Como a extrema direita consegue escapar sempre. Por Moisés Mendes

O presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Jose Luis Magana/Associated Press

O plano de Javier Milei com os vigaristas da criptomoeda só não deu certo porque alguns comparsas foram gananciosos. O fascista combinou com a quadrilha que a $Libra seria lançada pouco antes das 19h de sexta-feira.

Três minutos depois da criação da moeda, largou o tuíte anunciando a novidade que iria fortalecer as microempresas argentinas. Tuitou exatamente às 19h01min. Aos 38 minutos de sábado, apagou a postagem. Toda essa sequência está provada.

Mas é óbvio que Milei e seus cúmplices não achavam que ficariam ricos em cinco horas. É evidente que não foi isso o planejado. Milei já era um farsante, mas ainda não era um idiota.

O que eles planejaram é que a moeda seria lançada, amigos avisados ganhariam muito dinheiro, mas a vida seguiria em frente, com ganhadores e perdedores. Seria mais uma criptomoeda.

Mas aconteceu o imprevisto. Um grupo logrou o resto da gangue, apoderou-se de tudo na arrancada, desfrutou da inflação de ganhos com a propaganda de Milei, se desfez do que tinha depois de arrecadar milhões e saltou fora.

Os compradores que levaram Milei a sério ficaram com os tomates podres. A moeda, mesmo que programada nesses casos para ter vida curta, foi pulverizada muito antes do tempo.

Milei e seus parceiros foram traídos por parte da gangue. O que acaba por revelar que o economista genial, que iria tirar a Argentina da crise, tem agora alvará de imbecil.

Um gênio que conversa com cachorros mortos foi logrado pela própria quadrilha que ajudou a criar e com qual ele e a irmã-secretária Karina conversavam desde outubro.

Os gananciosos podem levar Milei para a forca. Mas será que levarão mesmo? Será que a Argentina será capaz de se livrar de Milei, não por incompetência como presidente, mas por ser um vigarista desastrado?

A explicação que ele deu para o tuíte em que fez propaganda da criptomoeda é dirigido a idiotas: “Não promovi, só difundi”. Disse que joga quem quer. E alegou que tuitou a propaganda da $Libra como economista, não como presidente.

Passamos agora à etapa dos danos, e uma pergunta não tem resposta simples. Essa é a pergunta: depois disso tudo, é possível que Milei sobreviva à tentativa de cerco de uma oposição sem força e de parte uma população ainda anestesiada?

A Argentina dependerá de um Judiciário inconfiável para levar o escândalo adiante, como aconteceu no Brasil com o bolsonarismo golpista, mesmo que aos trancos e barrancos?

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Se a resposta depender do peso dos valores éticos e morais, Milei pode sobreviver. Como Bolsonaro sobreviveu no Brasil no período de maior crise moral já vivida pelo país desde a ditadura.

Cada um pode fazer a sua versão da manjada frase de James Carville, o marqueteiro de Clinton. A versão atual é esta: o povo não quer mais saber de questões morais, estúpido.

Se Milei conseguir o milagre de seguir em frente, acenando com a perspectiva de que está destruindo tudo para refazer a Argentina, é possível que sobreviva, mesmo que como gângster, até o final do mandato.

Porque dirão que logrou ‘apenas’ 40 mil pessoas, e a maioria é de não argentinos. E porque percepções do certo e do errado sob o ponto de vista dos valores éticos não têm mais o sentido que já tiveram em tempos distantes. Vale para argentinos, americanos, italianos, brasileiros e ucranianos. Trump é a prova mais recente.

Bolsonaro, o coveiro da pandemia, que negou vacina e contribuiu para a morte de milhares de brasileiros, está vivo até hoje, solto, impune e fazendo ativismo político contra o Supremo.

Milei, o quadrilheiro da criptomoeda, pode se safar, se a percepção de dano que prevalecer, para a maioria da população, for apenas a pretensamente ‘moral’.

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

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