Mudança de CEO na Tupy gera divisões entre investidores e preocupa mercado

Rafael Lucchesi

A Tupy (TUPY3), uma das maiores metalúrgicas do Brasil, está no centro de uma polêmica envolvendo sua governança, acionistas e até o governo federal. A troca de comando da empresa, atualmente nas mãos do CEO Fernando Rizzo, para a vinda de Rafael Lucchesi, anunciada recentemente, gerou uma onda de descontentamento entre os investidores minoritários e levantou questões sobre a influência política na gestão da companhia. A decisão sobre a nova gestão foi formalizada pela empresa na última quinta-feira (27), após reunião do conselho de administração da companhia.

Rizzo ficará no cargo até 30 de abril, com Lucchesi iniciando o seu mandato no dia 1 de maio.

Segundo informações do Valor Econômico, confirmadas pelo InfoMoney, a empresa catarinense, que se destaca na produção de autopeças e fundição de blocos e cabeçotes, teve a estrutura da chefia modificada após sugestão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do fundo de pensão do Banco do Brasil (Previ), ou seja, trata-se de uma decisão tomada pelos acionistas majoritários da empresa, que detêm 53% da companhia.

Lucchesi, que atualmente é diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e presidente do conselho de administração do BNDES, foi considerado para o cargo, embora, segundo fontes, não possua experiência anterior como executivo-chefe de uma grande empresa.

Ainda que o BNDES e a Previ justifiquem a escolha com base no que chamam de “perfil técnico” necessário para o cargo, muitos investidores, como os representantes da 4UM Investimentos, Organon Capital, Charles River e Real Investor, não veem a mudança com bons olhos, conforme afirmaram ao Brazil Journal em reportagem publicada na segunda-feira (24).

Esses minoritários, que detêm cerca de 10% das ações da Tupy, consideram a substituição como uma decisão política, sem justificativas claras sobre a necessidade de mudança no comando da empresa. Para Camilo Marcantonio, sócio da Charles River, a indicação de Lucchesi, que não possui um histórico de gestão empresarial, surpreende negativamente os investidores.

Mas Werner Roger, sócio da Trígono, por outro lado, diz que a saída de Rizzo e a possível entrada de um novo nome para a liderança da empresa fazem parte de um movimento esperado dentro do ciclo de renovação de mandatos da Tupy. Ele explica que, conforme o estatuto da companhia, a troca na diretoria ocorre dentro de prazos regulares, e a decisão do BNDES, acionista relevante, sobre o novo nome para o cargo de CEO ainda precisa ser validada pelo conselho de administração.

Roger também afirma que a mudança de liderança, por si só, não deve alterar a estrutura ou o valor da empresa. “Agora, muda alguma coisa na companhia? Muda alguma coisa no valor da companhia? Na minha opinião, não muda nada. Você tem lá todas as diretorias. Você tem lá os vice-presidentes. Você tem lá nove conselheiros. E o CEO, ele se submete ao conselho. Quem toma a decisão é o conselho, não é o CEO. Então, existe toda uma governança, que é baseada nos nove membros do conselho de administração”, diz.

Apesar da especulação sobre o assunto, Roger se abstém de opinar sobre a escolha do novo executivo, uma vez que, conforme ele, a decisão do BNDES está fundamentada em critérios internos aos quais ele não tem acesso. Ele ressalta que as críticas que surgiram sobre a mudança não são pertinentes, visto que os movimentos dentro da companhia estão em conformidade com as regras estabelecidas.

Roger também observa que as mudanças de liderança em grandes corporações, como a Tupy, são comuns e que é o próprio Conselho de Administração que tomará as decisões finais sobre o futuro da companhia. Com o processo ainda em andamento, ele sugere que a expectativa deve ser de continuidade, já que as estruturas de governança se mantêm intactas. O que resta, segundo ele, é aguardar as próximas etapas que serão divulgadas pela empresa.

Cabe ressaltar que, em junho de 2023, a BB Asset anunciou a compra de uma fatia minoritária da Trígono Capital. A aquisição gerou questionamentos no mercado sobre a independência da gestora de ações, mas, desde o anúncio, Roger refuta qualquer influência da operação em suas análises. Ele afirma que sua visão segue baseada nos fundamentos da companhia e nas regras de governança que estruturam a tomada de decisão.

Critérios

Marcos Pavarini, sócio da Biguá Capital, manifestou sua preocupação com a escolha de Lucchesi para o cargo de CEO da empresa. Ao InfoMoney, ele questiona os critérios adotados pelos acionistas controladores para a indicação e se houve uma análise detalhada de outros candidatos para a posição. Pavarini observa que, para os acionistas minoritários, a principal dúvida gira em torno da razão pela qual a troca do CEO foi sugerida, especialmente considerando a experiência sólida do atual líder da companhia.

Segundo Pavarini, Rizzo possui um vasto conhecimento do setor e parece ser o profissional mais adequado para conduzir a empresa nas mudanças que está atravessando, incluindo a expansão para novos mercados e áreas de atuação. Ele também diz que, mesmo para um executivo com grande bagagem, a tarefa de liderar uma transformação dessa magnitude não seria simples.

Porém, o que chama a atenção é o fato de Lucchesi, de acordo com as informações divulgadas, não ter experiência anterior em funções de liderança em grandes empresas, o que torna difícil prever como ele poderá influenciar na direção estratégica e nos resultados da Tupy.

Embora a escolha do novo CEO seja uma prerrogativa dos acionistas controladores, Pavarini argumenta que a verdadeira questão reside no perfil profissional do indicado. “Nesse critério, a governança sai enfraquecida, mesmo que o processo esteja seguindo as normas e o regulamento da empresa. Tanta incerteza leva os investidores a se desfazerem de posições. Os minoritários devem se mobilizar e expressar a insatisfação com a indicação, mesmo que tenham poucas chances de mudar a decisão do conselho”, diz.

Insatisfação

A insatisfação com a troca de comando não se limita aos investidores minoritários. “Embora vemos com bons olhos a experiência do Sr. Lucchesi no setor industrial, notamos preocupações razoáveis devido à sua falta de proximidade com as operações diárias da Tupy, levantando questões sobre uma potencial influência política na empresa – uma reação que ouvimos de vários investidores”, disse a XP Investimentos em relatório publicado no dia 18 deste mês.

A preocupação citada pelos analistas veio à tona após a ação da Tupy cair 7% no dia da divulgação da notícia e seguir em queda nos dias seguintes. Em linha, no mês atual, caem 12,23%; enquanto, nos últimos 12 meses, desabam 31,41%, segundo dados do Ibovespa.

A empresa, que tem sido reconhecida por sua expansão e inovação sob a liderança de Rizzo, vive um momento de transição que preocupa o mercado. Sob a gestão de Rizzo, a Tupy se consolidou no setor de fundição e deu passos importantes para a internacionalização e inovação, incluindo a compra da MWM, um negócio que posicionou a empresa como protagonista na descarbonização e na transformação de resíduos em biocombustíveis. A questão que se coloca agora é se a empresa continuará nesse caminho com a possível chegada de Lucchesi à presidência.

Além da divergência entre os acionistas, há também uma preocupação sobre a ingerência do governo nas decisões da Tupy. O conselho da companhia conta com três ministros do governo Lula: Anielle Franco (Igualdade Racial), Carlos Lupi (Previdência) e Vinicius de Carvalho (Controladoria Geral da União), todos indicados por entidades ligadas ao BNDES.

A presença desses ministros no conselho gera, nos últimos anos, uma série de incômodos sobre a autonomia da gestão da empresa, especialmente em um momento delicado, em que o Brasil atravessa uma série de desafios econômicos e políticos.

Em 2023, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu um processo para investigar a nomeação dos ministros para o conselho, devido à falta de consulta prévia sobre conflitos de interesse. A Previ também tem sido criticada por flexibilizar suas regras de indicação, o que, segundo analistas, facilita a escolha de nomes sem a experiência necessária para cargos executivos.

Segundo o Brazil Journal, o grupo de minoritários da Tupy está preparando uma resposta para a decisão de troca de comando.

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