Quase 90% dos reajustes salariais negociados em janeiro ainda estão acima da inflação

Em janeiro, 88,2% dos 372 reajustes salariais analisados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) alcançaram ganhos acima da inflação, na comparação com a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula o custo de vida dos consumidores.

Esta foi a segunda marca mais alta observada nos últimos 12 meses, ficando atrás apenas da registrada em maio de 2024.

Outros 6,7% dos reajustes ficaram iguais à inflação e apenas 5,1%, abaixo dela, conforme dados do último relatório de negociações do Dieese.

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Os resultados obtidos em janeiro revelam também uma mudança no quadro observado no último trimestre de 2024, quando os aumentos reais estiveram presentes em cerca de três quartos das negociações. Segundo o Dieese, o resultado pode ser efeito da correção do valor do salário-mínimo naquele mês, que resultou em ganho de 2,61% acima da variação do INPC.

Cerca de 37% dos reajustes de janeiro resultaram em ganhos entre 2% e 3% acima da inflação, faixa na qual se encontra a variação o salário-mínimo. Do total de reajustes feitos em janeiro, cerca de 80% são de categorias do setor de serviços, em especial do turismo e hospitalidade, que costumam receber salários com valores próximos ao do mínimo.

Segundo a diretora técnica adjunta do Dieese, Patrícia Pelatieri, as negociações coletivas refletem a melhoria do cenário econômico como um todo, com todos os indicadores de 2024, como PIB, emprego e crescimento de vários setores, ficando muito acima da expectativa.

“Isso se reflete diretamente nas negociações coletivas, especialmente com o mercado de trabalho aquecido”, explica a economista.

E a inflação?

Mas isso não vai continuar a pressionar a inflação. Patrícia diz não acreditar nisso. “As negociações são feitas na data-base e, quando entram em vigor, já estão defasadas novamente. Apesar de melhorar a renda e a circulação da economia, ainda está longe de pressionar a taxa de inflação”, defende.

Já para o economista Adenauer Rockenmeyer, delegado do Corecon-SP e coordenador do Fórum de Agronegócios e Agricultura Familiar, o aumento do salário mínimo para R$1.580,00 e os reajustes obtidos pelos sindicatos acima da inflação, conforme relatado pelo Dieese, representam um aumento de renda importante.

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“Com isso, o consumo deve se manter aquecido, refletindo tanto na arrecadação como na inflação. Por um lado ajuda a equalizar as contas públicas, mas também pressiona os preços na economia, o que pode acabar reduzindo o poder de compra do trabalhador lá na frente”, explica.

Rockenmeyer lembra ainda que o aumento de salários também acaba por pressionar os custos operacionais das empresas, principalmente em setores que contratam mão de obra com ganhos de até um salário.

Com isso, os empresários precisarão repassar o aumento para os preços de seus produtos para manter as operações, contribuindo com o cenário pressão inflacionária. “Só o tempo dirá que tipo de equilíbrio teremos no sistema econômico entre o aumento do poder de compra e os reajustes de preços.”, disse.

Setores favorecidos

Setores como o agro e a indústria também foram beneficiados pelo expansão dos preços das commodites agrícolas e do aumento do dólar, como soja e carne, que elevaram as exportações. “Tudo isso, claro que torna o ambiente mais favorável para negociações salariais, porque no momento da negociação é a economia real que vai para a mesa, não aquela que está no Boletim Focus, que lida com projeções”, observa Patrícia.

Mesmo assim, a economista acredita que, ao continuar a política de restrição econômica, com juros altos, a economia deve sim começar a ser afetada até 2026.

Segundo o Dieese, o reajuste necessário em janeiro para repor o poder aquisitivo da data-base anterior (de janeiro 2024) foi de 4,77%, algo ligeiramente inferior ao observado em dezembro de 2024. Esse resultado interrompe a escalada do valor, observada desde outubro de 2024.

Para fevereiro de 2025, o valor do reajuste necessário é ainda menor do que o de janeiro (4,17%), o que pode facilitar as negociações coletivas desta data-base. Como em dezembro de 2024, não foram observados quaisquer reajustes parcelados em janeiro de 2025.

No período de 12 meses, o maior percentual de reajustes parcelados foi registrado em agosto de 2024, quando 3% foram pagos em duas ou mais parcelas.

Em janeiro, o pagamento de reajustes escalonados (aqueles pagos em percentuais diferentes segundo faixa salarial ou tamanho de empresa) foi registrado em 14,2% dos casos analisados. O percentual representa um segundo recuo sucessivo no indicador após o pico observado em novembro de 2024 (30,6%).

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