Gay, pró-deportação, neta de nazista: Alice Weidel, a cara da ultradireita em ascensão na Alemanha

Alice Weidel, líder do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) – Foto: Reprodução

Analistas indicam que a eleição geral na Alemanha neste domingo (23/2) pode consolidar o partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD) como a segunda maior força política do país, conquistando um resultado histórico no Parlamento alemão.

Nos últimos dez anos, a AfD tem sido um dos partidos com maior crescimento no eleitorado alemão. Pesquisas sugerem que pode alcançar 20% dos votos e dobrar sua representação parlamentar.

Alice Weidel, líder da AfD, conquistou popularidade entre jovens eleitores, especialmente homens, no TikTok. Apesar de suas chances reduzidas de se tornar chanceler nesta eleição, o partido tem como meta chegar ao poder nos próximos quatro anos.

A plataforma da AfD inclui propostas como a saída da União Europeia, a substituição do euro pelo marco alemão, o restabelecimento de relações com a Rússia, o desmonte de usinas eólicas e uma política de “remigração”, que prevê a deportação de cidadãos alemães com base em sua etnia.

Desde sua fundação há 12 anos, a AfD tem sido um fator de tensão no cenário político alemão, provocando grandes manifestações, tanto de apoio quanto de rejeição. Em 2023, um escândalo gerou um debate nacional sobre a possibilidade de banir o partido da política. Atualmente, em dois Estados alemães, a legenda é classificada como “extremista” e monitorada pelos serviços de inteligência do país. Até mesmo partidos da direita radical europeia se distanciaram da AfD, excluindo-a de um grupo pan-europeu.

Críticos apontam ligações da AfD com ideologias neonazistas. Em comícios, Weidel é recebida por cartazes com a frase “Alice für Deutschland”, semelhante ao slogan nazista “Alles für Deutschland”.

O pleito ocorre após uma crise política no final de 2024, que resultou em um voto de não-confiança no chanceler Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD). Nas pesquisas, o SPD aparece em terceiro lugar com 16% das intenções de voto, atrás da AfD (20%) e da coalizão conservadora União Democrata-Cristã (CDU) e União Social-Cristã (CSU), que lidera com cerca de 30%. Caso os números se confirmem, Friedrich Merz, da CDU, deverá ser o novo chanceler alemão.

A Alemanha, maior economia da Europa, enfrenta desafios como recessão, atentados recentes, aumento dos preços da energia, perda de competitividade para China e EUA e um fluxo crescente de imigrantes.

Weidel: Conservadora e Lésbica

Alice Weidel, de 46 anos, é ex-analista de investimentos e trabalhou no Credit Suisse e Goldman Sachs. Criada em uma família católica de classe média na Renânia do Norte-Vestfália, tem um histórico familiar controverso: seu avô foi membro do partido nazista e juiz militar na Polônia ocupada.

Hans Weidel era um proeminente juiz nazista, nomeado diretamente por Adolf Hitler – Foto: Reprodução

Weidel viveu na China, onde fez doutorado em economia e estudou o sistema previdenciário do país. Fluente em mandarim, já declarou admiração por Margaret Thatcher.

Apesar da postura conservadora da AfD, que defende um modelo de família tradicional, Weidel é lésbica e cria dois filhos com sua esposa, Sarah Bossard, uma produtora de cinema de origem cingalesa e cidadania suíça. A família passa grande parte do tempo na Suíça, alegando ameaças na Alemanha.

Críticos apontam contradições entre sua vida pessoal e a agenda política da AfD, que inclui deportação de cidadãos alemães com base na etnia. No entanto, Weidel evita discutir sua vida privada.

Analistas atribuem a ela a radicalização recente da AfD. Durante a campanha, o partido defendeu o fechamento das fronteiras, a retomada da compra de gás da Rússia e o desmantelamento da União Europeia. A plataforma inclui a saída do Acordo de Paris e o abandono do euro. Weidel também adotou o termo “remigração”, que prevê a deportação de cidadãos “não assimilados”, ou seja, aqueles com origens não alemãs.

Na reta final da campanha, Weidel afirmou que, se eleita, daria um cargo de destaque a Björn Höcke, um dos políticos mais radicais da AfD. Höcke foi multado duas vezes por usar o slogan nazista “Alles für Deutschland” e alegou desconhecer suas origens, apesar de ter sido professor de história.

Björn Höcke, um dos membros mais radicais da AfD – Foto: Reprodução

Apoio Internacional e Controvérsias

A AfD ganhou aliados importantes nos EUA após a volta de Donald Trump à presidência. Poucos dias antes da eleição, o vice-presidente americano JD Vance se reuniu com Weidel após a Conferência de Segurança de Munique. O discurso de Vance, que criticou a política europeia de imigração, ressoou com a retórica da AfD.

Outro aliado inesperado foi Elon Musk, que declarou apoio à AfD em comícios e promoveu uma live de 74 minutos com Weidel na plataforma X. Durante a conversa, Weidel tentou distanciar a AfD de Adolf Hitler, alegando que ele era “de esquerda”, um “comunista antissemita” e “socialista” — uma afirmação historicamente imprecisa.

A Ascensão e Radicalização da AfD

Criada em 2013 como um partido eurocético, a AfD inicialmente defendia posições mais moderadas. Seu grande impulso veio em 2015, quando questionou legalmente a decisão de Angela Merkel de aceitar 1,3 milhão de refugiados. Desde então, a imigração se tornou seu principal tema.

Internamente, o partido passou por disputas entre alas moderadas e radicais. Em 2015, seu fundador, Bernd Lucke, abandonou a sigla, alegando que ela havia se tornado “xenófoba”.

Escândalos e Monitoramento

Em 2024, um tribunal alemão classificou a AfD como “suspeita de extremismo”, permitindo que o serviço de inteligência monitore suas atividades. O partido também foi expulso do grupo europeu Identidade e Democracia, devido a declarações de Maximilian Krah, candidato da AfD ao Parlamento Europeu, que relativizou os crimes da SS nazista.

Outro escândalo envolveu uma reunião de políticos da AfD com extremistas de direita para discutir a “remigração”. O caso gerou protestos massivos e um debate sobre a legalidade do partido.

Apesar das polêmicas, a AfD continua a crescer. O que resta saber é como os demais partidos lidarão com sua ascensão. No Parlamento Europeu, a CDU já quebrou o “cordão sanitário” ao aceitar votos da AfD para aprovar políticas anti-imigração, gerando críticas da ex-chanceler Angela Merkel.

Friedrich Merz, provável novo chanceler, justificou a decisão afirmando que “uma política não está errada só porque as pessoas erradas a apoiam”. O futuro político da Alemanha agora depende de como essa relação com a AfD se desenrolará nos próximos anos.

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