Folha diz que Bolsonaro fez “observações sensatas” ao admitir que tentou golpe

Jair Bolsonaro (PL) durante entrevista à Folha, em Brasília (DF) – Pedro Ladeira – 28.mar.25/Folhapress

Em editorial publicado neste domingo (30), a Folha de S.Paulo afirmou que Jair Bolsonaro fez “observações sensatas” ao admitir, em entrevista ao jornal, que discutiu alternativas para reverter o resultado da eleição de 2022. Réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente reconheceu que cogitou medidas como estado de sítio, estado de defesa e o artigo 142 da Constituição, mas alegou que tais opções foram descartadas por falta de apoio institucional:

(…) Longe dos palanques e ciente da gravidade das acusações que terá de enfrentar, o ex-presidente da República busca a moderação ao apresentar sua versão para os fatos. Ainda assim, suas palavras estão longe de descrever uma situação de normalidade”, analisou a Folha. Durante sua entrevista ao veículo, Bolsonaro disse “Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção”, sobre possibilidades de impedir que se consumasse o resultado da eleição presidencial.

“Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção”, é o relato de Bolsonaro para nada menos que discussões internas sobre possibilidades de impedir que se consumasse o resultado da eleição presidencial.

Ele argumenta que todas as opções consideradas estão previstas na Constituição de 1988 —o que é verdade, mas para situações excepcionais de grave perturbação da ordem. E não havia, durante e após a disputa de 2022, perturbação que não fosse insuflada pelo próprio bolsonarismo. (…)

Não havia nem haverá um mísero indício a sustentar a teoria conspiratória. Foi com base nela, entretanto, que Bolsonaro se recusou a aceitar publicamente sua derrota eleitoral e manteve suas falanges mobilizadas em frente de quartéis pelo Brasil, até a infame invasão das sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Esse contexto obviamente não será ignorado no julgamento do ex-presidente, que não arreda pé de seu discurso contra a condução e o resultado do pleito. Depoimentos atestam ainda que os planos para um regime de exceção não foram adiante, em primeiro lugar, por causa da negativa do então comandante do Exército, general Freire Gomes.

É nesse ponto que Bolsonaro, conscientemente ou não, faz observações sensatas. “Para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está a imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O “after day” [sic, dia seguinte], como é que fica? Então, foi descartado logo de cara.” (…)

A declaração de Bolsonaro não deixa de ser um reconhecimento explícito, embora tardio, do vigor democrático.

Conheça as redes sociais do DCM:
⚪Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line

Adicionar aos favoritos o Link permanente.