B3: Empresas ainda querem fazer IPO, mas seca de ofertas não deve acabar em 2025

B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

A maior seca de ofertas públicas de ações (IPO, na sigla em inglês) da Bolsa brasileira completará quatro anos daqui a alguns meses. E na B3 (B3SA3) há pouco otimismo sobre uma retomada dessas operações no curto prazo. Ainda que no exterior essas ofertas tenham “desempacado”, aqui no Brasil dificilmente a tendência será revertida enquanto não houver sinal de que os juros vão cair. As companhias, no entanto, não desistiram da ideia de uma listagem, afirma o CEO da administradora da Bolsa.

“Continuo vendo empresas trabalhando suas agendas para se tornarem companhias abertas”, disse Gilson Finkelsztain, durante almoço com jornalistas nesta sexta-feira (7) em São Paulo. “O fato de estarmos vivendo um momento global, de política monetária mais apertada, diminuiu o volume de IPOs no mundo todo, não foi um efeito só no Brasil”.

Com um início de um processo de retomada de ofertas no exterior, Finkelsztain acredita que, naturalmente, as empresas brasileiras voltam a se inserir nessa discussão. “Este ano, porém, é mais difícil ficar otimista para uma reversão de tendência de emissões de ações”.

Gilson Finkelsztain, CEO da B3 (Foto: Alan Santos/PR)

A virada de chave, segundo ele, vai depender principalmente dos efeitos da política monetária do Banco Central, com a inflação sendo trazida para mais próximo da meta e a curva de juros ficando mais flat ou até inclinada negativamente.

“Eu não sei quando isso vai acontecer. Obviamente, é difícil prever. Falta uma mensagem forte de ajuste fiscal para que a gente possa ter esse cenário se materializando”, diz o CEO da B3. Finkelsztain acredita que o novo ciclo de IPOs de companhias brasileiras vai ser puxado por empresas mais maduras e de setores tradicionais, como saneamento, energia, serviços e finanças.

“Não acho que os juros precisam chegar a 10%, 9% para haver uma retomada de ofertas no mercado de ações. Basta uma sinalização de que a política monetária vai reverter tendência no médio e longo prazo para as conversas serem retomadas. Isso também é um gatilho para o investidor estrangeiro, que já percebe que o Brasil está barato, mas tem incertezas”.

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O executivo nega que exista uma fuga de investidor pessoa física na Bolsa e alega que o número de CPFs vem se mantendo estável. “As pessoas estão mantendo suas posições em ações, trabalhando às vezes com produtos mais sofisticados, como opções, para reduzir o custo de aquisição”, disse.

Na visão do CEO da B3, os preços do mercado refletem, sim, uma desconfiança sobre a sustentabilidade fiscal do Brasil no curto prazo, mas não chega a ser uma crise com risco de insolvência, como algumas que ocorreram no passado.

“Acho que hoje não há absolutamente nenhum risco de insolvência no curto prazo”, disse Finkelsztain. “Temos um país que cresce, mas em que há uma desconfiança geral sobre a responsabilidade fiscal [do governo] e a sustentabilidade da dívida”.

Sobre isso, o CEO disse que a equipe econômica do governo não pode se contentar somente em fechar a conta de cada ano com várias despesas fora do arcabouço fiscal e arrecadações extraordinárias. É preciso tomar medidas permanentes de diminuição de gastos, “cortar na carne”, afirma Finkelsztain.

O executivo partilha da avaliação da maior parte do mercado, de que o valuation das empresas brasileiras, sobretudo no mercado de ações, estão muito abaixo do que deveriam. “Ouvi de investidores que se uma empresa brasileira tivesse CEP na Índia, estaria negociando três vezes o preço de hoje”, deu como exemplo.

O CEO diz que mesmo com os juros em patamar elevado, o mercado de capitais “definitivamente não está parado”. Pelo contrário, ele se tornou a principal fonte de financiamento de empresas hoje no Brasil, afirmou Finkelsztain, com mais de R$ 600 bilhões de produtos de dívida emitidos no ano passado.

“Hoje, a primeira fonte de financiamento [das empresas] é o mercado de capitais – e estou falando de uma forma ampla, não de apenas um segmento em específico”, explicou.

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