, ao invés de tentar pegar três coelhos, seja caçado o maior e mais vistoso.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega/PR

Não há como o cerco a Bolsonaro, com o esperado desfecho da prisão, não enfraquecer Michelle, Eduardo e a família. Apostam no pior que pode virar o melhor os que acham que Bolsonaro preso será o mártir que a extrema direita precisa e que até Michelle pode ganhar com isso.

Bolsonaro pode repetir o que aconteceu com Lula? O que se tem agora é que o vazamento da delação a Elio Gaspari mostra que Mauro Cid errou o primeiro tiro, ao disparar na direção de quem pretendia ver tombar.

Cid poupa Flavio, que seria o moderado da família, trata bem as Forças Armadas amigas de Gaspari e oferece as cabeças de Michelle e de Eduardo, deixando claro que esses são seus desafetos. Ela por transformar o coronel em seu serviçal e depois abandoná-lo. E ele talvez por ser a figura mais arrogante da família.

E agora as últimas perguntas. Se quase tudo que disseram ou pretendiam dizer à PF como delação vazou quase em tempo real para a imprensa, o que levou alguém a entregar o conteúdo da primeira delação de Mauro Cid a um jornalista amigo só agora?

Por que mostrar o dedo do coronel apontado para Michelle e Eduardo, que talvez tenham sido apenas os mais entusiasmados animadores de auditório, sem interferência direta no golpe? Por que só um ano e cinco meses depois?

O provável dano político para Michelle e Eduardo seria a única utilidade do vazamento? Ou Mauro Cid está dizendo que indicou à Polícia Federal todos os radicais do golpe, muito antes de ser obrigado a dedurar Braga Netto, e que nada aconteceu com eles?

Mauro Cid sabia quase tudo. Tanto sabia que as informações mais importantes do que foi apurado sobre os principais indiciados saíram de rastros deixados pelo coronel. Que ainda não conseguiu se vingar de Michelle.

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