Selic a 13,75%: É o fim da renda variável? Como investir em ações, FIIs e renda fixa

Notas de 100 e 50 reais

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou os juros básicos do Brasil em 1% nesta quarta-feira (29), conforme sinalizado na reunião de dezembro. Com isto, a taxa Selic vai a 13,25%, melhorando a rentabilidade de títulos atrelados aos juros e dificultando ainda mais, nessa comparação, a situação dos ativos de renda variável. 

Este foi apenas o primeiro ajuste do ano. O Copom deve promover pelo menos mais uma alta da mesma magnitude em março, segundo orientação da autarquia. O Comitê deixou em aberto sua decisão para os meses seguintes.

Com isso, especialistas indicam mudanças na carteira de investimentos para focar no melhor retorno possível diante do atual ciclo de altas. A renda variável, que tem ações e fundos imobiliários (FIIs), perde atratividade no curto prazo, mas analistas se mostram otimistas ao focar nos preços atuais para investimentos longos. Já os títulos públicos e privados de renda fixa oferecem alta rentabilidade e seletividade é a palavra-chave. 

 “Ações e fundos imobiliários tendem a sofrer com o aumento, mas a gente tem uma visão de que, ao mesmo tempo que a renda fixa oferece bons frutos e boa rentabilidade, também tem coisa muito boa na Bolsa que vai ficar descontada, vai abrir oportunidade e é hora de comprar”, diz Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital. 

Confira o que os especialistas recomendam em renda fixa, ações, fundos imobiliários e investimentos no exterior após mais uma alta da Selic:

Títulos públicos

O bom e velho Tesouro Selic vai render ainda mais. A perspectiva de mais elevações dos juros, para além de 15% ao ano, também ajuda o título a ser amplamente recomendado por analistas ouvidos pelo InfoMoney. Rafael Bellas, coordenador de produtos da InvestSmart, diz que o ativo é “ideal para quem busca segurança e quer aproveitar a alta dos juros para aumentar os retornos”. 

Os papéis do Tesouro IPCA+, que pagam juro real entre 7,50% e 7,84% ao ano, também são citados como alternativas interessantes. Mas, assim como os prefixados – considerados mais arriscados –, dependem da economia real nos próximos meses. Se houver piora da economia e aumento da percepção de risco fiscal, os papéis com remuneração integral ou parcialmente fixa não são boas escolhas. 

Ricardo Nunes, CIO de crédito da Paramis Capital, diz que a casa prefere a segurança dos pós-fixados “por não ter convicção de que o pior já passou para os ativos prefixados e indexados à inflação”. 

Crédito privado

Após compressão em 2024, os spreads (prêmios em relação aos títulos públicos) do crédito privado abriram cerca de 50 pontos-base em dezembro. “Um movimento justificado, já que os fundamentos (das empresas) e o cenário macroeconômico pioraram”, diz Nunes. Para ele, os prêmios maiores valem o investimento em debêntures e outros instrumentos. 

O CIO de crédito da Paramis recomenda evitar empresas com dívidas altas e que vencem no curto prazo. A preferência é por  papéis emitidos por companhias de infraestrutura, que tendem a ter contratos com receita reajustada pela inflação e, portanto, são mais resilientes ao IPCA alto. 

Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, ainda destaca os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) como um instrumento “altamente recomendado para exposição ao crédito privado”, por oferecer spreads mais altos e riscos mitigados pela diversificação e estrutura de proteção ao crédito. A classe foi uma das vencedoras em crescimento e captação no ano passado

Ações  

Na Bolsa, nem tudo está perdido, mas o momento é, sim, de preocupação. “O aumento da Selic tem potencial de impactar negativamente as ações, já que o custo de crédito aumenta, o consumo diminui e há redução no investimento das empresas”, pondera Gustavo Harada, gestor de renda variável da Blackbird. 

Porém, olhando o copo meio cheio, Max Bohm, estrategista de ações da Nomos, diz que a Bolsa pode subir mesmo com a Selic indo a 15%, já que são as expectativas de juros que mexem nos preços. “O momento de investir em ações é agora, tendo em vista o valuation atrativo. Qualquer melhora marginal no ambiente macro pode destravar a Bolsa”, diz. 

Especialistas citam bancos, elétricas, seguradoras, saneamento, commodities, telecomunicações e algumas exportadoras como segmentos defensivos para o momento atual. “Setores e empresas consolidadas, com potencial para ganho de market share, facilidade de repasse de preços, baixa alavancagem e bons pagamentos de dividendos, continuam atraentes”, segundo Leonardo Monoli, diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management. BB Seguridade (BBSE3), Caixa Seguridade (CXSE3), Itaú (ITUB4), Sabesp (SBSP3), Equatorial (EQTL3), JBS (JBSS3) e Petrobras (PETR4) são algumas das ações destacadas pelos analistas.

Fundos imobiliários

Para quem olhar só para o valor das cotas, no primeiro momento após o ajuste da Selic, os especialistas esperam depreciação, mas a “desvalorização pode gerar boas oportunidades de compra, com foco no longo prazo”, diz o planejador financeiro Jeff Patzlaff.  Mas isso na leitura superficial das negociações em Bolsa, porque os fundamentos contam outra história. 

Isabela de Almeida, analista da Rio Bravo Investimentos, afirma que os fundos devem continuar apresentando bons resultados operacionais, que refletem os dividendos que são distribuídos aos cotistas mensalmente. O dividend yield médio do Ifix era de 12,5% em janeiro, muito próximo do valor da Selic antes do aumento desta quarta-feira, com o detalhe de ser isento de Imposto de Renda.

Mas há riscos. O aumento do custo de crédito reduz a demanda por imóveis comerciais e residenciais, dificultando a comercialização e o aluguel.  Os especialistas indicam uma seleção criteriosa e diversificada, priorizando fundos sólidos e bem geridos. Os fundos de papel, com títulos indexados aos juros e inflação, devem se sair melhor, enquanto os fundos de tijolos, que demoram mais para repassar preços, devem ser mais penalizados – porém apresentam mais descontos e perspectiva para o longo prazo. 

Fundos de investimento 

A prioridade por renda fixa também se apresenta nas indicações dos fundos de investimento. Volnei Eyng, CEO da Gestora Multiplike, afirma que no curto prazo, priorizar ativos pós-fixados, como títulos públicos e privados atrelados ao CDI ou à Selic, garante proteção contra a volatilidade e é a melhor solução para investidores mais conservadores. 

Para quem tem mais apetite a risco, a indicação são fundos de crédito com uma proposta de spreads maiores, indexados ao CDI, principalmente. Segundo ele, os gestores “têm maior poder de negociação para adquirir títulos privados ou estruturados que muitas vezes não estão disponíveis para investidores individuais”, o que permite capturar mais retorno. 

O CEO indica que o investidor seja seletivo e considere métricas importantes na sua escolha, como convexidade, para entender como o preço dos títulos responde a variações maiores nas taxas; índice sharpe, para avaliar a relação entre risco e retorno; e rating de crédito, para garantir a segurança do portfólio em crédito privado.

Exterior

Mesmo com os juros maiores no Brasil, a recomendação dos especialistas de diversificação em dólar se mantém: “investimentos em moeda forte, rendendo 4-5% ao ano, são extremamente interessantes”, diz o planejador Jeff Patzlaff. Para ele, a exposição a outra economia mitiga riscos específicos do país, como instabilidades políticas ou econômicas. 

“Equilibrar a exposição doméstica com ativos globais é uma otimização dos resultados financeiros”, diz Mariana Conegero, sócia da The Hill Capital. A especialista cita teses que não estão disponíveis na economia local, como IA generativa e computação em nuvem. Commodities da transição energética, como lítio e cobre, também são opções que Conegero considera relevantes e potenciais. 

Tesouro americano e crédito corporativo também são opções de renda fixa recomendadas, seja via investimento direto ou ETFs. “Oferecem retorno atrativo e segurança. Além disso, em um cenário de possível corte de juros, esses ativos podem se valorizar e tem ótima liquidez para negociação”.

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